capítulo 3

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Noite

Fiquei pensando na garota misteriosa o dia inteiro, estou incapaz de me concentrar  em qualquer outra coisa se quer ,desde quando desmaiei em seus braços e ao acordar perceber que ela não estava mais ali, isso me atormenta. O que eu realmente vi ali no metrô? Eu não conseguia distinguir o que era real ou não,  se a minha garota estava ali comigo enquanto eu a buscava com os meus olhos. Mas da sensação eu não consigo me esquecer,  por que é assim que me sinto toda vez que a vejo, e isso me persegue a bastante tempo.

Manhã, 29 de janeiro

Sentada na cozinha encaro meu café e percebo que ele esfriou, talvez eu deva pegar outro , ou talvez eu deva deixar como estar, me parece mais vantajosa essa idéia. De longe escuto seus passos vindo da cozinha e meu coração de alguma forma acelera.

-Deixou café pra mim esfomeada.
-Claro mãezinha, ele é todo seu.

O mínimo que eu tinha de humor na vida desaparecia toda vez que ela abria sua boca. Caminho até a varanda da  casa e procuro uma brisa pra me refrescar, hoje não precisei trabalhar na casa da senhora Sanches, ela me ligou minutos antes quando estava prestes a pegar o metrô para ir até sua casa, mas fiquei feliz com essa folga hoje, vou aproveitar e preencher alguns formulários de cursos,preciso sair dessa vida, preciso fazer alguma coisa realmente útil.

Enquanto procurava pelos formulários me peguei pensando no meu observador, em como ele estaria nesse exato momento, hoje cedo acabou desmaiando no metrô e eu não pude ficar lá para vê-lo acordar, espero que esteja passando bem.
Meus pensamentos são interrompidos pelos gritos da minha mãe que direcionava  para o seu namorado, eu gostaria de chamar a polícia mas de nada adiantaria,  esse pesadelo parece não ter fim, vou esperar o verão passar e as coisas  melhorarem pra me mudar o mais de pressa, enquanto isso vou aproveitar esse verão longo e achar alguma coisa por aqui.

Daniel

Eu me vejo em meu quarto olhando fixamente pela centésima vez na janela, o dia parece perfeito e o sol brilhava querendo atravessar as cortinas do meu quarto. Visto uma calça jeans e um camisa social branca,penteio moderadamente meus cabelos que não são tão longos mas o suficiente para bagunçar caso um vento forte me pegasse desprevenido.
Saio de  casa e ando, as pernas cansam um pouco percorrendo os quase 50 metros até chegar a padaria mais próxima onde vou tomar meu café e de lá seguirei em mais uma rotina de trabalho, como sempre os dias se parecem iguais.
Algum tempo depois já no metrô noto que meu vagão está vazio hoje.

-Será que é feriado e eu não estou sabendo?

Há pouquíssimas pessoas ao meu redor, todos bem distantes de mim. Fecho meus olhos e encosto minha cabeça na janela me deixando levar pelos pensamentos vazios, hoje está do jeito que eu gosto, o único som que eu ouvia era das frenagem estridente daquele metrô parando de estação em estação.  A essa hora da manhã o sol irradiava os bairros locais os enchendo de luz, dava pra sentir daqui de dentro o calor invadindo. As estações se passam e não vejo minha garota misteriosa, me pergunto por que ela não esperou que eu acordasse, queria tanto vê-la, saber seu nome.

Ouço alguns cochichos dos passageiros,percebo alguns me olhando atentos,  imagino ser por causa do meu desmaio recente. Tomo a iniciativa de me aproximar de uma senhora a minha  frente  que usava um lenço com estampa de flores sobre a cabeça.

- Com licença, a senhora estava nesse metrô ontem?

Ela me fita com um olhar de preocupação, de quem sabia quem eu era e o que que queria.

-Sim estava, e eu me lembro muito bem de você. Por que a pergunta meu jovem ?
-Gostaria muito de saber o que aconteceu de  verdade,  você viu quando eu desmaiei ?
- sim claro, ficamos muito preocupado com você, hoje se sente melhor ?
- Sim, bom... eu acho que sim. Vocês conhecem aquela garota que estava aqui? A que me socorreu?
- Não a conheço, mas sempre a vejo por aqui, na  verdade eu até pensei que vocês fossem namorados, o jeito que ela cuidou de você me pareceu muito especial.

Sinto um sentimento diferente em ouvir aquilo daquela senhora, agora mais do que tudo eu precisava encontrar minha garota misteriosa.

-Não, não somos. A verdade é que eu nunca se quer troquei duas palavras com ela.
-Vai atrás dela meu jovem,  acho que vocês tem muito o que conversar.

Os freios do metrô ecoaram mais uma vez dando sinal de mais uma parada, e eu guardei pra mim o que aquela senhora tinha me dito.

-Pode deixar, eu a encontrarei de qualquer maneira.

30 de janeiro

Manhã

Aconteceu algum problema com a linha hoje e  o metrô que seguia  para São Cristóvão foi cancelado obrigando a todos os passageiros dele a invadirem o meu, como se não bastasse aquele metrô ficou abarrotado de pessoas em pé, cada um buscando o seu lugar,  corpos pressionando o meu ombro, pernas invadindo meu espaço, sinto uma imensa vontade de sair empurrando todo mundo a minha frente, não conseguia injetar ar em meus pulmões direito, parecia não haver ar naquele vagão,  eu precisava sumir dali, estou ficando enjoada.

-Ei!

Disse uma voz distante se aproximando.

-Segure o meu braço.

De repente ele estica os seus braços e eu consigo vê-lo,  mesmo diante da quantidade enorme de cabeças me empedindo, e eu não imaginava essa minha reação, com nossas mãos esmagadas entres os desconhecidos daquele metrô, ele me puxava e eu ficava cada vez  mais próximo a ele. Quando enfim nossos corpos se encontraram eu não conseguia dizer mais nada além de sentir meu corpo despertando ao gritos da minha  mãe.

-você vai levantar ou eu vou ter que lhe arrancar da cama?

Ela gritava e ao mesmo tempo dava socos bem forte na porta do meu quatro.

-Ja estou indo mãe!

Ouço seus passos se afastando da porta e então me vem um alívio naquele instante.

-Quando esse inferno um dia vai acabar?

Deito mais uma vez olhando para o teto e fico por ali mais alguns minutos me perguntando o porquê de eu está sonhando com aquele garoto.

A garota que deixei partir Onde histórias criam vida. Descubra agora