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SAINDO POR CIMA

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SAINDO POR CIMA

Eu podia passar uma noite conversando com karol, apenas
conversando, uma vez que percebi que tem caráter e não iria para a cama
comigo traindo o noivo. Ou eu poderia tirá-lo do meu caminho e tentar em
seguida uma aproximação com ela.
Estaria desimpedida e seria bem mais fácil agir.
Não sei se as pessoas vão conseguir entender, nem mesmo eu consigo
entender, já que não é da minha personalidade agir assim; todavia quero mais
que apenas conversa. Quero-a novamente na cama comigo, nua em meus
braços e isso foi o combustível que usei para tomar a decisão de armar o bote
contra Michael .
Ele é um cagão. Ele não a merece, afinal na primeira oportunidade a
usou como moeda de troca. E Karol. precisava saber com que tipo de
homem estava se envolvendo.
Minha ideia não foi totalmente mesquinha. Antes de querer transar
com ela, sou admirador de seu trabalho. Sem falar que uma hipótese quase
me tirou o sono: e se ele a oferecesse para outro? E iria acontecer, o
desgraçado é um punheteiro safado e iria propor ela a ficar com outro cara
para ele assistir.
Foi minha melhor decisão.
Conversei com dois funcionários do clube, contei basicamente a
história e o que eles tinham que fazer. Eu só tinha que deixar Karol  lá no
bar sozinha e deixar o pau quebrar. Eles iriam conversar sobre o assunto, ela
ouviria e pronto! Perfeito.
Todavia, eu também sairia queimado nessa história. Sorte que sou Ruggero , mestre em sedução e manipulação feminina. Vou conseguir amansá-
la mais tarde, depois que a poeira abaixar.
Eu fui embora do clube assim que tive certeza que karol tinha ido.
Na minha casa, fumei um charuto na varanda olhando a noite e relembrando,
a contragosto, momentos do meu passado. Situações que atingiram meus
sentimentos porque eu fui fraco e tolo. Nunca mais voltarei a me expor tanto por uma mulher. O sexo me basta.
A primeira coisa que um soldado aprende ao ingressar no exército é o
segredo. Há coisas que o soldado morre, mas não pode falar, pelo bem do
país. E com isso aprendemos a guardar segredos e sentimentos pessoais nos
tornando misteriosos pelos olhos de algumas pessoas. Meus irmãos nunca
souberam o que de verdade aconteceu quando eu estava na minha primeira
missão fora do Brasil. E provavelmente nunca saberão.
***
— Preciso de sua ajuda. — Eu disse para Plínio  assim que entrei em
sua sala na Orfeu no dia seguinte.
— Como sempre. — Ele se espreguiça na cadeira e estala os dedos. —
Diga.
Passo a chave na porta de sua sala e me sento diante dele.
— Cara, fiz uma coisa e Mike  vai querer comer meu rabo se
descobrir.
— Me conte uma novidade, Ruggero .
— Não fode, porra. — Puxo o ar e disparo de uma vez: — Eu troquei
o terreno da empresa por uma noite com uma mulher. É isso.
— Vindo de você, eu não deveria, mas estou surpreso. É o imóvel
daquela vaca malcriada?
— Sim. Da Mara.
A testa dele se franze mostrando o teor incrédulo.
— Você... você transou com ela?
— Não. Claro que não. O advogado dela é noivo da sol benson  que se chama Karol Sevilla  e
ele me ofereceu uma noite com a mulher dele para eu passar panos quentes e
deixar ele ganhar a causa.
— Ah, vá tomar no seu cu, mano. — Ele se exalta, jogando as mãos
para cima em um gesto de intolerância. — Fodeu nossos negócios por causa
de um sonho ridículo? Se isso chegar , no Mike.
poderá te salvar e limpar sua cagada.
— Eu sei, porra. Claro que sei. É por isso quero que você me ajude a
comprar o imóvel.
— Eu? Ajudar? Não me meta nisso.
— É, você. Quem mais aqui é o louco das aquisições que até tomou
uma empresa de uma pobre mulher inocente?
— Agora ela é inocente? — Levanta a sobrancelha um tanto surpreso.

