CAPÍTULO 16

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Emergir após você ter quase se afogado te faz sentir aliviado, exasperado, inquieto, feliz e ao mesmo tempo desesperado. Sua respiração se descontrola e seu pulso acelera inexplicavelmente. Era exatamente assim que Mirella se sentia, como se quase houvesse se afogado.

Stéfani era seu mar.

Os lábios quentes sobre os seus não a deixavam pensar, só sabia de algo: Precisava de mais e foi com tal pensamento que apenas permitiu a passagem da língua da mais nova, vibrando internamente com o contato.

Não era um beijo qualquer, era Stéfani ali. Stéfani Bays. Ela não podia acreditar naquilo, não conseguia cair sua ficha de que beijava a garota que...

Ela vetou seus pensamentos quando a loira chupou seu lábio inferior e enfiou as duas mãos por dentro de sua camisa, arranhando as unhas curtas em sua pele, causando a inflamação de todo seu corpo. Stéfani voltou a aprofundar o beijo e Mirella a puxou mais para si, levando uma de suas mãos até os cabelos da nuca da loira e a enfiando ali, os puxando de leve, sentindo a textura sedosa dos fios entre seus dedos enquanto suas línguas se encontravam em um perfeito encaixe.

Stéfani arfou contra sua boca e apertou sua cintura, tentando juntar ainda mais os corpos, como se os tentasse fundir.

- Detentas! - A voz firme e ríspida de uma das guardas fez elas separarem as bocas sem se afastarem totalmente. - Aqui não é lugar para isso. - Ambas assentiram, se afastando de vez uma da outra.

- Não deveríamos ter feito isso. - Mirella, que possuía seu lábio ligeiramente avermelhado, falou e Stéfani negou com a cabeça. 

- Claro que deveríamos. - Disse, sem se importar com o fato de pouco tempo atrás ter pensado que deveria tentar não se apaixonar por Fernandez.

- Você tem problemas de interpretação? - Mirella perguntou. - Jordana disse para você não encarar e você me encarou, eu disse para não se aproximar e você vive criando conversas íntimas, agora digo que não deveríamos e você diz que sim.

- Não tenho problemas de interpretação. Apenas sei formar opinião própria. - Stéfani rebateu e Mirella suspirou, indo em direção à sua cela.

- Pare de me seguir, Stéfani! - Mirella pediu.

- Só quando me disser por que não deveríamos. - Stéfani falou e Mirella entrou em sua cela, subindo em sua cama e se virando para a parede. A mais velha suspirou e se encostou na parede de frente para o beliche. - Eu não sabia que te incomodava tanto assim. Desculpe.

- Não faça isso.

- Isso o quê? - perguntou e Mirella se virou para ela.

- Esse drama todo, me mostrando que estou reagindo exageradamente. - Mirella explicou e Stéfani a fitou, sorrindo fraco antes de assentir e se deitar em sua cama. O silêncio perturbador fez Mirella suspirar. - Stéfani?

Silêncio. 

- Stéfani? 

- O que é? - Stéfani perguntou e Mirella se equilibrou em seu peito, olhando para a cama de baixo.

- Está brava comigo? - Mirella perguntou e Stéfani negou. - Então por que não me respondeu de primeira?

- Não faz sentido as discussões idiotas que temos. Você é um maldito ponto de interrogação que fica no final de toda frase minha. - Stéfani disse encarando-a, vendo os olhos castanhos refletirem um lampejo de tristeza.

- Desculpe. - Mirella murmurou e Stéfani se surpreendeu. - Só há perguntas que para a minha proteção eu devo manter as respostas para mim. - falou. - Eu ainda tenho mais dois anos aqui, preciso manter meu foco.

- Bem, se a minha advogada não for eficiente o suficiente eu ainda tenho vinte e dois, então boa sorte com seus dois anos. - Stéfani disse e Mirella mordeu seu lábio inferior, descendo da cama de cima.

- O que fez para pegar tanto? - Mirella perguntou curiosamente e Stéfani foi para o canto de sua cama, esticando a mão para a outra. 

