Entre todas as memórias que acumulei
Eu escolho e junto as que são sobre você
Enquanto vejo elas projetadas pelo quarto
Eu sinto você em cada pontada de dor
— Film Out, BTS
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Mingi se cobriu do frio com o casaco pesado e segurou forte a alça da mochila, como também a maleta que levava Dory. Eram meia noite e quarenta e quatro; vira no ecrã do celular assim que um de seus pés tocou a sarjeta. As ruas escuras tomavam conta de seus passos e o ar gélido da noite resfriava sua respiração tensa. Havia um longo caminho até sua residência.Os minutos seguintes foram seguidos de passos acabrunhados; evitou olhar, sentir, passou por cada esquina sendo invisível aos olhos espreitos. Era assustador. Mesmo que atualmente não fosse mais uma criança medrosa, nunca saberia ao certo o que cada beco escondia, o que cada bloco de cimento gasto havia presenciado, o que a noite acobertava por entre a escuridão. Cada poste de luz amarelada causava calafrios, cada travessia durava uma eternidade mesmo que suas pernas fossem velozes, cada lata revirada lhe dava ânsia tanto como o cheiro de cigarro que parecia nunca se esvair; era uma marca daquele lugar. Marca como aquelas feitas nos muros, um vermelho vivo e louco que poderia ser do spray de vândalos ou do sangue de um inimigo de gangue. Ah, Mingi conhecia eles, se mantinha longe. Precisava se manter longe.
Avistou a casa de Somin. E logo então, a sua. As luzes estavam apagadas, e como sempre, entraria sem fazer barulho. Olhou para trás uma última vez, se assegurando de que não era seguido. Não viu qualquer vulto – isso não significava segurança. Entretanto, tirou a chave do bolso e deslizou seus pés até se considerar verdadeiramente protegido. Deixou a mochila ao canto da pequena sala com o sofá, conferiu as obrigações da próxima manhã pregadas no velho armário e se dirigiu ao quarto de seu pai. Mingi abriu uma fresta na porta, o suficiente para o assegurar de que o outro homem descansava bem, felizmente Eunwoo dormia profundamente e não notou a chegada do filho. Foi então que Mingi, ainda em silêncio e segurando Dory, andou até o quarto que dividia com sua irmã. Esperava também a encontrar serena em seu sono, contudo, não foi essa a cena que lhe ocorreu. Ao contrário, as frestas iluminadas das janelas denunciavam os joelhos dobrados junto ao corpo que tremia e demonstrava medo e isso assustou o Song mais velho, que prontamente se pôs ao lado dela.
— Soonye? O que... — E então Mingi reparou nos olhinhos molhados e inchados, na maneira como ela segurava o Senhor Timóteo, em como parecia tão pequena se escondendo por entre os cobertores.
— Hyung... Eu...
— Venha aqui — Mingi sentou-se na cama e Minsoo se aproximou de seu irmão, deixando ser tomada em um abraço por ele. — Teve um sonho ruim? — Ela confirmou, balançando a cabeça em um muxoxo triste enquanto se encolhia. — Me conte, o que aconteceu?
Minsoo fungou e coçou os olhos, apertando tanto seu irmão quanto Senhor Timóteo para que eles não fossem embora como em seus temidos pesadelos. A garotinha tremia de medo somente em tentar verbalizar as cenas que se seguiram por seu subconsciente. Era assustador.
— E-eu sonhei com a ma-mãe, ela estava me dando a mão e o hyung e o papai estavam esperando, — Mingi a afagou com cuidado e delicadeza para que se sentisse segura a continuar — mas então e-ela sumiu e levou o hyung e o papai embora e m-me deixou sozinha...
Aquele mesmo sonho.
— Ah, Soonye... Eu estou aqui, certo? Papai também está aqui e a mamãe também, ainda que como uma estrelinha, ela cuida de você — Mingi sentiu o nó se formando em sua garganta — nós não vamos embora e te deixar.
— P-promete? — os olhos salpicados de pequenas gotinhas salgadas buscaram pelos orbes de seu irmão grandão, na esperança de tê-los a protegendo. Nem sempre a senhorita Estrela Cadente se sentia forte para salvar o universo e ter o Capitão Minnie ao seu lado renovava suas energias para combater os pesadelos vilões.
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Entre as linhas de suas canções 🧸 Jeong Yunho + Song Mingi [PAUSADA]
Hayran Kurgu[PAUSADA] Song Mingi é um jovem que toca clássicos do pop em seu violino todas as noites em um bar, em busca de uns trocados. Era uma ocupação vazia, mas, naquela noite em específico, se surpreendeu ao ver um garoto aparentemente bêbado se levantar...