"Não é sobre você"

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Queria falar tanta coisa

Nem sei como dizer

Como agir

As pessoas não sabem mais sentir?

Quando o sentimento acabou?

Não posso apenas amar como qualquer ser?

Não quero imediatamente casar

Apenas falar aleatoriedades e beber

Comer

E rir de qualquer coisa

Poder me declarar sem me importar

Somos apenas humanos

Sentimos

Podemos viver

Mas tenho receio do quê eles possam falar

Quando ter amigos virou crime?

Só quero me perder

E, sem pensar, apenas contar

Irrefletidamente

Só despejar

Vomitar todas as vergonhosas memórias

Cuspir as inconsequentes falas

Falar sem problematizar

Não mais equalizar

Mas sei que o quê eles falarem vai me machucar

Toda essa espontaneidade

Despercebidamente não vai passar

E eu vou me importar

Porque todos os infames insanos

Agora sinto espontaneamente

Refletidos em mim

Não deveria me prender

Ao que possam dizer

Mesmo sabendo que não depende só de mim

E que irremediavelmente eu vou sofrer

Admito que pra mim é quase um prazer:

Pensar e sofrer

E depois eu que vou chorar

E vou ficar com receio do quê possam imaginar

Mas é apenas todo o meu viver

Todas minhas loucas suposições e elucidações

Todo o meu ser

Aí, novamente

Como se voltasse à adolescência

Eu volto a me calar

E vou me confessar

Na poesia

Sobre coisas quê sei que nem nunca vou viver

Nunca passei

Um misto de tantos eus

Talvez, vocês, porquês

Escrevo sobre ninguém

Quão egoísta eu posso ser

Com esse espírito revolto

Que rasteja de tanto pensar

Tantas vezes vi-me distorcidamente refletido

Alma velha calejada e exausta

Exaurida de tanto confabular

Mas nada nessa vida

De fato, realizar

E volto a me lamentar

E questionar outra vez eu vou

Como se não fosse a enésima vez

Ao fim

Só penso, sinto e crio

Não tem a ver com efetivamente viver

Como alguém que nem do quarto sai

Pode ter tanto para escrever?

Volto-me à pena

Ao papel

E a lírica

Que podem não me curar

Mas me ajudam a relaxar

Delirar

Viver outras vidas é o quê me faz respirar...

ANTOLOGIA DO SENTIMENTO PARTE II: AzzuroOnde histórias criam vida. Descubra agora