ManhãÉ difícil me concentrar quando estou na terapia, tento não pensar em milhões de coisas aleatórias que vem na minha mente, eu preciso me concentrar, tenho falado nas consultas sobre o que aconteceu na minha adolescência depois daquele trágico dia no barco e as consequências que isso vem causando na minha vida.
-Ele nem se importou com a minha pouca idade, e eu disse que tinha apenas 16 anos.
As palavras pareciam pesadas naquele momento, olho para o doutor e vejo que ele me olha fixamente e em uma pausa se ajeita na cadeira balançando a cabeça em sinal de concordância, com o seu silêncio sinto que devo continuar falando.
-Até que eu era bem feliz, aos poucos vinha superando tudo aquilo que aconteceu comigo, mas eu ainda sentia falta da Angélica, do Toni, dos meus amigos.
-E por que se afastou deles se estava tão feliz?
Não achei que me faria essa pergunta, foi tudo rápido demais e eu não estava pronta pra contar tudo, não hoje, sinto que é cedo demais.
-Eles me abandonaram, partiram meu coração.
É tudo que eu consigo dizer naquele momento, no fundo tem um pouco de verdade mas também um pouco de mentira, não sei quando estarei pronta pra revelar toda a verdade.
Noite
Na volta da terapia fui atropelada por uma bicicleta ao atravessar uma ciclovia. Vale lembrar que eu estava sóbria, talvez um pouco distraída, mas isso não dá a condição daquele babaca passar por cima de mim.
-Deus por que me odeia tanto? Ser atropelada era tudo que eu não precisava agora...
No chão percebo o movimento de algumas pessoas me encarando e querendo saber quem acabava de ser atropelada e estava com um corte no meio da testa, ele deve ter uns 2 centímetros acompanhado por um galo enorme.
"Como isso dói ", essas são minhas palavras naquele momento de dor enquanto um rapaz de alma caridosa me ajudava a se levantar. Nem sinal do meliante da bicicleta, a essa hora já deve está em casa tentando consertar sua bike que provavelmente está toda quebrada, "ele passou por cima de mim cara, que filha da puta", sussurro em voz baixa para não chamar atenção de ninguém naquele momento.
Ao chegar em casa Raquel logo se assusta com o meu ferimento.
-O que houve dessa vez? Em qual confusão se meteu?
Reforço a história para minha mãe de que fui atropelada.
-Tem certeza disso?
Ela diz examinando minha testa por alguns segundos.
-Não parece que você foi atropelada e sim que alguém que lhe acertou com uma forte pancada , com um porrete nas mãos.
-Que horror mãe, por que alguém faria isso comigo?
Digo e sinto um enorme arrepio só de imaginar que alguém um dia poderia tentar contra minha vida.
—Não, foi uma bicicleta , todos viram quando eu já estava no chão e bastante irritada.
Tento convencer tanto ela quanto a mim de que tudo aquilo foi real.
-Tudo bem filha.
Ela se afasta novamente agora com um sorriso no rosto e olhando fixamente para mim.
-Você precisa tratar melhor essa ferida, acho que tem algumas coisas pra fazer curativo, Já volto.
Então ela some no final do corredor e me deixa feliz em saber que posso contar com minha mãe ainda.
Daniel
Não consigo tirá-la da mente, sinto meus pensamentos constantemente envoltos na minha garota misteriosa que um dia cruzou meu caminho. ''Quem era ela? O que escondia por trás daqueles olhos penetrantes?'' me sinto cada vez mais atraído e estou determinado a desvendar os segredos que a envolvem.
Manhã
O metrô estava lotado naquela manhã chuvosa de sexta-feira. Setembro apertava-se em seu assento próximo à janela enquanto o trem sacolejava pelas curvas subterrâneas da cidade. Seu livro estava aberto, mas sua mente vagava entre as páginas e os rostos dos passageiros.De repente, uma voz cortou seus devaneios."Com licença, posso me apoiar aqui?"Era uma voz suave e familiar. quando olhou para cima e encontrou os olhos gentis de Daniel, seu coração acelerou um pouco mais do que de costume."Claro, sinta-se à vontade", respondeu ela, movendo-se um pouco para dar espaço.Daniel sorriu e se acomodou ao seu lado.
-Faz alguns dias que esperava por você, o que houve , está fugindo de mim?
Seus olhos encontraram os dele, mas algo parecia diferente. Havia uma sombra de tristeza em seu olhar.
"Setembro , você está bem?" Daniel perguntou, preocupado. Seu coração acelerava a cada segundo, ele sabia que aquela não era uma introdução promissora para a conversa que estava por vir.
-Eu tenho pensado muito sobre nós", Setembro começou, desviando o olhar.
Daniel segurou a respiração, esperando pelo que viria a seguir.
-Eu... Eu não posso ser seu amigo Daniel .
A confissão atingiu Daniel como um soco no estômago. Ele não conseguia entender. "Por quê? O que você quer dizer com isso?"
Setembro abaixou a cabeça, brincando com as folhas caídas ao seu redor. "É complicado. Eu... Eu tenho segredos, coisas do meu passado que eu não posso compartilhar.
Daniel sentiu uma mistura de frustração e tristeza.
-Eu não me importo com o seu passado. Eu só quero estar ao seu lado."
Ela olhou para ele, os olhos cheios de dor. "Eu sei, Daniel, e eu queria que fosse fácil assim. Mas há coisas sobre mim que você não sabe, coisas que poderiam colocar você em perigo se eu "ficasse."
-Setembro você precisa confiar em mim, eu não posso te ajudar se eu não souber o que está acontecendo. Eu não me importo com os perigos , tudo que eu mais quero é te ver feliz e eu estou disposto a ir até final por isso , por favor , confie em mim .
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Setembro. Ela queria acreditar nas palavras de Daniel , queria ficar com ele mais do que tudo. Mas o medo a prendia, o medo de colocar a pessoa que estava aprendendo a amar em perigo.
-Eu sinto muito, Daniel.
murmurou ela, levantando-se do banco enquanto o metrô anunciava mais uma parada .
- Eu não posso fazer isso com você.
E antes que Daniel pudesse dizer mais alguma coisa, Setembro virou-se e partiu, deixando-o sozinho no metrô , com o coração cheio de angústia e perguntas sem resposta.
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A garota que deixei partir
Mystery / ThrillerDaniel é atraído por uma garota que ver todos os dias embarcando no mesmo metrô que ele, sem saber o seu nome ele busca de todas as formas se aproximar da garota misteriosa antes mesmo que que o destino faça que esse encontro jamais aconteça.