[7] Abulia

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— Desculpe, Senhor?

Projetou em seus finos lábios um meio sorriso enquanto crispava as sobrancelhas desenhadas, achando, no mínimo, engraçada toda aquela situação. Sem desejar fez soar pelo corredor algo como um riso nasalado coberto em descrença, apertando as mãos em punhos por dentro da calça social. O Jeon desejou ter descoberto antes do que se tratavam aqueles movimentos, aquele modo de agir e até mesmo a entonação ao qual recebia as palavras pelo outro. Abaixou levemente a cabeça contendo-se para não mostrar-se desagradável pela imensa vontade de rir alto e amargo de si mesmo pelos poucos minutos em que fora seduzido pelas próprias imaginações. Aquilo nem de longe seria algo fácil a se realizar.

Tornou a fitar aqueles tão belos olhos caramelos que o atraiam como imã, imaginando qual seria a sensação de ter esses mesmos olhos brilhando para si como antes brilharam.

— Não se faça de bobo, Senhor Park. – entonou forte. — Até quando planeja esquivar-se de mim fingindo não me conhecer? Creio que já somos bem crescidos, não acha?

Após o dito Jeongguk tomou para si um semblante amargo. O negro que colorida os seus olhos tornando-se ainda mais reluzente, tal como uma lâmina afiada prestes a traçar sua destinação. E de fato traçaria.

Em um primeiro momento, as orbes indiferentes do Park tremularam em reação ao tom grave que ecoou por seu canal auditivo. A pigmentação brevemente clara que tonalizava sua íris fora tomada por um rápido lampejo negrume de um sentimento tão bem conhecido por si que mal se importou com sua –diga-se de passagem – leve chegada, e por breves segundos, sentiu-nas turvarem completamente. Ódio. Não sabia como aquele sentimento havia ganhado tanto espaço em si mas lá estava ele, cítrico e intragável, percorrendo todos seus vasos sanguíneos e os fazendo borbulhar em retruco.

Não deleitava-se em pensar ou ao menos sentir aquele tipo de emoção, era maldoso consigo mesmo. O Jimin que era tão envolto de sentimentos positivos e excitantes já não conseguia barrar toda a ira que sentia quando encontrava-se com aquele homem. Ele era uma explosão de incertezas que viria para atrapalhar o seu caminho, mas nada disso o faria abandonar tudo o que conquistou. Ele com toda certeza o impediria de entrar em sua vida, como antes não conseguira e se autopreservaria das dores futuras – as quais já estavam nas entrelinhas daquele cenário.

O loiro ainda piscou as orbes novamente, respirando fundo em busca de controlar a oxigenação do seu corpo, precisava se controlar para não dar um passo maior do que era necessário. Puxou novamente o ar, com mais força, sentindo um nó em sua garganta, porém, aquele gosto que sentiu o fez ansiar por aquele cenário. O cítrico que inundava seu paladar o remetia angústia e raiva, essa que flamejou em resposta à indagação lançada a si (antes "esquecida"). Jeongguk estava brincando, certamente. Jimin jurou até mesmo que conseguiria fazer o homem prostado frente a si sentir todo o seu desagrado com tais palavras. Flashes cheios de lembranças giravam em volta dos seus pensamentos, o fazendo recordar de todos os pontos daquela montanha russa que havia sido seu passado. Virou, lenta e imperceptívelmente, a cabeça para o lado, seus lábios avermelhados repuxando-se em um sorriso reto e inocente, os olhos cravados nos alheios tão belamente negros: iria o responder, claramente, não era o que o Jeon esperava?

Primeiramente, quem seria você, Senhor Jeon?

Cínico. Era isso que Park Jimin era, cínico. Jeongguk não conseguiu se conter, esboçou um riso mais entonado e livre que os primeiros deixando por milésimos de segundos seus dentes alinhados a mostra, para logo em seguida pressionar a ponta da língua no interior da bochecha, descontente. Inspirou e expirou forte, fazendo o ar balançar levemente os fios loiros do homem a quem desejava reconquistar e alinhar com seu futuro.

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