Coragem

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Ponto de vista do Akito

Eu consegui terminar a faculdade, mesmo encontrando o Carlos pelos corredores. Suportei todas as provocações calado. O último ano foi melhor, porque ele já tinha se formado e eu não o vi mais. Foi também o ano em que eu consegui o estágio na B&L.

Mas agora, ele volta à minha vida. "Mas agora é diferente", diz minha mente. "Agora você é mais forte e não sente mais nada por ele". Eu tinha sérias dúvidas de que ele não iria agir de forma infantil novamente, mas eu não podia realmente fazer nada a respeito.

Ele vai se aproximando de nós. Ele está mais velho e eu me pergunto: "como diabos eu achava esse cara lindo?"

O Sr. Barreto então começa as apresentações.

- Este é Carlos Machado, o novo chefe do setor de vendas. Carlos tem bastante experiência no ramo. Até o momento trabalhava na gráfica de seu pai e agora está buscando novos horizontes, se tornando parte da família B&L. - Ele se vira para Carlos. - Seja bem vindo, sr. Machado!

Todos estão aplaudindo, menos eu e Fernando, que nos olhamos com cara de quem não sabe se aquilo é realidade ou o pior dos pesadelos.

E eu pensei logo no Fernando. Por mim, Carlos pode fazer o que quiser. Afinal eu nunca o confrontei. A vítima ali era eu. Mas isso estava no passado. Eu agora sou muito feliz com o David. Não tenho mais medo. Mas o Fernando... Ah, o Fernando socou a cara dele...

Fernando não tem família rica e ele sempre trabalhou duro. A oportunidade de ser da equipe B&L era não apenas por conta de experiência profissional, mas, deste ramo, a empresa era uma das que melhor pagava seus funcionários.

Fernando era competente e experiente. Um dos melhores funcionários da empresa.

Carlos então começou a cumprimentar um a um. Quando ele me viu, seu olhar passou de espanto para outra coisa que eu não pude definir.

- Akito Maeda! Meus Deus! Olhe só para você! Que surpresa boa! Fernando Moretti?????!!!! Mas que maravilha encontrar os dois novamente! Teremos tempo mais tarde para conversar e matar saudades dos velhos tempos, hein? Que tal?

Ele só podia estar de brincadeira! E falando isso na frente de todo mundo! Forçando uma intimidade que jamais tivemos!

- Olá sr. Machado. Seja bem vindo à empresa. Espero que você seja muito feliz aqui. - Me ouço dizendo polidamente.

- Com certeza serei. - Ele diz alargando o sorriso e me olhando da cabeça aos pés.


Ponto de vista do Fernando

Meu autocontrole chegou ao limite. Que tipo de joguinho sujo o Carlos estava planejando agora? Do momento em que ele recoheceu Akito, ele começa a olhar para ele como se fosse uma refeição.

Eu vou socar esse sujeito de novo! Não importa se ele é o chefe da porra toda. Se ele encostar no Akito é um homem morto.

E ele tem a audácia de nos cumprimentar como se nada tivesse acontecido??? Que merda é essa????!!! Esse cretino vai aprontar de novo. A empresa é grande, mas como chefe do setor de vendas, nosso setor vai necessariamente trabalhar próximo ao dele.

Estou preocupado com Akito. Como será que ele vai suportar? Os dois dias que sucederam à "brincadeira" do Carlos - sim, vários colegas estavam justificando aquele bastardo, dizendo que era apenas uma brincadeira - eu vi meu amigo ficar bem doente. Ele não comia e eu o ouvia chorando quando ele finalmente achava que tinha ficado sozinho. Akito só conseguiu voltar às aulas uma semana depois do ocorrido.

Eu nunca disse ao Akito, mas eu chorava também. Chorava de raiva, de impotência, de culpa. Culpa sim! Não, eu não sabia de nada de antemão. Eu não percebi Akito e Carlos deixarem a mesa porque tinha um colega que não parava de falar comigo.

Estava totalmente alheio à situação até que ouvi um movimento e risadas à mesa, quando mencionaram o nome Akito. Na mesma hora me levantei e agarrei um dos que estavam rindo pela camisa. Ele foi então obrigado a me contar o que estava acontecendo. Eu corri o bar inteiro atrás deles e quando finalmente cheguei, estavam apenas Carlos e seus amigos, rindo. Eu não pensei duas vezes. O soco foi certeiro no nariz. Desgraçado!!! Merecia apanhar muito mais!!!


Ponto de vista do Carlos

Se não fosse pela amizade do meu pai com o dono da B&L eu jamais seria contratado. Eu sabia disso.

Eu sempre tive tudo de mão beijada. Eu era bonito, popular e todos caíam aos meus pés. Sempre tinha sido assim, até sair da faculdade. Então eu saí procurando por emprego apenas para descobrir que aparência não abriria as portas para mim.

Fui então, trabalhar na gráfica do meu pai para conseguir experiência. Ao mesmo tempo procurava outras oportunidades. Até que meu pai falou com seu amigo, o sr. Barreto, que por acaso teria uma vaga em sua empresa, já que o chefe do setor de vendas havia se demitido.

Agora parecia mesmo que minha vida iria melhorar. Eu era muito estúpido e cheio de mim quando mais jovem. Eu até fiz uma brincadeira com um colega de faculdade quando percebi que ele gostava de mim.

Eu fiz uma aposta com meus amigos de que ele era gay e que eu iria beijá-lo. Eu fiquei um bom tempo só preparando o terreno, dando atenção a ele, para poder dar o bote quando fosse a hora.

O Congresso era minha melhor oportunidade. Eu o seduzi para levá-lo ao bar aquela noite. Eu planejei tudo meticulosamente. Eu só não contava com uma coisa: que os lábios dele seriam os mais saborosos que eu já experimentei em toda minha vida. Eu me arrependi no momento em meus amigos riam e o insultavam. Eu o vi sair correndo. Quando o amigo dele, Fernando me socou, eu não reagi. Eu sabia que merecia.

Mas ainda assim eu não podia dar o braço a torcer. Eu não podia mostrar aos meus amigos que eu me importava. Eu era popular! Admitir que eu estava atraído por ele? Jamais! Então o que eu fiz? Eu o provocava quando passava por ele pelos corredores. Eu mexia na ferida dele. Eu o machucava e ia me machucando no processo.

Eu passei anos imaginando como seria encontrá-lo e pedir perdão, quem sabe até reconquistá-lo. Então, o destino resolveu atender meu pedido. Ali estava ele, entre os funcionários da B&L. E ele estava lindo. Olhei-o da cabeça aos pés sem o menor pudor.

Desta vez, não desperdiçarei minha chance.

Envolvente (Livro 1 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora