Manhã
Hoje é sábado e aproveitei pra acordar o mais cedo possível, ao invés de ficar me enrolando nos lençóis da cama resolvi fazer uma caminhada. Tenho vivido uma vida muito monótona sem perceber, casa metrô e trabalho, percebo que tenho me isolado e as vezes me esqueço de tudo, do mundo aqui fora, resultado disso são minhas insônias e ataques de ansiedade constante.
Saio e percorro alguns quarteirões, presto bastante atenção nos detalhes de cada rua e estabelecimento, viro a esquerda na rua Bambore e dor de cara com alguns bares e casas de show, eu gostava muito de frequentá-las com Toni e Angelica , e também o seu namorado chato, o Vitor. Me lembro de sempre me diverti com eles, Só não lembro o por que paramos de ir, ou talvez eu lembre, talvez eu não gostasse daqueles lugares, daquela vida, pessoas que bebiam por todos os motivos possíveis, jovens e até mesmo adultos acima dos 40, cada um com seu par, outros na fome insaciável de paquera, então talvez tenha sido isso que me fez parar de ir, eu não curtia muito está naqueles lugares.
Toni, meu ex namorado insistia em viver uma vida sem regras, conheci ele no 3° ano, Angelica minha melhor amiga dizia que fomos feito um para o outro, mas durou apenas 6 meses, tanto Angelica como Toni desapareceram da minha vida. Durante minha caminhada penso nele e no meu passado, tenho medo de encontrá-lo novamente, dele saber que minha vida continua uma porcaria e que ele estava certo em me deixar, não quero que ele veja o fracasso que fui e que continuo sendo. Fico imaginando o início da minha decadência tentando lembrar onde errei, onde foi o começo de tudo. Sinto que as lágrimas vêm, noto que algumas pessoas me observam enquanto caminho, mas não ligo,eles não sabem, podem pensar que perdi alguém querido ou meu animal de estimação, talvez pense que estou morrendo por causa de alguma doença grave, o motivo não importa, ambos me levam cada vez mais ao fundo do poço.
༺═──────────────═༻Aos 28 anos imaginei está ne uma bela casa com Toni, talvez um ou dois cachorros, a realidade é que eu ainda não conseguir me livrar da minha antiga vida, estou estacionada a onde comecei . Me lembro dos nossos planos , do querer um Jardim, das cores das paredes, dos cômodos vazios prontos para serem preenchidos do modo que a gente achasse melhor, eu tinha sonhos, e gostava de deitar pensando neles todos os dias, a onde foi parar essa parte da minha vida? Talvez tenha sido nesse exato momento, quando pensava em nós, em ter nossa família que Toni me desprezou , foi aí que tudo desmoronou e eu perdi meu chão. Deixo minhas lágrimas caírem até o metrô fazer sua primeira parada, então me dou conta de que estou aqui mais uma vez cruzando de estação em estação.
Me recomponho enxugando as lágrimas, pego o celular e procuro uma playlist adequada pra aquele momento, duas coisas me faziam chorar, minha vida e as músicas da Adele. Quando o metrô faz sua primeira parada ergo os olhos e vejo ele entrar, ele olha diretamente para mim com um olhar diferente e tenho uma sensação estranha de que ele está triste, mas logo em seguida ele sorri pra mim, eu retribuo e o vejo se aproximar, mas noto que ele se levanta segue para o vagão logo atrás de mim, e então o perco de vista.
Daniel
Ultimamente tenho conversado bastante com minha tia Sandra e como tenho aproveitado minha vida da pior maneira possível, eu achava que estudar direto seria a melhor escolha possível mas vejo que ao acordar todos os dias pela manhã e ter que encarar essa realidade tem sido cada vez mais frustrante. Talvez eu devesse olhar um pouco para o passado, na época em que eu amava a idéia de me tornar um bombeiro, eu jurava de pés juntos que salvar vidas seria minha maior missão, mas não sei em que parte da minha vida esse sonho se partiu, agora vejo que quanto mais minha fase adulta se aproxima vejo o tanto que estou frustrado com tudo ao meu redor, e eu odeio me sentir assim.
