Querido, eu não preciso de grana para me divertir hoje
Eu adoro uma diversão barata
Mas eu não preciso de dinheiro
Enquanto eu sentir a batida
Eu não preciso de dinheiro
Enquanto eu continuar dançando
— Cheap Thrills, Sia
●●●
Mingi sentou-se no seu cantinho favorito do pequeno palco e abriu o compartimento onde guardava a Dory – nome carinhoso dado por sua irmã mais nova, Minsoo, ao seu violino de cor preta – e se pôs a afinar o instrumento com cuidado. O bar havia levantado as portas há alguns minutos e estava praticamente vazio ainda, e provavelmente a freguesia seria bem pequena considerando que a maioria das pessoas estavam passando aquele dia e noite de feriado com seus familiares, jantando em restaurantes chiques e assistindo programas de variedades juntos no sofá confortável da sala de estar, rindo das palhaçadas que faziam na TV e felizes pela vida boa que levavam.
Mas essa não era a realidade de Mingi.
O Song não tinha muitas aquisições de vida. Era um jovem de dezenove anos, cabeleira negra como uma noite sem estrelas, bolso vazio, roupas rasgadas e coração sempre apertado. De manhã, estudava como um condenado para honrar sua bolsa de estudos em fisioterapia, durante a tarde se esgueirava entre fazer seus trabalhos da faculdade e ajudar seu pai a entregar as marmitas para trazer dinheiro para casa, e a noite dava uma de músico num bar mixuruca que pagava-o mais mixurucamente ainda, mas pelo menos podia se distrair ouvindo as mais variadas histórias de bêbados que faziam-no rir e tocar com a Dory suas músicas favoritas até que seus dedos doessem e seu corpo pedisse arrego por uma noite de sono. Mingi não se lembrava da última vez que havia descansado de verdade com sua família ou não se preocupado com o que Minsoo teria para comer no dia seguinte, não se lembrava de um único dia em que tivesse vivido sem trilhos.
Quando os sons emitidos pelas finas cordas soaram bons aos seus ouvidos, Mingi deu seu trabalho como iniciado. Diferente da maioria dos músicos que conhecia, Mingi não sabia ler partituras ou cifras – reproduzia as músicas que sabia apenas pelo simples ato de ouvi-las. Tinha uma memória auditiva muito perspicaz e depois que escutava e aprendia a sequência e o ritmo de uma canção, nunca mais se esquecia. Isso também se aplicava a outros detalhes do cotidiano, como os pedidos específicos de cada cliente que ligava para o número comercial de seu pai, cada explicação de seus professores ainda que fossem conteúdos extensos e cada nome de cada um dos amigos imaginários de sua irmãzinha.
Mingi então começou a tocar, primeiramente uma música calma, um clássico de Bach que um de seus amigos do curso musical o ensinou uma vez. Não fazia muito o estilo largado do Song, mas não negaria que era uma música linda, com harmonias fortes e marcadas, um conjunto de altos e baixos que liam a alma. O garoto gostava especialmente desta, sempre seria grato a Seonghwa por este ter tirado um tempo para ajudá-lo.
Logo que ouviu a reclamação de um cara já bem alterado – nossa! Como esses velhos eram fracos para álcool – Mingi riu e decidiu tocar algo mais animado, mesmo que um violino, em seus primórdios, tenha sido criado para melodias suaves e emocionantes. Entretanto, deixava que seus braços e dedos se movessem fortes e seu corpo fosse guiado pelo ritmo viciante de Jay Park em uma música nada decente. Ouviu um soar de vozes mais contentes pela escolha e então deixou que estes aproveitassem em um novo brinde. Era até contraditório que, Mingi detestando bebidas alcoólicas, estivesse servindo de distração para bêbados já há quase quatro anos de sua vida. Estava há tanto tempo naquele bar que havia decorado cada fresta de ar e cada madeira solta do palco improvisado, decorado cada um dos principais clientes e o nome de cada bebida que a garçonete oferecia – a garota, como ele, não parecia muito satisfeita de estar ali e também não parecia ter outra opção para ganhar dinheiro. Sabia que seu nome era Junkyan e que em algum momento da vida havia perdido o irmão mais velho, mas nunca havia falado com ela. Não precisava disso, mas sabia que ela gostava de quando tocava músicas do Ed Sheeran, via que seu corpo relaxava mais e podia as vezes reparar em um pequeno sorriso, por isso costumava as vezes terminar seu expediente com esse artista para que ela ficasse mais feliz. Era o mínimo que poderia fazer já que Junkyan sempre lhe trazia uma pequena refeição, fosse um pão com patê ou uma porção de ramén com frango para que pudesse se alimentar ali, e sabia também que não era comida do bar, eles não serviam nada mais do que álcool e álcool; portanto, a garota trazia a comida de sua casa e partilhava com ele, por algum motivo. Empatia, talvez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre as linhas de suas canções 🧸 Jeong Yunho + Song Mingi [PAUSADA]
Fanfic[PAUSADA] Song Mingi é um jovem que toca clássicos do pop em seu violino todas as noites em um bar, em busca de uns trocados. Era uma ocupação vazia, mas, naquela noite em específico, se surpreendeu ao ver um garoto aparentemente bêbado se levantar...