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Com 16 anos descobri o que é "Bibliosmia".

Andrômeda, a orquídea lilás do meu pai, morreu está semana, ele agora está paranoico que isso signifique um mal presságio. Entendo a agonia, papai tem um dedo verde, em todos os meus não tão longos anos de existência, nunca vi uma planta sua morrer.

Tentei argumentar com ele que, a morte repentina da linda flor não significa que o universo está tentando ferrar com a gente ou avisar que coisas ruins vão acontecer. Provavelmente, seu óbito tem culpa da mudança de área dos jarros, que precisaram ser trocados pelo fato da construção da frente tapar o sol exatamente no local necessário, somado com o fator Cometa, que ficou muito interessado nas plantinhas depois da mudança repentina de local. É possível que a frágil orquídea só fosse alérgica a gatos mordiscando suas pétalas e se sentando em cima de suas folhas. Papai ainda não aceitou as explicações lógicas.

Talvez seja luto.

Tirando os momentos para discutir as causas, sobrenaturais ou não, do término do ciclo natural da vida de flores, e quando meu pai me chantageia emocionalmente para ver um episódio de Law & Order com ele, porque acha que eu preciso desopilar, eu estudo. Tipo muito mesmo. Eu achava que os terceiranistas que passavam com suas notas perfeitas no vestibular estavam exagerando quando diziam que deixaram toda a vida social de lado para focar nos estudos... Agora eu definitivamente entendo, a cada minuto que eu paro para respirar parece que estou perdendo o tempo de fazer meus quinhentos resumos atrasados e mais um simulado estilo ENEM completo.

Isso tudo e ainda (ou já?) é março! Eu acumulei tantos assuntos que fico em dúvida entre anotar em post-its o que eu ainda preciso estudar, ou jogar fora estes papeis que só me deixam extremamente ansiosa. Argh! Eu odeio esse mês! Se você ouvinte não for eu, e for um aniversariante de março, primeiramente, parabéns atrasado ou adiantado, segundo, não é uma ofensa, okay? Inclusive acho incrível quem nasce em março e traz uma felicidade aos amigos de ter algo para comemorar num mês tão pacato. Março é o mês da volta total da rotina, é o mês sem grandes feriados, e também, é o mês que você finalmente percebe que voltou a escrever com sua letra normal depois de tanto tempo sem tocar num papel. Terrível. Preferia minha letra horrorosa a precisar fazer um texto dissertativo-argumentativo por semana.

Estar no terceiro mês do ano também me lembra que a última vez que li um livro não didático por prazer foi em janeiro. E porra isso é irritante. Não tenho tempo pra ler, não tenho tempo pra ficar abraçada com meu gato dizendo que ele é o amor da minha vida, serio, eu estou tendo que deixar a porta do quarto fechada e fingir que meu coração não é estilhaçado quando ele começa a arranhar a porta tentando entrar, e depois de muito tempo desiste, ele iria me desconcentrar, queria ser desconcentrada... Também não tenho tempo pra ouvir música, ver filmes, e o pior de tudo, fofocar com as amigas.

Hoje eu decidi que precisava de um tempo só pra mim, não posso surtar faltando tanto tempo assim pro ENEM, então fui fazer algo que adoro, reler os agradecimentos e dedicatórias de livros.

Acho que releio mais estes, do que os livros em si. Na verdade, tenho sérios problemas para ler de novo um livro, mesmo que seja um grande favorito, ainda assim acho que a releitura nunca chega aos pés do sentimento de ler a história pela primeira vez. Mas com os agradecimentos e dedicatórias é diferente, aquilo é a única parte 100% pessoal de um livro, não é ficcional, é o autor falando diretamente sobre seus sentimentos, sem precisar fazer metáforas, frases de efeito ou diálogos belamente estruturados.

Gosto quando os escritores agradecem as pessoas que os fizeram acreditar que aquele sonho era possível. Não sei você, mas isso me dá esperança de que, não importa o que eu faça, alguém vai estar ali pra acreditar em mim.

Furacões Em JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora