Paixão

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Ponto de vista do David

Eu estava tão animado por ele estar ali comigo que, quando chegamos ao lago das vitórias-régias não pude deixar de contar a estória que tantas vezes ouvi de Vera, quando era criança. Eu não sei exatamente porque acho a lenda da vitória-régia tão maravilhosa. Talvez por ser trágica, mas também romântica. Há nele um quê de beleza e poesia que me aquece o coração. 

Quando terminei percebi que ele me olhava como se quisesse me comer vivo mas não teve coragem de se aproximar. Por que ele não me beija? Será que ele acha que eu tenho vergonha? Será que ele não sabe o que faz comigo? Ele é o único que consegue acabar com meu autocontrole com apenas um olhar. Não me olha assim, Akito...

Então eu vou me aproximando dele, passo meus braços por sua cintura e o beijo. Desta vez, o beijo é suave, apaixonado. Esse homem é todo lindo, corpo e alma. Meu primeiro beijo com ele foi tão perfeito! Aliás, tudo com ele é perfeito! O sexo, a conversa, as provocações. Como em sã consciência eu pude achar que uma noite na cama seria suficiente? Eu o quero demais. Eu quero mais com ele. Quero que nossa história seja eterna. Separamos nossos lábios e eu digo:

 - Tenho mais uma surpresa para você! - E o vejo me olhar com curiosidade.  - Tem uma cafeteria aqui que faz um bom capuccino. Vamos?

Eu o vejo sorrir feliz e, sem esperar resposta, seguro sua mão e começamos a caminhar juntos de novo.

O Jardim Botânico era enorme. Ainda tínhamos muito para ver. Mas primeiro eu queria me sentar e conversar com ele. A presença dele me deixava confortável, como se fossemos almas gêmeas de outras vidas, de outros mundos... de onde diabos eu ando tirando essas idéias???!!! Bem, eu não devia me surpreender. Meu pai sempre me contou sobre a lenda do akai ito, ou fio vermelho do destino, dizendo que minha mãe era seu destino e que, quando eu crescesse, também encontraria o meu. Toda vez que meu nos contava sobre essa lenda, eu me perguntava como conseguiria reconhecer meu destino. Talvez ele esteja agora aqui, bem na minha frente. Porque Akito desperta em mim um romantismo que nem eu sabia que tinha! 

Chegamos à cafeteria e nos sentamos. Pedimos nossos capuccinos e, enquanto esperávamos, eu puxo assunto. Eu quero muito conhecê-lo mais. 

- O que você gosta de fazer no seu tempo livre? - Pergunto realmente interessado em saber tudo sobre ele.

- Eu gosto de ler, fazer caminhadas e de música. Tenho aliás um gosto bem eclético. Meu melhor amigo, o Fernando, toca numa banda. De vez em quando eu vou assistir às suas apresentacões em barzinhos. Ah! E também gosto de Karaokê, mas sou muito tímido então tenho um aplicativo no meu telefone e canto sozinho em casa mesmo. - Ele me diz entusiasmado.

Não sei porque mas sinto ciúmes do tal Fernando. Ele deve saber tudo do meu Akito e... como assim MEU Akito??? Inferno! Eu sou possessivo com quem eu amo, mas nunca fui possessivo com alguém com quem estivesse envolvido romanticamente. Paixão? Romance? Será possível em tão pouco tempo?

Nosso capuccino chega e continuamos uma conversa informal. É tão fácil falar com ele, a conversa nunca fica entediante. Eu poderia ouvi-lo por horas. Poderia até mesmo ficar apenas observando-o, sem a necessidade de palavras porque, com ele, o silêncio não é constrangedor. 

É a primeira vez que venho ao jardim botânico. Moro aqui há 8 anos e nunca tinha vindo. Obrigada por me trazer. Agora é um dos meus lugares preferidos também. Principalmente porque eu vim com você. - A última frase ele fala bem baixinho, mas pude ouvi-lo perfeitamente. Meu coracão quase explode dentro do peito!!!

Terminamos nosso capuccino e continuamos o tour pelo jardim botânico. E eu continuo tagarelando e contando para ele sobre tudo por ali. Até que paramos em frente a um enorme carvalho. Eu o faço sentar no banco que ali havia.

- Este carvalho tem um significado muito importante para a minha família. Gostaria de ouvir a história?  - Pergunto me virando para ele.

- Sim, acho suas histórias fascinantes. - Ele me diz. Mal sabe ele que a única coisa realmente fascinante aqui é ele...

- Quando meus pais se conheceram, o relacionamento interracial ainda era um tabu. Meus avós eram terminantemente contra. Crianças mestiças não eram vistas com bons olhos e a família do meu pai jamais aceitou minha mãe. Mas meus pais se amavam, como se amam até hoje. Então quando eles queriam se encontrar, eles vinham para cá, e se sentavam neste banco. Foram anos difíceis para eles. Mas eles sempre acreditaram no amor que sentiam e meu pai então decidiu enfrentar sua família. Saiu de casa, e foi tentar a sorte por conta própria. E minha mãe nunca o deixou. Quando ele conseguiu um emprego estável, antes de fundar a HuangCheng, ele veio com minha mãe aqui e a pediu em casamento. -  Finalizei, emocionado.

Ele passa a mão por meu cabelo e me envolve num abraço, me trazendo para junto dele. O calor daquele corpo era tão reconfortante. Ele beija minha testa, minha bochecha, meu queixo e finalmente me dá um selinho.


Ponto de vista do Akito

Eu só queria demonstrar meu apoio à ele. Não poderia sequer imaginar como deve ter sido difícil. Afinal ambos os meus pais eram nisseis e nenhum deles sequer cogitou a possibilidade de ir contra as tradições e costumes de suas famílias. Mas acredito que se um deles tivesse se apaixonado por alguém de outra etnia, teriam enfrentado os mesmos problemas. 

Então, passo a mão pelo cabelo dele e o puxo para um abraço. Deposito pequenos beijinhos por seu rosto e então colo nossos lábios. Era para ser só um selinho, mas meu corpo estremece todo. E ele também sentiu porque me agarra e usa sua língua para me fazer entreabrir os lábios me beijando com paixão...

Envolvente (Livro 1 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora