❤ Capítulo 12 - Preconceito ❤

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Me lembro do dia que ela chegou em casa. Os pequenos cabelos eram negros e ralos, o rosto era bochechudo, liso e tinha os lábios curvados em um biquinho imperceptível.

A manta rosa com pelinhos, mantinha o corpo pequeno quentinho e aconchegado, tão aconchegado que a bebê ressonava em seus sonhos nos braços do pai que a segurava.

O homem que segurava o pacotinho tinha o rosto neutro, os olhos escuros e castanhos estavam cabisbaixos. A luz que sempre estava presente nos olhos dele estavam apagadas.
Assim como uma fogueira que foi apagada por pingos de chuvas, ou seja, enquanto estivesse molhada não seria mais acesa.

Assim eram os olhos de Asuma naquele momento, mesmo que em seus braços estivesse a a possibilidade de uma fagulha, que futuramente poderia acender a luz não só de seus olhos, mas sim a de seu coração também.

— Mirai...— Ele sussurra.

Do meu lado, Shikamaru permanecia em silêncio, por mais que em seus olhos refletissem a tristeza que sentimos essas últimas semanas. Eu imagino que o coração do meu amigo deveria estar tão apertado quanto o meu naquele momento.

Os braços do homem mais velho se flexionam para frente, me oferecendo o corpinho pequeno. Em reflexo, pego a criança e a aconchego mais nos meus braços, sentindo o cheiro de bebê passar para o meu olfato. Não demorou muito para eu ver o homem virar as costas e passar pela porta da frente, batendo-a com força, mostrando a raiva que estava acumulada em seu peito.

Shikamaru soltou um suspiro e me olhou com receio, no entanto mesmo assim se aproximou e direcionou o olhar para a criança em meus braços. A mão calejada de seus diversos trabalhos manuais, se estendeu até os fios negros e com um cuidado nunca visto por mim, deixou uma carícia ali, não demorou muito para surgir um sorriso babão em seus lábios.

Já eu, senti meu coração esquentar no momento que os olhos amêndoas se abriram e me encararam, provavelmente por conta da batida forte que a porta deu, ou até mesmo pela diferença de colo. 

Asuma segurava aquela criança com tanta frieza e amargor, até mesmo pessoas de longe poderiam notar isso, como se aquele pequeno ser fosse culpado de todas as tragédias que aconteceram em nossas vidas nos últimos meses.

Além de que é instintivo, sendo um bebê ou um adulto, acho que todos sabemos quando somos bem vindos ou não. No entanto, acho que isso se reflete mais nas crianças, quando passam de um colo nem um pouco afetuoso, para um agarre quente e seguro.

Aquela bebê rechonchuda era a coisa mais linda e fofa do mundo, tão pequena e frágil, nem um pouco preparada para um mundo tão cruel injusto, que estava sempre pronto com seus garras para arrancar sua pureza e devorá-la.

Não entendi ao certo o que ocorreu, mas quanto mais eu encarava suas pequenas esferas opacas, que se desviavam a todo momento, mais sentia meus batimentos acelerarem mais do que achei que um dia seriam capazes de fazer.

Um sentimento desconhecido surgia no meu peito, e eu imaginava que (pelo olhar bobo  de Shikamaru), ele estava sentindo o mesmo. Notei isso quando sua mão grande foi em direção a pequenininha de Mirai e ela agarrou seu dedo, agora fazendo um biquinho com os lábios finos.

Acho que foi ali. Foi nesse momento que eu, uma simples garota de apenas quatorze anos de idade e um quase homem de dezoito, soube que faríamos de tudo para proteger aquela menina em meus braços.

Foi ali, que eu prometi a mim mesma que faria de tudo, de tudo, para dar o mundo para aquele bebê em meus braços, assim como a mãe dela fez comigo, até os últimos dias de sua vida tão curta.

Mas muito maior que isso, era muito mais, pois foi ali que eu e Shikamaru descobrimos o sentimento e a missão de sermos pais de alguém.

Por isso que quando o Shikamaru me ligou falando que algo havia acontecido, eu senti um aperto tão forte e medonho no peito, que ainda sinto essa sensação percorrer em minhas veias com velocidade e ardência.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2021 ⏰

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