capitulo 1

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Daniel

Qual será o seu nome?
Queria ter dito pra você não se preocupar, e que tudo ia ficar bem, quando a vi pela primeira vez parecia triste, seu semblante era de choro. Eu realmente queria ter me aproximado, mas algo me impedia ,então resolvi ficar dali a uns poucos metros distante ,a observando enquanto o metrô que sai de Del Castilho fazia sua primeira parada.

Garota misteriosa

As vezes me pego chorando o tempo todo, eu estava sentada no sofá pensando em acabar com tudo enquanto algo em meu bolso vibrava, era meu celular me avisando que já deveria está no metrô. Aliás, eu odeio ter que pegar metrô odeio ter que ver pessoas me encarando como se elas se achassem no direto, é sempre tão cheio e apertado, há sempre um olhar de julgamento , eu só queria desaparecer daqui e nunca mais existir.

Rio de Janeiro, 21 de janeiro 2018

Fui o último a sair do restaurante , mas só percebi que fiquei tempo de mais ali quando avistei o garçom vindo em minha direção virando as cadeiras sobre a mesa.

-Senhor Daniel , deseja mais alguma coisa? Estamos prestes a fechar o estabelecimento.

-Não,obrigado já estou se saída.

Apanho minha bolsa e deixo o pagamento sobre mesa enquanto me retiro do restaurante.

-Obrigado pela gorjeta senhor.

Sigo de volta a caminho da estação enquanto me pego pensando mais uma vez naquela garota misteriosa.
O barulho do metrô na maioria das vezes é estridente, vivo tomando solavancos e a minha volta sempre a alguém reclamando e irritado com a velocidade dele. O trajeto é de aproximadamente 1 hora e 40 minutos, percurso que faço de segunda a sexta pelos trilhos do Rio de Janeiro. Ele segue veloz e do lado de fora observo as casas se movendo rapidamente, de dentro observo meus companheiros de viagem cada um com suas peculiaridades, uns foleando jornais, a maioria com seus celulares falando bem alto, as vezes com um tom de briga com o ouvinte do outro lado da linha. Ouço música no vagão mais a frente, há sempre músicos mostrando seu talento durante o percurso. O metrô se aproxima de uma ligeira curva e segue reduzindo a velocidade, reparo que meu destino enfim está chegando.

Manhã, 22 de janeiro 2018

Hoje é terça feira, sigo mais um dia de rotina, as 7:04 pego o metrô. Como sempre em sua primeira parada as  7:10 observo os passageiros entrar, mas ela sempre me chama a atenção, cabelos cheios e ondulados, sua pele morena coberta por um moletom preto e um Jeans rasgado na calça, o que nunca entendi o porque já que aqui no Rio raramente faz frio, eu transpirava só de olhar para ela . Com fones em seus ouvidos dava pra ouvir os ruídos bem alto, um ótimo tutorial de como ficar surdo.
Mantenho meus olhos fixos nela sem que a mesma perceba, o que acho improvável, toda atenção dela está no celular com sua música incrivelmente alta. Diferente de ontem ela não está mais com um semblante de choro, o que me aliviava um pouco, eu não sei o por que mas sinto que deveria falar com ela, essa angústia não me abandona nunca, quem é ela?

-Olá, tudo bem? Me chamo Daniel, qual o seu nome?

Sussurro olhando para o chão.

-Droga, por que é tão difícil, são apenas algumas palavras.

Sempre me faltava coragem de me aproximar. Ela ficava do lado direito enquanto eu do lado oposto, gostava de ficar nas janelas repousando sua cabeça sobre elas admirando a paisagem. Morei em Del Castilho a minha vida toda, até mesmo depois de perder meus pais ambos vítimas de um acidente de carro, eu tinha apenas 15 anos . Depois dessa tragédia fui morar com minha tia Sandra, atualmente moro sozinho, meu percurso de todos os dias me leva até Jardim oceânico onde fica o escritório de advocacia a qual trabalho, um mero recém formado em direito buscando seu espaço.

Ao parar em mais uma estação olho mais uma vez para ela, lentamente dou passos em direção a porta, percebo seu rosto se movendo em minha direção. Não sei ao certo se ela olhou para mim, mas já era tarde demais, eu estava com os pés na estação fora do metrô enquanto acompanhava ele desembarcando novamente levando minha garota misteriosa.

Garota misteriosa

É manhã e o calor só aumenta, mas nada vai me impedir de usar meu moletom favorito. Eu odeio o clima do Rio, ainda são 7hs e está esse calor insuportável, queria tanto que chovesse, mas olho pro céu e não encontro uma nuvem sequer, bem provável que tenha sol o dia inteiro.
São 7:10 e observo o seu barulho irritante se  aproximando,em instantes começa uma aglomeração na estação e todos se preparavam para entrar ,alguns atrasados gritavam de longe numa corrida contra o tempo para entrar no metrô, em segundos aquele lugar já se encontrava cheio. Entro e tomo meu assento, vantagem que  tenho de sempre chegar cedo, sentada consigo acompanhar a confusão que é  a disputa por um  lugar. Meu destino era  Jardim oceânico ,vou fazer uma entrevista pra ser acompanhante de uma senhora  cheia da grana, tenho certeza que vou odiar  esse emprego,  mas minha mãe me obrigou a está aqui,  disse que se eu não arrumasse um emprego logo me  expulsaria de casa, é o jeito dela de dizer que me ama, então aqui estou tentando arrancar dinheiro de uma senhora, espero que ela facilite as coisas pra mim.

Os minutos se passam e esse babaca não tira os olhos de mim, já é terceira semana seguida que ele senta na mesma poltrona, eu fico do lado direto e ele do meu lado esquerdo, percebo o  quanto ele me olha, deve me achar muito estranha,ou é mais um desses rapazes galanteador  que só querem saber de  pegar todas  as meninas solteiras possível, e eu os odeio por tal pensamento. Eu sempre finjo que não percebo,mas eu o  vejo o  quanto me olha, é como se  ele  quisesse dizer algo a  mim, mas de alguma forma lhe falta coragem. Eu esperava mais dele, mas tudo que ele sabe fazer  é ficar com a cabeça baixa disfarçando pra que eu não perceba, mas eu o vejo.

-Qual o seu problema garoto? Vai ficar me encarando por quanto o tempo?

Sussurro bem baixo, essa era as palavras que eu  gostaria de dizer para ele todos os dias naquele mesmo metrô.

O metro segue mas agora percebo que está próximo de parar,  pego o celular, ajeito meus fones e seleciono uma nova play list. O barulho dos freios aumentam e quando ele enfim faz uma parada  vejo que ele se levanta e se aproxima da porta. Antes mesmo dele colocar os pés para fora do metrô fixo  meus olhos nos dele e tento entender a sua insistência em fazer o mesmo e com frequência. Ele retribuir o olhar e percebo o quanto surpreso ficou quando o olhei de volta, agora não somos mais invisíveis, nossos olhares se cruzaram.

A garota que deixei partir Onde histórias criam vida. Descubra agora