Cobra come Cobra

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— O casal de dinamarqueses vai aguardar a mercadoria no sábado às 06:00 da tarde próximo ao Hotel Maresia número 615, Avenida Oceânica, temos 2 dias para buscar o pacote e fazer a entrega. — Expliquei —— Non ti preoccupare noi vamo buscar oggi a tarde já está tutto combinato. — Disse César —— E como ficou a questão do valor? Ela aceitou a nossa oferta? — Perguntei —— All'inizio ela relutou um pouco ma dopo concordou. — Respondeu ele —— Ótimo, eu vou passar em casa e depois no banco e então vamos até lá para concluir a negociação. — Expliquei —— Certo, io vou pedir o auto do diácono Carlos preso in prestito. — Disse César —Eu e o padre César partimos de Guanambi em direção ao município vizinho de Igaporã, existem duas rotas: através da BA-573 que é uma rota mais curta, porém uma parte da estrada está em péssimas condições. A outra é através da BA-030 e posteriormente BA-430 que tem uma pista em melhores condições de trafego, todavia, o percurso é mais longo. Por fim, decidimos ir pelo caminho mais longo já que o curto parecia mais com o lado oculto da lua de tantas crateras que lá haviam. O potente motor do Opala SL, 1990 subia a serra dos brindes com facilidade, enquanto o padre César dirigia, eu checava os documentos falsos que Aberto Rizzo tinha providenciado para nós e para a mercadoria. Fiquei impressionado com a qualidade da falsificação. Ao passarmos por Caetité, paramos em uma loja de artigos infantis para comprarmos algumas coisas e logo seguimos viagem. Menos de uma hora depois estávamos passando pela avenida principal de Igaporã, entramos à esquerda e seguimos para a estrada no final do bairro Alto da Varginha. Essa estrada de terra dava acesso a uma comunidade rural chamada Boa Vista, quando o calçamento de paralelepípedos acabou eu já me preparava para o tormento, mas para a minha surpresa a estrada havia sido consertada a pouco tempo. "Eu odeio estradas esburacadas." Desse modo a viajem foi tranquila. Era uma tarde quente como muitas outras no sertão baiano, mas aquela estava sufocante, pedi para César ligar o ar condicionado, porém infelizmente o carro não era equipado com esse aparelho. Só me restou a opção de abrir o quebra-vento, que já foi ótimo, pois o interior do veículo parecia um forno. Depois de muita poeira e sol quente paramos em frente da porteira da Maria de Jesus, como na zona rural o silêncio predomina, o som do carro chamou a atenção dos moradores da casa, 5 crianças entre 3 e 7 anos saíram para ver quem estava chegando. Abri a porteira e entrei, o padre veio logo atrás, seguimos através do terreiro até a frente da casa, as crianças estavam sentadas no passeio de concreto da frente, quando nos aproximamos notei os olhares inocentes, porém curiosos por causa de nossa chegada. Quando cheguei mais perto percebi a deplorável situação das crianças, as maiores usavam trapos e as menores estavam nuas, falei para a menina mais velha chamar a mãe, ela obedeceu e imediatamente saiu correndo gritando MAINHA. Uma mulher trajando roupas extremamente velhas veio ao nosso encontro, nos pés, calçava sandálias de pneu, as pernas estavam repletas de cicatrizes, a saia com estampa de flores estava tão desbotada que mal dava para identificar os desenhos, a camiseta GG com a foto do prefeito estampada na frente, parecia um lençol no corpo franzino de Maria. — Boa tarde, vamo se achegá. — Saldou ela —— Boa tarde, senhora. — Cumprimentei —— Buono pomeriggio signora Maria. — Saldou o padre César —— Padre César, não se esqueça estamos no Brasil e não na Itália. — Falei —— Sì si, naturalmente às vezes até me esqueço. — Disse ele —— A bença padre. — Pediu Maria —— Dio ti benedica filha mia. — Abençoou ele —— Vamo entrá e sentá, eu vou fazê um cafézin pá nóis. — Convidou ela —Eu e o padre César sentamos em um banco de madeira na sala enquanto Maria fazia o café, as crianças nos espiavam curiosas, Maria chegou trazendo 2 copos. César pegou o dele e eu peguei o meu, assim que dei os primeiros goles percebi que o copo era uma embalagem de estrato de tomate reaproveitada. — Então Maria, pensou no que abbiamo parlato? — Perguntou César —— .....Sim, é, espera um poco, Alessandra, leva os minino pá brincá dibaxo do inbuzero! — Mandou Maria —Após se certificar que as crianças estavam longe, Maria retornou. — Sim padre... eu pensei muncho no que o sinhô disse e.........eu vou aceitá. — Disse ela —— È la decisione più corretta filha mia, assim tu poderá dar ao seus outros bambini uma vita melhor. — Disse César —— Eu sei padre, meus fi passa sufrimento demais! Eles me pedi as coisa, mais eu não tem condição de dá, hoje mermo, os minino cumeu farinha com mel de manhã e mei-dia nóis cumeu cortado de palma, as coisa tá difis demais. — Explicou ela — — Todo esse sofrimento vai passar dona Maria. A senhora nunca mais vai precisar ver seus filhos chorarem por causa da fome ou por um brinquedo que a senhora não pode comprar. — Disse eu —Maria ficou em silêncio por um tempo, enquanto ela derramava algumas lagrimas eu conferia o dinheiro. Entreguei o valor combinado a ela, ela pegou os envelopes com as mãos trêmulas e quase deixou um cair, depois Maria nos levou a um pequeno quarto com três camas de solteiro, duas na vertical e uma na horizontal. Num canto, um pequeno berço de madeira quase não era notado por causa da grande quantidade de coisas amontoadas no pequeno quarto. Maria abriu caminho retirando alguns brinquedos que de tão velhos pareciam ter sido achados no lixo. "Talvez tenham sido mesmo." Quando finalmente conseguimos passar por todos os obstáculos, conseguimos ver a mercadoria de perto. O produto parecia estar em boas condições apesar da pobreza da família, a pele era clara, os cabelos também. Maria começou a falar sobre como ele era calmo e quase não chorava muito e depois falou mais algumas coisas que eu não consegui prestar atenção, olhei no relógio eram 05:30 da tarde, precisávamos ir. — Já está tarde, precisamos ir, não se preocupe Maria, seu filho vai para um ótimo lar e terá a melhor educação possível na Europa. — Confortei-a —— Dio vai recompensar per questo atto de bondade filha mia. — Falou César —Maria pegou o bebê cuidadosamente, ele dormia profundamente e não acordou. Chorando, Maria deu um beijo na bochecha do bebê e o entregou a mim, eu o segurei com o máximo de cuidado possível, mesmo assim ele acabou acordando e começou a chorar. Aos prantos, Maria me entregou uma sacola com uma mamadeira e outras coisas. Quando eu e o padre César entramos no carro, pelo retrovisor, eu pude ver o momento em que Maria caía de joelhos na beira da porteira com as mãos no rosto, ela chorava e era cercada por seus outros filhos que não entendiam porque seu irmãozinho mais novo estava sendo levado por 2 estranhos. Fizemos o caminho de volta, paramos em um posto de gasolina para abastecer. Enquanto o funcionário enchia o tanque, César desceu para checar os pneus, depois de terminar, o funcionário disse a famosa frase. "Prontinho patrão." César retirou a carteira do bolso da calça social preta, mas ao fazer isso, deixou cair um papel retangular, semelhante a um cheque, ele rapidamente pegou o papel do chão e o guardou. Entregou o dinheiro ao funcionário do posto e guardou a carteira novamente, eu observei tudo pelo retrovisor sem que César percebesse. Ele retornou para o carro e estacionamos no acostamento da saída da cidade para que eu pudesse montar a cadeira do bebê no banco traseiro, pois eu já estava de saco cheio de ter que segurá-lo. Após dar a mamadeira para bebê, seguimos viajem deixando Igaporã e rumando para Salvador pela BR-242. O sol estava se pondo no horizonte e a temperatura caía aos poucos. Enquanto seguíamos rumo ao leste, eu checava os documentos falsos, mais uma vez fiquei impressionado com a perfeição com que foram feitos. Dificilmente algum policial que nos parasse em uma blitz perceberia que não eram originais, para descobrir que eram falsos só mesmo em uma minuciosa análise feita por um profissional. Guardei tudo em um envelope e pus no porta-luvas, reclinei um pouco o banco, tentei relaxar, já que dormir naquelas circunstâncias era meio difícil. César dirigia com muita atenção, mal piscava, já a mercadoria repousava em silêncio na cadeira acoplada ao acento traseiro, teríamos sossego por um tempo. Eu cochilava tranquilamente quando as rodas do carro passaram por um buraco no asfalto, despertei meio desorientado... olhei para trás, o bebê ainda dormia. "A mãe falou a verdade quando disse que ele era tranquilo." Olhei no meu relógio de pulso, eram 12:30 da noite. No acostamento, vi uma placa com os seguintes dizeres. "RESTAURANTE SABOR DO SUL, SELF-SERVICE". — Vamos parar nesse restaurante para comer alguma coisa, estou morto de fome. — Falei —— Vamos si, io também estou molto affamato! — Disse César —Estacionamos numa vaga perto dos banheiros, seguimos para a entrada, ao passarmos pela porta, um rapaz nos entregou uma comanda de plástico com um código de barras. Peguei um prato que mais parecia uma bandeja e comecei a preenche-lo com as mais diversas variedades de comidas. Haviam algumas que eu nem sabia o que eram. Após terminarmos de montar nossos pratos, eles foram pesados por uma moça que também pediu nossas comandas, ela digitou alguma coisa no computador e passou um aparelho que emitia uma luz vermelha sobre o código de barras das comandas, após todo esse processo nos sentamos para comer. César terminou de comer primeiro, se levantou e disse que iria pagar e me aguardar do lado de fora. Ele foi primeiro ao banheiro e depois passou pelo caixa na saída, estava agindo um pouco estranho, ele não costumava ser apresado, principalmente nas refeições, talvez fosse pelo prazo apertado que tínhamos para fazer a entrega do pacote. Terminei minha refeição e me dirigi à saída, paguei e votei para onde o carro estava estacionado. Vi de longe o padre César encostado na lateral do carro, ele estava falando ao celular, quando ele percebeu minha aproximação, falou alguma coisa e rapidamente desligou e guardou o aparelho no bolso. — Vamos Caim, non abbiamo tempo da perdere! — Disse ele —— Com certeza não temos. — Disse eu —Agora bem alimentados, continuamos seguido viajem rumo à capital, a viajem estava sendo tranquila, até aquele momento não tinha acontecido nenhum imprevisto, tudo corria às mil maravilhas, até o bebê começar a chorar. Tentei ignorar, no entanto, era quase impossível ignorar um som tão irritante como aquele. — Continue dirigindo, eu vou passar para o banco de trás para preparar mais uma mamadeira, não podemos parar, isso nos faria perder muito tempo! — Expliquei —— Tutto bene. — Concordou ele —Tive muita dificuldade para passar para o banco traseiro com o carro em movimento, minha perna acabou acidentalmente atingindo o câmbio de marchas, o carro deu um tranco, mas César conseguiu manter o controle, quando já estava no acento traseiro, tirei a segunda mamadeira da sacola que Maria havia nos dado e coloquei na boca da peste. "ENGULA ISSO E CALE A BOCA PORRA!" Felizmente ele começou a sugar o conteúdo da mamadeira e encerrou o berreiro, depois que terminei de alimentar o menino, ele voltou a dormir, teríamos sossego por mais um tempo. Enquanto ele dormia, fiquei a observá-lo... aquele merdinha era um garoto de sorte, ao invés de ter seus órgãos retirados e ser retalhado em