Belfast - Irlanda do Norte
Richard Barnes
Estava inquieto em seu apartamento, nada que passava na TV era atrativo. Desliga a mesma e segue para janela encostando sua testa ao vidro, pode ver seu reflexo, por instante observar seus olhos azuis inquietos.
Passa a mão pelo cabelo de um loiro escuro e bagunçado, sua barba a fazer contorna seus lábios finos e bem rosados que contrastam bem com seu tom de pele pálido.
Podia ver várias pessoas caminhando pela rua, conversando, sorrindo, mas se sentia mais seguro ali. Sozinho. Longe de todas elas, de seus pensamentos, de seus sentimentos e de qualquer coisa delas que pudesse absorver.
Podia se lembrar de sua mãe antes de passar aquele cristal para ele dizer "Embora digam que tenhamos que ser impermeáveis, somos esponjas, absorvemos tudo. Então fuja das pessoas, não deixe elas te destruírem como fizeram comigo."
Pressiona a testa com força contra o vidro e aperta os olhos como se tentasse se livrar daqueles pensamentos, daqueles sentimentos e de tudo aquilo que sentia. Seja dele, ou de pessoas que por falta de controle em sua habilidade absorveu mais do que devia.
Respira fundo tentando focar em qualquer coisa externa que desviasse seu foco de tudo que sentia internamente.
Sua atenção é desviada por Issa, que após passar por um portal o observa. A mulher é grisalha, aparencia um pouco cansada. Fitou os olhos castanhos em Richard:
— Devia sair, espairecer. Férias não foram feitas para ficar dentro de casa.
— Preferiria estar trabalhando.
Estar com Issa era a melhor companhia que podia ter, pois era a única pessoa que não o passava sentimentos, pensamentos ou algum tipo de emoção. Era a única pessoa totalmente apática.
— Eu te recomendo sair, conhecer uma garota talvez, é um homem livre.
Richard volta os olhos nela e embora soubesse que ela não tinha sentimentos, era como se por alguns instantes com ela tivesse sua mãe de volta.
Seguiu até o quarto e trocou de roupa, colocou uma calça de malha, fones de ouvido e uma camisa. Calça seu tênis de corrida e saiu dali.
Corria pelo parque que tinha próximo a sua casa escutando Beatles bem alto em seus fones de ouvido, era como se a música fosse outro refugio de tudo a sua volta.
Correu até o cemitério e parou agachando próximo a lápide de mármore de sua mãe. Por instante observou a foto dela ali. Sentia falta dos pensamentos, da loucura, não tinha nada dela que não fizesse falta, por melhor ou pior que fosse.
Podia se lembrar de segurar as mãos dela enquanto ela partia, e embora pudesse sentir tudo que ela sentia, daria qualquer coisa para sentir aquela sensação novamente. Foi a única vez na vida que sentiu aquele alívio. Sempre pensou que morrer era assustador, mas pode sentir que o medo dela não era de ir e sim de deixa-lo.
E quando ele disse que estava tudo bem e ela poderia descansar tranquila, ela sentiu alivio, paz. Então partiu.
Tinham quatro meses, mas era como se estivesse acontecendo ainda. Como se revivesse aqueles minutos o tempo todo, porque embora tenha dito o que ela precisava ouvir, não estava pronto para deixa-la ir. Talvez todos nunca estejam. Só se acostumam com o tempo.
Tocou a lápide e pode sentir gelada, um calar frio subiu por todo seu corpo e ao fechar os olhos, sentiu uma pressão em seu peito. Uma pressão muito forte como se todos os músculos comprimissem seus órgãos.
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Hereditários (PAUSADO)
Science FictionTudo parecia quieto, ou quase, até o pai de Claire morrer e deixar uma herança que ela jamais imaginou. Escolhida para manter o equilíbrio do mundo e canalizar o poder antigo de um deus, ela e outras doze pessoas, de diferentes culturas e personalid...