4° "Monstros"

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Chaeyoung on

--Eu não acredito... - disse a estranha a minha frente, eu peguei meu caderno e me afastei um pouco mais, num sei quem ela é, nem o que quer – ah desculpe, eu não queria te assustar.

--Você não fez um bom trabalho... - falei.

--Você sabe falar? - a olhei com cara de: óbvio - certo, desculpe novamente por te assustar, mas... Foi você quem parou um carro ontem a noite?

--Porque acha que foi eu? - perguntei desconfiada.

--Porque você tem essas orelhas ai – ela apontou pra minhas orelhas e eu logo as escondi com meu capuz – e porque era eu dentro daquele carro – eu salvei essa mulher ai? Agora que reparei melhor... É ela mesmo, eu não esqueceria aquele rosto – eu vim te procurar pra provar pra mim mesma e para minhas amigas que eu não estava louca e realmente vi o que vi.

--Suas amigas te acharam louca? - perguntei e ela concordou – eu também te acharia assim.

--Pois é, parando pra pensar é realmente algo em que eu não acreditaria – ela sorriu.

--Eu não acredito que você veio no meio da floresta sozinha atrás de um ser que nem sabe que existe, você parece burra e não louca – falei na lata mesmo e ela pareceu se dar conta do risco que pode estar correndo.

  Voltei a folear meu caderno pra desgrudar as folhas e colocar meus desenhos pra secar, quando um deles voou e parou no rio, eu tentei pega-lo, mas ele foi pela correnteza bem na direção da estranha que entrou na água e pegou o papel.

--Foi por pouco - disse ela saindo da água - aqui - estendeu o papel pra mim e eu peguei com cuidado pra não rasgar.

--Obrigada - falei.

--De nada, mas... Acho que deixa-los ao lado de um rio não é a melhor forma de deixar eles secos.

--Ficar ao lado do rio não é um problema e tudo isso aqui tá desse jeito porque eu resolvi impedir a morte de um bêbado e consequentemente a sua também.

--Ah... Desculpa?

--Não quero suas desculpas, eu teria feito de novo, eu posso parecer um monstro, mas os verdadeiros monstros são vocês - falei ficando de pé, olhei ela de cima a baixo - a maior parte do que eu tenho aqui é graças a vocês que vem aqui e fazem do meu jardim da frente de lixão público.

--Sinto muito... Algumas pessoas parece não ter noção - ela pareceu dizer a verdade, mas isso não importa agora, ainda tenho coisas a fazer.

--Ou simplesmente não ligam - assim que falei isso um carro passou pela ponte e uma latinha de refrigerante caiu na minha cabeça - mais uma pra coleção...

--Porque você não sai daqui? - ela perguntou.

--Bom, pra onde eu iria?

--Para a cidade talvez? - eu não pude deixar de rir - que foi?

--Olha pra mim - tirei meu capuz e cheguei perto dela, ela deu passos pra trás, mas parou encostada na árvore, acendi meu olhos e deixei minhas presas maiores vendo ela ficar assustada - olha bem pra mim, o que você acha que suas amigas iriam fazer quando me vissem assim?

  Ela parecia assustada, muito assustada, eu me arrependi muito ao vê-la assim, ouvir seu coração batendo rápido, o medo estampado em seus olhos eu voltei ao meu normal e abaixei minha cabeça.

--Desculpe... - falei e ela me empurrou e começou a correr - não posso ir para a civilização - escutei ela parar de correr - não a cavernas por aqui e este é o único abrigo que consegui fazer - olhei o chão e ouvi ela continuar a correr.

  Olhei para o céu e vi algumas nuvens escuras então voltei ao que fazia.

Mina on

  Eu corri daquela... Coisa, nem olhei para trás e só parei quando estava dentro do meu carro, aqueles olhos, aqueles dentes.

--Onde eu tava com a cabeça pra vir aqui? - perguntei a mim mesma.

  Ouvi o barulho de trovão e olhei o céu ficando nublado, olhei para o lado vendo o caminho que eu acabei de percorrer e pensei em como aquela garota ficaria, provavelmente ficaria na chuva...

--Nada disso Mina, vamos pra casa - passei a mãos nos meus cabelos, liguei o carro e comecei a dirigi.

  Em alguns minutos passei pela ponte onde a garota estava e acabei parando o carro e olhando para o lado e a vi encolhida no chão ao lado de uma árvore, sei que ela é algum tipo de ser sobrenatural, mas ela não me matou e nem se quer tentou, pelo contrário ela salvou minha vida e essa chuva só tá piorando.

--Não, eu não vou fazer isso - falei a mim mesma voltando a olhar a rua.

  Não consegui pisar no acelerador, meu coração fraco me fez olha-la de novo e dessa vez senti tanta pena, aquela árvore não vai a impedir de ficar toda molhada e com frio e eu não sou o tipo de pessoa que deixa alguém numa chuva dessas.

--Espero não me arrepender disso - sai do carro ficando já encharcada e fui até a beira da ponte - ei! - gritei e ela logo me olhou - vem aqui! - ela levantou - vem cá, sai dessa chuva! - ela apenas veio andando em minha direção, subiu em uma árvore perto ds ponte e pulou na pista sem demonstrar nenhum esforço - ah... Entra no carro que eu te levo pra um lugar seco e seguro.

  Ela me olhou com um olhar que eu não podia descrever, andou pra perto de mim sem tirar os olhos de mim.

--Porque quer me ajudar? - perguntou ela.

--Porque eu não sou um monstro que suja seu jardim da frente e porque você salvou minha vida - respondi sincera e ela assentiu.

  Abri a porta do carona e ela entrou colocando sua mochila no colo, dei a volta no carro e entrei, liguei o carro e quando ia pisar no acelerador ouvi um "obrigado" que me fez ela e a mesma tava olhando pela janela então comecei a dirigir para casa. Não acredito quero fazendo isso.

Continua...

A garota da ponteOnde histórias criam vida. Descubra agora