"Ghosting"

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Se


Aí, ao fim, não sei o quê te levou

Se você não está mais aqui

Se a química não rolou

Se só te causei dor

Se foi meu humor

Se...


II  Sumiço


Aconselharam-me a deixar a porta aberta

Mas nem sequer de se despedir

Você se deu o trabalho...


III  Aonde


Onde você está?

Para onde você foi?

Agora, além de dentro de mim?


IV  Negação


Será que algo te aconteceu

Ou você se perdeu

Será que nesse plano ainda habita

Perdeu meu contato

Qualquer meio de comunicação

Estou a velar alguém que

Alegremente por aí

Minha existência nem ao menos consegue lembrar?


Sinais

Fala-se tanto em sinais

Mas tudo foi tão rápido e avassalador

Que nem consegui notar...


VI  Consolo


Estão a me consolar

Porque o ar está a me faltar

Compadecem-se porque dizem que é normal

Sempre ocorreu

Apenas hoje sabem nominar

Mas a porta segue aberta

As velas acesas

E eu não consigo o luto deixar...


VII  Aceitação


Se não tiver mais notícias

Terei que encarar

Que quem quer ficar

Apenas fica

Quem quer estar nas nossas vidas

Está

E só permanecem aqueles

Que mesmo que conheçam inúmeros locais

Sempre conseguem voltar

Porque conosco querem estar...


VIII  Constatação


As palavras e rupturas são tão traumáticas assim

Para a gente tentar se esquivar?

Será mais fácil apenas sumir

Para não ter que conversar, explicar, contra-argumentar

Será o diálogo algo quimérico

Irrealizável

Inexecutável

Insuportável...


IX  Finalização


Há quem não acredite em finalizações

Preferem o "deixe como está"

"Quem sabe um dia a gente possa se encontrar"

A porta nunca fechar

E nessa comodidade

Deixam tantos a penar

A se torturar, exaurir e em lágrimas

Debulhar

Finais podem nunca se concretizar


Avisar


Melhor seria nunca começar

Se nem conseguir

Avisar que não vai voltar


XI  Muros


Meus muros de proteção

Inexpugnáveis e inexoráveis

Que outrora me protegeram

Apenas me isolaram

E sigo devastado

Ileso

Inerte

Chorando no portão

Esperando que alguém que eu baixei a guarda

Abri todas as portas, portões, janelas

Minha alma e coração

Possa voltar... 


XII  Portão


Finalmente irei a porta fechar

O portão trancar

Porque por você

Não me deixarei assombrar

Não viverei a esperar

Ou na indefinição

Do "se"

Demorar-me no

"E se você quiser voltar"

"E se você nunca quisesse ter deixado o lugar"

E se e se

Se eu nem sei se você ainda existe

Não há motivos parate aguardar!

ANTOLOGIA DO SENTIMENTO PARTE II: AzzuroOnde histórias criam vida. Descubra agora