pequenos pedaços, ele iria ser comprado por um rico casal Europeu, teria uma vida boa num país de primeiro mundo, enquanto seus irmãos mais velhos continuariam na miséria. "Moleque, você tem muita sorte!" Pus meu fone de ouvido. Após ouvir todas as músicas do álbum NERO 4 vezes, retirei o fone de ouvido e iniciei a leitura de um livro chamado INSANO CONSCIENTE que minha irmã havia me dado. Apesar do protagonista ser meio idiota, a história até que era interessante por se passar em uma realidade alternativa acessada através de sonhos lúcidos. Me distraí tanto lendo que nem percebi o passar do tempo, quando ergui as vistas para o horizonte, o sol já estava nascendo. Dei uma boa espreguiçada, dentro dos limites que o espaço do carro me permitia, baixei um pouco o vidro para sentir o vento no rosto. Uma grande placa verde anunciava. "Feira de Santana, 25 quilômetros" e outra logo à frente anunciava. "Restaurante Fogão à Lenha" César sugeriu que parássemos lá para tomar café da manhã. — Vamos parar qui para la colazione! — Sugeriu ele —— Vamos sim, preciso tomar um café para despertar. — Disse eu —— È questo odore? — Perguntou César —— Mas que merda é essa? — Perguntei —— È letteralmente una merda. — Falou ele —— Caralho! Não dá para respirar, baixe o vidro do seu lado! — Falei —— Sim claro! — Disse ele —— Acelera César! Temos que chegar logo ao restaurante para trocarmos a frauda dessa peste! — Apressei —— Non mi sento molto bene, você poderia cuidar da limpeza do bambino? —Perguntou César —— Tudo bem César, eu já estou acostumado a ficar com o trabalho sujo, um a mais, um a menos, não faz diferença. — Disse eu —— Grazie. — Agradeceu César —César foi direto para o restaurante e eu fiquei com a missão de trocar a fralda do garoto, abri o pacote de fraldas descartáveis e retirei uma, peguei um rolo de fita adesiva no porta luvas. O banheiro ficava na parte externa do restaurante e como a maioria dos banheiros de beira de estrada, estava imundo. Olhei ao redor e em todos os boxes para me certificar de que não havia ninguém, baixei a tampa do vaso sanitário e coloquei o bebê em cima, abri a fralda. "CARALHO! COMO ISSO FEDE! NEM CARNE EM PUTREFAÇÃO FEDE TANTO ASSIM!" Com cuidado, levantei as pernas do moleque e retirei a fralda cheia de merda e joguei no lixeiro ao lado, cortei um pedaço da fita adesiva com o dente e colei na boca do garoto. O levantei pelas pernas e fui até o box onde havia um chuveiro, liguei o chuveiro e pus o moleque de ponta cabeça com as pernas abertas debaixo da água fria até que toda a imundice saísse. Enxuguei o bebê, coloquei a fralda nova, levei de volta para o carro. Quando o coloquei no banco traseiro ele tremia e se contorcia, retirei a fita adesiva de sua boca e ele começou a berrar como um bezerro, pus a fita de volta no porta luvas e joguei a toalha em cima do moleque, fechei a porta do carro e fui tomar meu café da manhã. Prosseguimos viajem após o café, César pisou fundo, pois não tínhamos tempo a perder. O bebê repousava em sua cadeirinha acoplada ao acento traseiro e para nossa sorte estava calado. Avistei outra placa, agora faltavam apenas 6 quilômetros para Feira de Santana, logo estaríamos em Salvador. Os carros à nossa frente começaram a diminuir, provavelmente por causa de algum acidente... ou uma barreira policial. — César, fique com os documentos em mãos para que você possa mostrá-los rapidamente ao policial para que ele não tenha tempo de suspeitar de alguma coisa! — Avisei —Quando paramos na fila de carros, César retirou a carteira do bolso, mas ao fazer isso, um outro documento de cor vermelho escuro que estava no mesmo bolso apareceu parcialmente, mas eu pude ler "UNIONE EUROPEA, REPUBBLICA ITALIANA". A fila de carros seguia em marcha lenta, quando finalmente conseguimos nos aproximar, eu