Enquanto penso em minhas frustações percebo o metrô se aproximando. Ele para ligeiramente em minha frente, dou passos curtos e já estou dentro dele. Sinto uma lágrima escorrendo no lado direito do meu olho, rapidamente enxugo para que ninguém no metrô perceba. Me apoio enquanto o metrô da a partida, seguro firme e com os olhos um pouco marejados noto a minha garota misteriosa, ela estava sentada com seu velho e companheiro fone de ouvido, gostaria muito de saber o que ela escuta, qual sua música favorita, eu poderia compartilhar com ela as minhas preferidas também. Decido me aproximar, dou passos lentos segurando firme na base de ferro a acima enquanto o metrô chacoalha, eu sorrio para ela que imediatamente sorri de volta para mim e quando eu menos percebo já havia passado do limite do seu assento, e eu já não tinha mais coragem de me aproximar da minha garota misteriosa.
Me assento numa poltrona mais a frente e fico imaginando como seria sentar ao lado dela, dar um um bom dia , perguntar como ela vai, me apresentar e dizer o meu nome e ansiosamente esperar que ela diga o seu. Afinal é só uma cortesia de passageiros, creio que ela não se sentirá incomodada se eu me aproximar. Me perco em pensamentos tentando lembrar da última vez que mantive contato físico com alguém , um abraço, um aperto de mão que seja, eu sonhava tanto com o nosso primeiro contato desde o nosso primeiro olhar.
-Eu não posso mais adiar esse encontro, eu vou até lá sentar ao lado dela.
"Próxima parada em 2 minutos "
Por alguns segundos começa um alvoroço naquele metrô, ele estava prestes a fazer mais uma parada. O barulho das pessoas com pressa se movendo até as portas de saída aumentava a cada freiada do metrô e eu não tinha percebido que fiquei tempo demais parado esperando pra tomar um decisão de falar com minha garota misteriosa. Me levanto e tento me apoiar para não correr o risco de sofrer uma queda. Tento localizar ela em meio a multidão de cabeças ne um curto espaço a qual me pertencia mas é em vão. Fecho os olhos por alguns segundos e pronto, lá se foi mais uma vez minha garota misteriosa, não há nada mais para ver.
Chego na estação e vejo o metrô ganhando velocidade partindo mais uma vez nos deixando para trás. Ainda perto dos trilhos me pergunto, como será o dia de hoje ? Vejo pessoas circulando esperando as próximas viagens, cantinas lotadas ,algumas pinchadas com diversas frases,umas de motivação outra nem tanto, uma me chamava a atenção " No trem da vida as lembranças vão nos trilhos e a saudade na fumaça "
-Quanta poesia, pena que ninguém se importa.
Enquanto eu prestava atenção naquela frase uma voz que acompanhava com um cheiro forte de cigarro susurrava bem ao meu lado. Me viro imediatamente a fim de me estressar com quem acabava de me sufocar com aquele cheiro terrível.
-Sabe que eu li recentemente que um metrô é capaz de arrancar as roupas de uma pessoa ao passar por cima do corpo?
Não sei bem ao certo se foi realmente essas palavras que ela tinha mencionado, eu estava tão vidrado quando percebi que era ela, a garota misteriosa agora estava bem a minha frente.
-Olá, você está falando comigo?
Demoro um pouco a perceber que ela estava chamando a minha atenção.
-Sim cara, estou vendo que você está perto de mais dos trilhos, não está pensando em se jogar na frente do metrô não é mesmo? Ouviu o que eu acabei dizer?
Dou uma leve gargalhada sem jeito, eu não fazia idéia no que dizer naquele momento.
-Não não, fique tranquila. Por mais que eu esteja insatisfeito com minha vida eu jamais teria coragem.
-Não é tão incomum assim morrer atropelado por um metrô, são 200 a 300 mortes por ano dizem.
-Nossa, você é boa com estáticas né...
-Mais ou menos. Então considerando que seja 2 mortes a cada dois dias se afaste desses trilhos, não queira entrar nessa estática.
Enquanto ela falava mais um metrô se aproximava rapidamente.
-Bom, chegou mais um, eu vou nesse. Até mais ver.
- Ei espera...
Aceno para ela quando a vejo indo embora...
-Qual o seu nome?
Ela dizia enquanto as portas se fechavam, eu não conseguia entender o que ela estava dizendo devido ao barulho imenso das ferragens do metrô. Ela partia mais uma vez, e eu ainda não sabia o seu nome, mas estou feliz de ter me aproximado por um instante da minha garota misteriosa.
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A garota que deixei partir
Gizem / GerilimDaniel é atraído por uma garota que ver todos os dias embarcando no mesmo metrô que ele, sem saber o seu nome ele busca de todas as formas se aproximar da garota misteriosa antes mesmo que que o destino faça que esse encontro jamais aconteça.