A mais nova encarou sua mão com hesitação, até finalmente segurá-la,  sentindo a loira lhe puxar para seu lado. Mirella respirou fundo, sentindo o cheiro do condicionador de Stéfani impregnado no travesseiro.

- Não fiz nada, mas fui acusada do assassinato do meu irmão e de ter tentado assassinar minha mãe. - Stéfani disse, vendo Mirella arregalar os olhos completamente surpresa. - Eu não fiz isso, eu juro, mas sei que você não vai acreditar em mim. - disse, brincando com a bainha de sua camisa.

Ela se surpreendeu quando sentiu Mirella acariciar seu rosto, fitando-a com seu olhar carregado de afeto.

- Você poderá pegar uma boa grana quando processar esses babacas do Estado, uh? - Mirella perguntou e Stéfani assentiu ainda cética.

- Você vai acreditar que sou inocente assim... fácil? - perguntou e Mirella assentiu.

- Já acreditei. - disse sorrindo de lado e Stéfani se virou para ela.

- Eu não vou perder meu tempo processando eles. - Bays disse e Mirella franziu o cenho.

- Por que não? - Indagou sem jamais deixar de acariciar o rosto da mais velha, que suspirou ante ao toque gentil.

- Porque eu quero viver minha vida, desfrutar das coisas que eu não dava valor antes, sabe? - Stéfani perguntou. - Não quero ficar enfurnada em uma sala o dia todo diante de uma pilha de papéis. Quero ir no parque central e me deitar sobre o gramado enquanto admiro os pássaros no céu e sinto o ar fresco acariciar minha pele.

- O futuro amor de sua vida poderia estar junto e ambos poderiam alimentar os patos. - Mirella disse e Stéfani sorriu, assentindo.

- Me soaria um bom lugar para eu dizer que a amo. - Stéfani disse e Mirella suspirou. - Uma pena nada disso existir. - Falou e Mirella assentiu.

- Mas você tem chances de ser feliz quando sair daqui, sabe? Viver, receber de bom tudo o que já ofereceu a este mundo. - disse e Stéfani subiu seu olhar, analisando meticulosamente cada palavra que a outra havia dito.

- Por que sempre fala como se eu tivesse sido uma heroína lá fora? - Stéfani perguntou e Mirella negou, parando sua carícia.

- Nada. - Respondeu baixando seu olhar. - Se sua advogada conseguir sua inocência você sai em quanto tempo?

- Cinco meses e duas semanas. - disse e Mirella assentiu, fitando os lábios tão atrativos da mais alta.

- Acho que mudei de ideia sobre nos beijarmos. - Ela sussurrou e Stéfani olhou cheia de expectativa. - Mas me prometa que não fará tantas perguntas.

- Não posso prometer isso. - Stéfani disse, umedecendo seus lábios. - Mas gostei da ideia de voltarmos a nos beijar loucamente. - disse sorrindo maliciosa e Mirella riu. - Por que mudou de ideia? - Indagou curiosa e a mais nova suspirou, passando um braço por seu corpo, a abraçando.

- Porque sei que será inocentada e, bem, acho que eu gostaria de aproveitar o pouco que vou ter de você. - Mirella confessou ruborizando e Stéfani sentiu um arrepio cortar sua espinha. Quanto mais tempo passava, mais encantadora Fernandez se tornava aos seus olhos.

- Então pode aproveitar bastante. - sussurrou, levando uma mão até a nuca de Mirella para então arrastar as unhas ali, vendo um novo brilho nascer nos olhos da morena. 

Ela gemeu quando sentiu Mirella beijá-la e então a morena a puxou mais para cima de si. Aparentemente os próximos meses não seriam nada ruins trancafiada ali com a mais nova. 

Entretanto, de alguma forma, incomodava se imaginar saindo daquele presídio e deixar Mirella para trás. Ela espantou seus pensamentos ao ver o rumo que estavam tomando. Focaria no "agora" e, bem, o "agora" possuía a língua de Mirella se encontrando com a sua enquanto sua mão direita adentrava a camisa de Stéfani para acariciar diretamente sua pele.

É, o "agora" era bem atrativo.

PRESA POR ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora