14 | A PEDRA SOU EU?

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Tudo veio como um turbilhão em minha mente, todas aquelas informações e aquelas palavrinhas escritas em papéis coloridos de post-its me fizeram ter lembranças que eu não sabia que tinha ou que sequer pensei em chegar a pensar que existiam. Mas quem sou eu, quem era eu antes e quem eu sou agora?

E mais coisas me vieram à memória, como o dia em que acordei no hospital sem saber o porquê de estar lá, até mesmo o dia em que meus pais tiveram uma briga bastante séria e não demorou muito até que eu me tornasse um caos, um caos de mim mesma. O que eu deveria sentir? Eu não sei, só sei que sentia tudo, desde a tristeza à raiva, eu estava decepcionada e até mesmo incrédula com o quão mentirosos todos eles foram em relação a mim.

Comecei a jogar exatamente tudo no chão, até mesmo algumas coisas como álbuns de fotografias devem ter voado pela janela, eu estava irritada, triste e queria que todos sumissem de vez.

— Tae-Ha, você não vem jantar? — Taeyong apareceu do nada na porta do meu quarto, eu parei de jogar tudo no chão por um momento e então o olhei séria, ele engoliu em seco mas não demonstrou nenhum tipo de reação.

— Depois. — Foi tudo o que eu disse voltando a fazer minha limpeza.

— O que você está fazendo? Você enlouqueceu? — Ele perguntou pasmo depois de eu jogar tudo o que tinha sobre a escrivaninha no chão, ele até mesmo tentou me segurar mas eu me esquivei.

— Uma limpeza no quarto, ou deveria dizer, uma limpeza em minha própria mente. — Eu senti raiva no primeiro momento e Taeyong pareceu notar isso, obviamente ele notou.

— Do que você está falando? — Taeyong de um momento para o outro ficou na defensiva, ele sabia do que eu estava falando, só não queria acreditar, ou melhor, ele não queria admitir a si mesmo.

— Eu sou problemática e sempre soube disso, mas vocês mentiram para mim? — Ri incrédula e percebi então que meu irmão me olhava com pena.

— Tae-Ha…— Ele murmurou engolindo em seco e eu só senti mais raiva ainda, porque ele estava sentindo pena de mim?

— Me diz, o que aconteceu comigo? — Eu exijo e ele apenas abriu e fechou a boca várias vezes, não dizendo absolutamente nada. — Eu estou te dando a chance de me dizer a verdade, mas você ainda está se fazendo de desentendido.

— Estão exaltados por que? — Minha mãe enfim veio ver o que estava acontecendo e ela era a última pessoa que eu gostaria de ver no momento.

— Mãe, não minta para mim. — Eu não chorei em momento algum, mas eu sentia que iria desabar a qualquer momento e antes que isso acontecesse e eu queria dizer tudo o que tinha vontade.

— O quê? Do que você está falando? — Ela perguntou e olhou para o Taeyong que apenas abaixou a cabeça.

— Cínicos.

A expressão da minha mãe foi de pura incredulidade enquanto que Taeyong passou a mão pelo rosto com um semblante descaído, ele parecia não saber o que dizer pela primeira vez e eu não sabia o que sentir. A única coisa que sei foi que doeu me sentir enganada, havia um nó na minha garganta, minha cabeça latejava e eu queria que fosse apenas mais uma enxaqueca mas era bem mais que isso. Eu passei anos tentando me encaixar, tentando me encontrar em mim mesma e tentando entender o que havia de errado comigo. Me martirizando por ser uma pessoa estúpida, alguém que ninguém jamais chegaria a se importar, eu me considerava bem menos que um grão de areia em meio a uma multidão e descobrir que havia toda uma história em meio ao meu passado, uma história que minha própria família acobertou apenas para que fingissem ser felizes, isso doeu.

One Percent of Love - Jung JaehyunOnde histórias criam vida. Descubra agora