consegui ver do que se tratava, era uma barreira policial, mas aparentemente eles estavam liberando todos os carros sem fazer nenhum tipo de revista. Provavelmente deveriam estar procurando algo especifico, como um carregamento de drogas ou coisa parecida. Quando nossa vez estava se aproximando, senti um frio na barriga, apesar dos documentos falsos serem muito bem feitos, nunca se sabe, talvez o policial não fosse com a minha cara e resolvesse checar a veracidade deles. Chegou nossa vez! Respirei fundo, fiz minha melhor cara de tranquilidade, o padre César bancou o bom sacerdote, porém o policial não parecia estar interessado em nada daquilo, ele fez sinal para prosseguirmos. Após o breve momento de tensão, seguimos viajem sem mais problemas, passando pela segunda maior cidade da Bahia, Feira de Santana, pegamos um pouco de trânsito, mas logo conseguimos nos desvencilhar e continuamos o trajeto para nosso destino. Finalmente, depois de mais de 10 horas de viajem, entramos na região metropolitana de Salvador, César retirou o GPS do suporte e pediu que eu digitasse o endereço, o endereço do hotel, o GPS traçou a rota mais rápida possível. Pus o aparelho de volta no suporte preso ao para-brisa, olhei no relógio, tínhamos tempo de sobra até o horário marcado para o encontro. Como era de esperar, pegamos um pouco de trânsito, típico das capitais e para piorar o bebê voltou a chorar, mas como faltava pouco para chegar, controlei minha vontade de tapar a boca dele com fita adesiva. — Este bambino deve estar com fame. — Disse César —— Quando chegarmos ao hotel, eu vou procurar um supermercado para comprar uma daquelas papas para crianças. — Falei —Por sorte encontramos um supermercado ao entramos em uma rua estreita, eu saltei do carro e César seguiu em frente procurando um lugar para estacionar. Entrei no supermercado, passei por uma catraca e fui direto para a seção de frios, dei uma rápida olhada, não achei o que eu queria, depois caminhei até seção de perecíveis e lácteos e lá estava. Pequenos potes de vidro com desenhos ridículos na embalagem, peguei um pote qualquer e fui para o caixa, como sempre acontece nos supermercados, só havia um caixa operando dos 6 existentes no supermercado, sendo assim, fui obrigado a esperar quase quinze minutos em uma fila. "Eu me pergunto o que os outros funcionários estão fazendo? Talvez uma orgia?" Quando finalmente chegou minha vez e o valor apareceu na tela do computador peguei o produto e joguei o dinheiro em cima do caixa e saí sem esperar pelo troco. Com muito custo, encontramos um estacionamento próximo do Farol da Barra, deixamos o carro lá e seguimos até um banco na praia. Como eu já estava de saco cheio, entreguei moleque nos braços do César e disse para ele se virar, então César me surpreendeu com sua desenvoltura em alimentar aquele merdinha. César era um hipócrita! Dizia não saber lidar muito bem com crianças, mas cuidava de suas bonecas humanas por vários meses até o fim do prazo de validade. É claro que ele estava querendo se escorar em mim, me deixando com todo o trabalho duro, mas ele estava muito enganado se pensava que eu iria aceitar aquilo. Chequei as horas, faltava menos de meia hora para a chegada dos clientes, limpei a boca do bebê com um guardanapo, peguei o pote e a colher descartável e joguei em uma lixeira presa a um poste ao nosso lado. Olhei para o garoto, ele estava com uma aparência boa, estava limpo e bem alimentado e o melhor de tudo, estava quieto. Meia hora depois, um taxi branco com duas faixas na lateral, uma azul e a outra vermelha, estacionou em frente ao Hotel Maresia. De dentro do taxi, saiu um homem calvo de meia idade, ele ficou olhando para os lados discretamente, como se procurasse por alguém. — Vamos César, chegou a hora. — Falei —Eu fui na frente e César veio logo atrás com o menino nos braços, esperamos o semáforo fechar e atravessamos a avenida até onde o taxi estava estacionando. O homem, quando percebeu nossa aproximação pareceu aliviado. — Ainda bem que vocês chegaram. O Sr. e Srs. Rasmussen estão ansiosos para finalizar a negociação. — Disse ele —César, eu e o bebê fomos no banco traseiro e o Mister calvície foi ao lado do motorista. — Avenida Antônio Calos Magalhães, 224, Cidade Jardim, por favor. —Disse ele ao taxista —O taxista fez um gesto positivo com a cabeça e deu partida no motor, esse é um dos motivos que me fazem gostar de cidades grandes, aqui as pessoas são práticas! Elas não estão nem aí se você está traficando crianças ou vendendo órgãos, desde que pague pelo serviço prestado e não as comprometam, está tudo certo. O taxista era esperto, conhecia os atalhos para fugir do trânsito, em poucos minutos ele nos deixou no endereço que lhe foi informado. Nosso guia de cabeça reluzente pagou a corrida, descemos do veículo, o taxista tomou seu rumo. Ergui os olhos para ler um nome na fachada: "CLÍNICA CORPUS PERFECTUS" o nosso guia pediu que o acompanharemos, quando nos aproximamos da porta ela se abriu, um segurança já havia percebido nossa aproximação. Ele fez um gesto educado para que entrássemos e fechou a porta novamente após nossa passagem. Seguimos o homem novamente até um elevador, ele selecionou o terceiro andar, em segundos a porta se abriu. Continuamos seguindo por um corredor até uma porta com fechadura eletrônica. Ele digitou a senha tão rápido que eu não consegui acompanhar o movimento do seu dedo. A sala era aparentemente uma sala feita para procedimentos cirúrgicos, havia vários equipamentos e uma espécie de maca ou mesa, não sei ao certo como denominar aquilo. Sentados em banco, estavam o casal de dinamarqueses, em pé, perto da mesa de cirurgia, ou seja lá como se chama aquilo, estava um homem de jaleco branco, provavelmente um médico. O casal se levantou quando nos viram entrar, a mulher abriu um largo sorriso quando olhou para o bebê nos braços de César, o homem foi mais contido, não esboçando aparente entusiasmo. Nosso intérprete foi dialogar com o casal em dinamarquês e depois se voltou para nós. — Muito bem senhores, o Sr. e Srs. Rasmussen já gostaram do menino logo de cara, agora para concluir o nosso acordo o bebê precisa ser examinado para checar se ele sofre de alguma patologia grave. — Explicou o intérprete —César colocou o bebê deitado na mesa, o médico imediatamente começou a examiná-lo, com uma pequena lanterna, ele iluminou os olhos, a boca, em seguida o resto do corpo e por fim, retirou a fralda do bebê e examinou as partes íntimas. Recolocou a fralda, depois foi até uma pia, lavou bem as mãos, pôs luvas, pegou uma bandeja com alguns instrumentos, amarrou uma borracha no pequeno braço do garoto, umedeceu um algodão com álcool, passou no local e procurou com cuidado até encontrar a minúscula veia. O choro do menino tomou conta da sala, o médico levou o sangue retirado para outra sala. Enquanto o garoto berrava, a mulher parecia querer segurá-lo, mas o marido parecia pedir paciência a ela, ele deveria querer ter certeza da boa saúde do menino antes de ter qualquer contato com ele, quase uma hora depois o médico retornou. — A criança está saudável. — Anunciou ele —O intérprete traduziu e imediatamente o casal abriu um grande sorriso, a mulher pegou o menino nos braços e os dois ficaram olhando abobalhados para ele. Depois de alguns instantes o marido percebeu que ainda tínhamos um negócio para finalizar, ele abriu uma maleta e retirou 2 envelopes e entregou ao careca que em seguida passou para mim. — Aqui está seu pagamento, em Euro, como foi combinado, se quiser pode conferir. — Disse ele —— Não será necessário. Poderia chamar um taxi para nós, por favor? — Pedi —— Claro! — Disse ele —Antes de sair da clínica, abri os envelopes por precaução e fiquei aliviado ao ver a bandeira da União Europeia nas notas. Quando chegamos ao hotel, eu me sentia muito cansado, desabei na cama. César foi tomar banho deixando suas calças em cima da cama, quando escutei o som do chuveiro sendo ligado, aproveitei a oportunidade para tirar umas dúvidas que estavam me incomodando. Com cuidado, enfiei a mão no bolso da calça de César retirando uma carteira de couro marrom juntamente com um passaporte Italiano e uma passagem aérea para Roma, pus tudo de volta no lugar e voltei para minha cama. — Eu estou morrendo de fome, vou naquela lanchonete perto da praia comer alguma coisa, você vem? — Falei —— No, molto cansado já vou dormire. — Disse ele —— Você quem sabe. — Falei —Peguei minha mochila com o pretexto de passar no supermercado e trazer algumas coisas, a desculpa poderia ter feito César desconfiar de algo, mas ele parecia estar muito preocupado pensado em outras coisas. Deixei o envelope com a minha parte do dinheiro em cima da mesinha de cabeceira e saí, desci as escadas, fui até onde o Opala SL 1990 estava estacionado, olhei para todos os lados para ver se havia alguém por perto, como não vi ninguém, me agachei discretamente e retirei a tampinha da válvula, usando a lixa de um cortador de unhas, pressionei a pequena haste da válvula por um tempo até esvaziar o pneu. Coloquei a tampa de volta e saí do hotel, caminhei pela avenida olhando na direção da janela do quarto onde César estava, mas ele não estava me observando, continuei andado até chegar num ponto de taxi. — Ei jovem, chega mais! Eu estou livre, pode entrar! — Ofereceu o taxista —Entrei no taxi me sentando no acento traseiro, o taxista também entrou, obviamente no acento do motorista. — Para onde jovem? — Quis saber ele —— Um Opala SL 1990 vai passar por aqui a qualquer momento, eu preciso que você o siga. — Expliquei —— Oxe......eu não estou gostando disso, e se eu fizer isso e você encontrar sua esposa com outro e matar os dois? Aí eu vou preso como cúmplice. — Queixou-se ele —Dei uma grande gargalhada e realmente era sincera. — Eu não tenho namorada e muito menos esposa, a pessoa que vamos seguir é um padre que é suspeito de praticar pedofilia, meu nome é Alessandro Souza, sou investigador do Vaticano. Estou seguindo esse cara há dias para descobrir se ele realmente está cometendo tais barbaridades, caso confirme minhas suspeitas, colocarei esse safado na cadeia. — Expliquei —— Entendi, mas eu não sei se posso te levar... cara, isso parece meio perigoso, sei lá... e se ele desconfiar e tentar nos matar. — Disse ele —— Fique tranquilo, ele não desconfia de nada. — Assegurei —Joguei R$ 400 na mão do taxista para dar mais ânimo a ele, por fim, depois de hesitar um pouco, ele acabou aceitando. Fiquei observando o trânsito na avenida até que vi o Opala vindo, me abaixei e disse para o taxista esperar ele passar e então segui-lo à uma distância segura e não o perder de vista de maneira nenhuma. César tinha trocado o pneu mais rápido do que eu previ, ainda bem que consegui persuadir o taxista a tempo. César dirigia com aparente tranquilidade para quem está passando a perna em um sócio, depois de vários minutos seguindo César, perguntei ao taxista o que existia naquela direção. Ele disse que existia o aeroporto e algumas fábricas, mas para minha surpresa César não pegou o caminho que dava acesso ao aeroporto, em vez disso, seguiu direto, mas para onde estaria indo? Talvez buscar alguma coisa ou se encontrar com alguém. O município de Salvador tinha ficado para trás, agora, segundo o taxista, estávamos no município vizinho de Camaçari. Estávamos trafegando por uma área rural, César seguia a uns 300 metros à nossa frente, de repente ele diminuiu e entrou numa estrada de terra. Falei para o taxista ir com calma, mantendo sempre uma boa distância, enquanto seguíamos César, observei os arredores, havia grandes propriedades com plantações e criatórios de peixes e jacarés, César diminuiu e entrou em uma propriedade que já estava com a porteira aberta. Ordenei que o taxista parasse, desci do carro e disse que ele estava dispensado, ele deu meia volta e foi embora. Fui me esgueirando junto à cerca até a porteira da propriedade que o padre César esqueceu de fechar. Continuei seguindo agachado até um jardim ao lado da casa, escondido no meio das plantas, tentei fazer um rápido reconhecimento do local. A propriedade não parecia ser muito grande e não havia sinais de casas próximas, isso era bom. Tinha uma grande construção de concreto que parecia algum tipo de reservatório de água ou uma piscina rústica ou outra porra qualquer. A porta da casa se abriu, César desceu os degraus primeiro e logo atrás dele um homem moreno de cabelos cacheados que segurava uma garrafa de vinho e 2 copos. Os dois foram até o Opala, César abriu a porta do lado do motorista, inclinou-se para dentro do carro e pegou 2 envelopes bem recheados. César abriu um dos envelopes e mostrou seu conteúdo para o homem que arreganhou os dentes num sorriso, os dois se abraçaram e iniciaram um nojento beijo de língua, César desceu com a mão pelo peito do homem até agarrar com força seu pênis, depois o moreno encheu os copos com vinho, os dois brindaram enquanto caminhavam de volta para a casa. Oculto em meios às trevas e folhagens eu pensava na melhor estratégia a ser usada para resolver aquela situação da maneira mais discreta possível. Após um tempo de reflexão, pus minhas luvas de couro sintético, retirei dois dos meus acessórios da minha mochila e segui em direção a casa pisando macio. Quando cheguei na porta, girei a maçaneta com delicadeza e abri lentamente, entrei na casa pisando no chão como se ele fosse feito de vidro trincado, ouvi os gemidos do padre César e também ouvi uma respiração ofegante. Como uma cobra, rastejei rente às paredes até uma passagem que separava os cômodos, agachado, espiei para ver onde os dois estavam. César estava de quatro, debruçado sobre o sofá e o jovem de cabelos encaracolados estava de pé atrás de César segurando em seus quadris e fazendo o tradicional movimento de vai e vem. Mirei nas costas do ativo e atirei o dardo tranquilizante! Ele não teve tempo de tentar retirar o dardo e despencou de costas no piso da sala. César foi em seu socorro tentando reanimá-lo, enquanto César estava com as vistas baixas olhando para o homem caído, eu ataquei! César tentou correr, mas eu lhe apliquei uma rasteira, ele caiu e antes que se levantasse, saltei sobre ele passando minha corrente com argolas de couro em volta de seu pescoço. Pus meu joelho em suas costas e apertei a corrente com toda a minha força, César tentou tirar a corrente do pescoço, eu aumentei a pressão do joelho sobre suas costas e segurei firme. Ele foi enfraquecendo aos poucos até desfalecer completamente, retirei a corrente soltando sua cabeça que bateu contra o piso da sala. Fui até o lado de fora da casa procurando algo para carregar os corpos, encontrei uma carriola embaixo de uma árvore próxima à casa. Posicionei a carriola próximo à porta, arrastei os corpos um de cada vez, pus primeiro o corpo do moreno e levei até o carro. Quando eu estava abrindo o porta-malas para depositá-lo, fico curioso sobre aquela construção de concreto e resolvo ir até lá para ver do que se trata. "CARALHO! COMO EU SOU UM CARA DE SORTE!" O desgraçado tinha um criatório de jacarés na beira da casa, resolvi meus problemas alimentando os famintos répteis.

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