[8] Alexitimia

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O som insistente do colar e descolar do tecido de couro no chão da bola de voleibol alertava a sua mente acerca das sensações desmedidas que aquele jogador em quadra o trazia.

A cidade litorânea de Busan havia amanhecido com a temperatura amena, nem fazia tanto frio tampouco calor, era primavera afinal. Os dias eram curtos, equilibrados e as noites longas permitiam ao aconchego de uma coberta bem quentinha ou de um romance adolescente. O Park levantou-se naquele dia mais cedo, bocejando emburrado, quase desistindo de assistir aos jogos do colégio. Agora sentando na imensa arquibancada com as pernas cruzadas e Taehyung gritando ao seu ouvido para que o levantador do time parasse de brincar e massacrasse os adversários logo se permitiu pensar em como tudo aquilo começou.

Já havia algum tempo desde que começara a se envolver com o atacante do time de vôlei, meses na verdade, e mesmo que ao acordar proferisse o mantra de não se deixar apegar tanto esse já não mais funcionava uma vez que antes mesmo daqueles encontros ocorrerem Jimin já se via perdidamente enfeitiçado pelo moreno. Antes das férias do semestre do seu primeiro ano no Ensino Médio uma sutil aproximação de um certo time estava sendo notada, eram olhares diferentes, companhia para os intervalos e bobagens sobre como funcionava a hierarquia do colegial que faziam o seu nariz retorcer em ceticismo. Depois as visitas se tornaram cada vez mais frequentes e até mesmo surgiram boatos de que os terceiro-anistas só queriam se divertir com os bebês do primeiro ano e até mesmo elegiam seus favoritos, estragando cada um deles com suas visões de mundo distorcidas para depois perceberem que a palavra “brincar” era chata demais para sua idade.

E nessa bagunça de incertezas seu fôlego estava sendo roubado, começou – verdadeiramente – de uma forma discreta, ele sentava-se ao seu lado e começa o discurso egocêntrico de como era difícil e prazeroso ser capitão do time, as vezes passava os braços pelos seus ombros no meio do discurso ou esbarrava em si nos corredores. Nada que precisasse se preocupar afinal, na sua cabeça eram só os reizinhos querendo demonstrar dominância. No meio do caminho surgiu os incomuns convites para assistir aos treinos depois das aulas; para ajudar nos alongamentos e receber em troca um momento de descontração com lanches pagos para ele e seus amigos – obviamente, sozinho o acastanhado nunca iria. Até ai Jimin conseguia suportar desde que ele ficasse longe de si, seu interior balançava de um jeito que ele não saberia nomear, então era melhor se manter afastado. Nessa etapa as férias haviam chegado, então teve um mês inteiro para esquecer as tais inquietações, até consegiu. Ficou feliz. Porém não durou muito.

As aulas retornaram numa segunda-feira, anunciando uma fase nova e consequentemente a afirmação de que seu fôlego já não mais o pertencia, o respirar de outra pessoa era que definia o quanto seu peito se enchia de ar, inspirando fundo e expirando em forma de suspiro, seduzido. É que quando ele passava meus olhos gritavam tanto que abafam minha voz já rouca e meu coração já abatido. Foi quando tudo começou.

Sabe aquele ditado sobre antes conhecer a vítima e depois atacar? Aconteceu exatamente assim. Num momento os toques eram brandos, amigáveis, num outro transbordavam ousadia, convidavam. Eram distantes, agora estavam à queima roupa, entregues ao jogo mais viciante e impreciso de toda aventura: a sedução. Ela não significa união perpétua, não prometia nada, ela só cantava belamente, erguia suas mãos e enlaçava seu torço mansamente conduzindo seu calor imoral, lhe sussurrando palavras tão tentadoras que se você não fosse forte o suficiente para não se desvencilhar do toque cederia. Ela também irradiava luxúria, sensações carregadas na intensidade nociva e ilusões tão bem desenhadas só para si que assemelhavam-se a realidade. Tão, tão provocante. Mimava a todos, queria ser egoista e semeava ali sentimentos que não deveriam existir. E quando conseguisse o que tanto almejava ela cansava, faria bico e partiria sem avisar, sorrindo de uma forma tão sóbria, deixando alguém do par com o coração sangrando, a mente desnorteada e lágrimas brilhando em arrependimento. Era o papel dela afinal.

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