— E não é? Ou vai dizer que sua esposa é uma miserável culpada?
— Ressaltando que antes eu estava agindo certo, Angelina era uma
megera. Hoje é minha megera que eu amo.
— Tocante. — Desconsidero bocejando de mentira.
— O fato é que a culpa não é minha que você pensou com o pau, mais
uma vez, e não priorizou sua família. Agora está aí todo se tremendo como
um mela-cueca.
— Não vai mesmo me ajudar?
— Não disse que não. Mas estou saboreando o momento de poder te
dar um esculacho. — Ele pega o celular, procura algo, toca na tela e leva o
aparelho ao ouvido. — Vou resolver isso agora, falar com uns contatos que
tenho. Os créditos serão meus.
— Ah rá! Mano! É isso aí, porra. Sabia que Plínio  Justiceiro não
iria ficar fora dessa. — Ele ri e faz sinal para eu me calar quando começa a
falar com a pessoa.
Eu fiz a melhor jogada. Fiz acordo com Michel , fiz a noiva dele saber
que tipo de homem ele é e agora ainda conseguirei comprar o prédio para
deixar meus amigos  sorridentes e de bem na fita com os clientes.
Agora, vou para a segunda parte do plano: cercar Karol  como eu já
cerquei muitas mulheres e consegui. O ingresso do concerto não me parece
uma má ideia agora.

 O ingresso do concerto não me parece uma má ideia agora

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TÉRMINO

Eu não contei a Pedro o que tinha acontecido. Preferi remoer
sozinha o que eu estava passando e sozinha chegar a uma conclusão.
Desde muito cedo sou independente e meus pais me obrigaram a ser
assim. “Para não apanhar da vida”, eles diziam. Não fui a garota que sofria
algum desaforo na escola e trazia a mãe no dia seguinte para tomar minhas
dores. E mesmo se eu tentasse, minha mãe diria: “Por que você não se
defendeu? Estava com a boca costurada?”
Ser independente é isso. Resolver os percalços do dia a dia sem
precisar recorrer a terceiros, senão a pessoa não conseguirá progredir um
passo, sempre vai precisar de apoio.
Mas quer saber? Uma única vez eu fui humilhada na escola por ser
bolsista. Nessa única vez, algumas garotas decidiram que era legal
derramar suco na minha roupa e dizer que eu estava estudando para ser
diarista porque em nosso país é isso que pessoas com pouco dinheiro  conseguem.
Antes de tudo, eu pensei se o confronto valia a pena. Averiguar a
situação é a coisa certa a se fazer em momentos de estresse. O que o agressor
esperava quando me insultou? Sim, atiçar meu ódio e mexer com minhas
estruturas. Esse era o tipo de ataque que elas esperavam, e então eu seria a
marginal, porque com certeza eu tiraria sangue de algumas bocas.
No fim, adivinhem quem seria punida?
Mas qual era o ataque que elas não esperavam e eu mostrei? Me virei
e caminhei até a direção, bem alto gritei: “Escuta aqui, existem leis nesse país
acho que ninguém aqui vai gostar de ver o nome da escola
em jornais. Se essas pessoas não pararem de me atormentar, nomes voarão na
mídia e todos sabem como esse povo ama crucificar escolas de elite. Tomem
uma providência.”
No outro dia tivemos uma palestra sobre bullying
moderna e incrivelmente eu durei na escola até o fim dos meus anos letivos.
Era um desafio para eu permanecer entre os primeiros da turma,
sempre. Ser o orgulho dos professores e dos meus pais. A ironia é que na
minha formatura do ensino médio eu tinha me tornado oradora da classe e
líder do grupo das populares, justo aquelas que tinham me zoado no início.
Perdão e vingança são primos de primeiro grau.

Te amo ( Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora