A creche

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23/12/2009 Guanambi BA


A infância é um período da vida do ser humano que começa com o nascimento e vai até os 11, 12 anos de idade. No início o indivíduo é totalmente dependente dos pais, somos realmente criaturas imprestáveis quando nascemos. Os repteis, por exemplo, já tem uma autonomia desde pequenos, mas nós humanos ridículos não temos a mesma sorte. Um bebê é uma das criaturas mais grotescas e insuportáveis do planeta, ele é barulhento, dependente, nojento, impotente e imprestável. E pensar que cada ser humano que vive hoje já foi um dia uma porcaria dessas. Sinto vergonha de mim mesmo por um dia ter sido um incapaz usando fraldas e recebendo comida na boca, ainda bem que não nos lembramos desse período lamentável de nossas vidas. Foi comprovado cientificamente que se uma criança lembrasse do momento do parto ela teria sérios traumas, isso mostra como a natureza é "perfeita", ela coloca tudo no seu devido tempo e lugar, mas o ser humano não é grato por isso, muito pelo contrário ele reclama sempre de tudo e nunca está satisfeito. Nas minhas andanças, observei nas ruas, parques, praças, escolas e creches um excesso de crianças, observei os pais buscando seus filhos na escola e percebi o quão irresponsáveis eles eram por ter mais de 2 filhos. A burrice do ser humano é tão grande quanto sua inteligência, os imbecis mesmo sabendo das dificuldades que enfrentarão para criar mais de 1 filho, ainda assim fodem e fabricam mais uma desgraça para habitar o mundo. Eu sempre ficava enojado quando ia até a creche Infância Feliz localizada no bairro Beija Flor da cidade de Guanambi BA para buscar minha irmã que lá trabalhava. Eu estacionava a moto em frente e ficava aguardando minha irmã sair, enquanto aguardava era obrigado a escutar gritos, choros e todo tipo de ruído insuportável feito por crianças. Um dia, uma das funcionárias se descuidou e uma das crianças acabou saindo para rua, eu estava na esquina justamente para ficar longe do barulho, mas observava tudo de camarote. Uma menina catarrenta de aproximadamente 3 anos de idade escapou e começou a atravessar a rua, no mesmo instante eu me virei de costas e posicionei o retrovisor da moto de modo que eu pudesse observar o espetáculo sem que ninguém percebesse a minha negligência. Lá estava ela andando calmamente sem ter noção do perigo que corria, era questão de tempo até um carro passar, casso isso acontecesse o motorista não teria tempo de frear, pois a creche ficava em uma curva que impossibilitava o motorista de ver se havia alguém no meio do caminho. Se fosse uma pessoa responsável, faria a curva com velocidade reduzida, mas nós sabemos que isso não acontece. Agora a tola menina estava parada bem no meio da rua, parecia até que o universo conspirava ao meu favor, de repente ouvi um som de pneus no asfalto. Meu coração disparou! "É AGORA! ELA SÓ PRECISA FICAR PARADA." No momento que o Golf branco apareceu na curva, um guarda de trânsito passou correndo e agarrou a menina, o carro passou a poucos centímetros deles. "MAS QUE FILHO DA PUTA ARROMBADO DO CARALHO!!!! POR QUE ESSA DESGRAÇA NÃO FOI MULTAR CARROS POR AÍ???" O motorista do Golf nem se deu ao trabalho de parar e seguiu seu caminho. Depois do ocorrido houve um certo tumulto na frente da creche, muitas pessoas queriam saber o que tinha acontecido, o guarda de trânsito deu uma bronca na funcionaria da creche responsável pelas crianças. Depois de muito falatório, aos poucos a multidão se dispersou e eu e minha irmã voltamos para casa. Depois de muitos aborrecimentos com a maldita creche, resolvi dar um basta, comecei a perguntar para a minha irmã sobre as pessoas que trabalhavam na creche. Então ela me falou de um a um até chegar à cozinheira, uma velha rabugenta que vivia reclamando de tudo, imediatamente arquitetei meu plano e quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi ligar para Patrícia. — E aí Patrícia como anda o açougue? — Perguntei —— Ha ha ha Caim, você nunca perde o bom humor. — Disse ela —— É o seguinte Patrícia, eu estou precisando de um produto potente para eliminar alguns insetos que estão me incomodando, você teria algo para mim? — Perguntei —— No momento o meu estoque está meio vazio, mas eu tenho um produto poderoso que resolverá seu problema com estes insetos. — Disse Patrícia —— Ótimo, qual é? E tem como você me enviar amanhã? — Perguntei —— Claro, amanhã mesmo enviarei 100 gramas de RICINA, é mais do que suficiente para resolver o seu problema com insetos. — Disse ela —— Eu sabia que você não me deixaria na mão. Obrigado, fico te devendo uma. — Agradeci —— Não se preocupe Caim, não te cobrarei tão cedo, mas te peço uma coisa, quando terminar de exterminar os insetos limpe bem a bagunça, você não vai querer que as visitas vejam a casa suja. — Aconselhou ela —— Relaxa Patrícia, eu sempre limpo a bagunça antes de receber as visitas. — Falei —Próxima ligação — E aí Roberto, como anda a limpeza das ruas? — Perguntei —— Caim, que surpresa cara! Fazia tanto tempo que você não ligava! — Disse ele —— É verdade, é que andei meio ocupado. — Falei —— Então cara, quando eu posso ir ao sítio do seu avô de novo? — Perguntou ele — — Calma, primeiro eu preciso de um favor seu, depois falamos sobre o sítio. — Disse eu —— Porra Caim! Faz um tempão que estou querendo ir lá e você fica me enrolando! —Reclamou ele —— Relaxa Roberto, eu prometo que te levo ao sítio depois que você fizer este favor para mim. — Prometi —— Ok cara eu vou confiar em você, então o que você quer de mim? — Perguntou ele —— Eu vou fazer uma limpeza em um certo local e como eu sou um cara muito generoso, vou deixar alguém levar o mérito por mim. — Expliquei —— Entendi e onde seria este lugar? —Perguntou ele —— Creche Infância Feliz. — Caramba! Tem certeza? — Perguntou ele —— Absoluta. — Respondi —— A honra será concedida à cozinheira, eu vou iniciar o trabalho e o resto é por sua conta. — Falei —— Ok, mas não se esqueça da sua promessa de me levar ao sítio! —Disse Roberto —— Fique frio, eu cumprirei. — Afirmei —Estava tudo arquitetado, eu só precisava desferir o golpe final, eu precisava de um pretexto para ter acesso à cozinha da creche, então fui até lá meia hora antes do almoço das crianças. Minha irmã estranhou eu aparecer lá naquele horário, mas eu disse a ela que eu precisava do seu celular emprestado para fazer uma ligação urgente, pois o meu estava sem créditos, então peguei o aparelho e disfarçadamente fui caminhado pelos corredores. Logo senti o cheiro da merenda, lá estava a cozinha, só havia uma pessoa trabalhando naquele momento, era a velha rabugenta. "Eu preciso tirar essa velha da cozinha!" Em um corredor que passava perto da cozinha, vi um cômodo onde eram guardados utensílios de limpeza, com cuidado, me esgueirei até ele, abri a porta e derrubei tudo que estava dentro, rapidamente me escondi em uma sala vazia. — Mas que zuada é essa? — Perguntou a cozinheira —— Devem ser aquelas pestes aprontando de novo! — Deduziu ela —— Olha só pra essa bagunça, agora eu vou ter que arrumar tudo isso! — Reclamou ela —Enquanto a cozinheira estava ocupada arrumando a bagunça eu rapidamente fui até a cozinha. O tempo era o curto, eu precisava ser rápido! Avistei um grande caldeirão de sopa e percebi que a cozinha era interligada com o refeitório, vi também uma refresqueira, era perfeito! Despejei metade do frasco de RICINA no caldeirão de sopa e a outra metade na refresqueira, misturei bem e rapidamente saí da cozinha. Quando passei pelo corredor vi a velha ainda ocupada arrumando as vassouras e baldes no depósito. "Relaxe senhora, logo não precisará mais se preocupar com estas pestes." Fui até onde estava Valentina e entreguei o celular a ela. Fui para casa aguardar o final daquela tragédia grega. Depoimento do socorrista do SAMU, Geraldo Machado Da Silva "Estou nesta profissão há 10 anos e nuca tinha visto nada parecido. Eu fico me perguntando o porquê de tanta crueldade com seres tão inocentes como crianças? Quando recebemos o chamado, jamais imaginamos algo dessa magnitude. 36 crianças morreram agonizando na nossa frente e nós não pudemos fazer nada, pois a quantidade de veneno ingerida foi enorme. Eu olhei nos olhos delas e pude sentir a dor que elas sentiam apesar de não ter sido envenenado, eu me sinto destruído por dentro."Como planejado, a primeira viatura de polícia a chegar à creche foi a doRoberto, e como combinamos, ele plantou as evidências necessárias para incriminar a cozinheira que foi condenada a mais de 300 anos de prisão pela morte das 36 crianças. No Brasil ninguém fica mais de 30 anos na prisão, mas como a velha já tinha mais de 70 anos, só sairia de lá para o cemitério. A notícia se espalhou e houve muita comoção e revolta na cidade, a prefeitura organizou um funeral coletivo em um ginásio de esportes e eu é claro, não podia deixar de comparecer.Assisti tudo de um bar em frente ao ginásio tomando um vinho e sentindo-me orgulhoso por mais uma missão concluída.

Diário de um PsicopataOnde histórias criam vida. Descubra agora