[9] Ressignificar

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De qual dos lados ecoaria o primeiro grito? Do lado magoado que reprimiu tudo em si tornando a sensação abusiva e um tanto indesculpável aos olhos de outrem ou do lado de quem não tentou ser transparente e transformou o sentimento em algo clandestino, que demonstrava vulnerabilidade e fraqueza?

Pois bem, nenhum deles gritou.

O tom mais alto surgiu de uma terceira pessoa, da platéia.

- O que você fez, Jeon? - sem resposta. - Eu perguntei o que você fez com o meu amigo!

Kim Taehyung estava explicitamente alterado. O tom chocolate das suas íris vibrava em pânico, raiva quando empurrou o moreno pelos ombros assim que esse passou pela porta da casa. Havia visto o suficiente da janela - não escutado, o rosto inundando de temor de Jimin e o desespero que o fez correr para qualquer lugar longe do Jeon. Depois de tanto tempo que passou tentando tirar o peso da presença do de fios negros do Park e fazê-lo esquecer o primeiro amor aquilo acontecia. Não poderia deixar. Se Jimin não deu um basta naquela situação ele a suprimiria até que esse tivesse força o suficiente para extinguí-la já que não cabia a si a decisão final; respeitaria.

O alvo do repentino ataque voltou sua atenção para o autor desse atordoado, e quando percebeu a situação retrucou contido:

- Não é da sua conta, Kim.

- Como não é da minha conta? Você estraga toda uma noite e todo um encanto adolescente como se respirasse e eu não tenho a ver com isso?

- Eu não quero parecer o vilão da história Taehyung e nesse momento se eu for te responder irei soar mais ríspido do que gostaria. Creio que já carrego todo o seu desagrado.

O visitante tentou ignorar os olhos vermelhos do Jeon mas isso foi uma questão falha. Talvez... pensou.

- Não me importo como irá soar, só me diga que atrocidades você disse para ele. Porque Jimin saiu chorando? - rosnou.

Jeongguk suspirou, desagradável. Deslizando os dedos pela nuca em um sinal de nervosismo e desconforto, começou a caminhar lentamente para fugir de todo aquele interrogatório. Mais alguns segundos ali e ele explodiria. Isso se não fosse impedido. Parecia que o Karma de ter justamente impedido o Park voltou para si. Estalou a língua.

- Não me ignore, te fiz uma pergunta.

- E eu disse que não responderia nada.

- Então é assim que vai ser? Vejo que não mudou muito desde o colegial, não é? - trincou os dentes. - Para mim isso não faz a mínima diferença, agora escute bem o que eu vou lhe dizer Jimin já tem problemas demais para lidar então você não será mais um. Voce já o prejudicou demais com a suas mentiras e não faz ideia de como elas ainda gritam mesmo depois de tantos anos. Fique longe dele se realmente ainda lhe sobrou alguma empatia.

O de cabelos negrumes soltou o ar mais uma vez. Problema. Ainda era um problema na vida de Park Jimin. Não gostou de constatar aquele fato.

- Taehyung eu não quero brigar e não acho que também queira. - completou.

O ruivo riu resignado.

Entretanto não deixou de notar novamente o olhar atormentado que faiscava desordem no qual o residente daquela casa entregava a si. Dava a impressão de que ele mal conseguiria continuar controlar o tom das palavras que emitiria, tampouco conseguiria manter a face neutra. Era a chance. Iria fazer uma pequena parcela - ou não - daquele semblante contido se desmanchar e ouviria as reais intenções e motivos que estavam levando Jeongguk a procurar Jimin depois de todos esses anos. Nem que para isso precisasse ir longe demais. Ultrapassando a zona de conforto do Jeon e o fazendo escutar mais do que lhe apertava o calo.

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