capitulo 2

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25 de janeiro 2018, sexta feira

Daniel

O queijo derretido se alonga ao máximo enquanto o aproximo de minha boca, o gosto empreguinado nos meus lábios daquele misto maravilhoso acompanhado de um suco gelado de maracujá salvaria minhas noites solitárias em que várias vezes deixei o macarrão instantâneo queimar.

-Eu sou péssimo na cozinha, quem deixa o miojo queimar? Deus do céu!

Bebo mais alguns goles de suco e percebo que o copo já está chegando ao fim, mais não me preocupo pois tem um jarro pela metade no congelador, na verdade eu não tinha muito com o que me preocupar, era sexta feira a noite e todo meu estresse já tinha ido embora pro lixo junto com o miojo queimado.

O fim de semana se aproxima o que para muitos um alívio,mas para mim um desastre, eu não veria minha garota misteriosa. Me pego pensando o que ela estaria fazendo a essa hora, se a noite de sexta feira dela é um desastre como a minha ou se é bem mais interessante, o que não me surpreenderia afinal não era nada difícil me superar no quesito vida social. Nos jornais apontam um fim de semana de sol e céu limpo, cá estou eu nesse verão solitário sem nada pra fazer, e nessa estação é muito mais difícil viver assim, o dia parece não ter fim e a solidão parece ser sua melhor companhia e quando vem a noite a escuridão se torna seu esconderijo. E assim vem as 48 horas mais longas e livres de vários nada pra fazer.

Garota misteriosa

Sexta feira

De volta para casa pego o metrô das 20h10, ele vem bem mais vazio do que na ida, o que é um alívio não ter que está em um lugar abarrotado de gente. Hoje eu queria que ele demorasse o quanto quisesse pois não fazia questão nenhuma de estar em casa. Por mais que não tenha nada o que reclamar da minha vida isso me causa um desconforto, afinal não ter com o que se preocupar, uma rotina saudável, um emprego que eu ame de verdade , amigos com que eu possa contar, isso faz falta no dia dia, viver uma vida monótona estava acabando comigo. Do lado de fora vejo pessoas, lojas, cafés, bares abarrotado de gente, eles me parecem felizes com suas cervejas e seus petiscos, e aquela conversa que parece que nunca ter fim com seus amigos. Confesso que queria isso pra mim, pelo menos uma vez na vida, mas aqui estou eu, satisfeita em só existir , e ninguém ao menos sabe disso, ou não se importam.
Moro bem próximo do centro comercial de Del Castilho, ruas bem movimentadas e o comércio bem agitado, minha casa fica entre a cafeteria  "Bom Café" e da pequena lanchonete do senhor Alfredo, onde diariamente compro coxinhas maravilhosas. Minha mãe diz que moro de favor e não ver a hora de eu caçar o meu rumo. Odeio chegar em casa e vê ela com o idiota do Fred seu namorado, ele é asqueroso e cheira à maconha 24 horas, meu sonho é da um tiro bem no meio do seu pênis fedido toda vez que ele olha pra mim e sorrir mostrando a língua. Do meu quarto consigo ouvir os gritos do casal, uma hora transando outra com minha mãe sendo espancada, eu odeio ela por aceitar isso, por não demonstrar amor a própria vida e aceitar viver assim, por mais que ela não mereça o meu afeto continua sendo minha mãe e me dói vê-la sendo tratada como um animal.

Angelica é minha  vizinha mora do outro lado da rua, crescemos juntas no período escolar, mas hoje nos contentamos em ser somente conhecidas. Tínhamos sonhos em fazer a mesma faculdade e seguir a profissão de psicóloga juntas, então nossa interação e afinidade durante aquele tempo era incrível, e foi assim durante três anos até conhecermos amizades em comum e com o tempo o afastamento parecia inevitável. Faz um ano que não nos falamos como antes, exceto um comprimento ou outro quando nos esbarramos pelas ruas de Del Castilho o que é bem raro, busco entender o que aconteceu de fato com ela, e o que houve  entre nos.

Deitada no meu quarto com a sensação de ser o único lugar a que pertenço ligo meu notebook e o colono numa escrivaninha entre minha cama e a janela, o pequeno espaço mas o bastante para mim me torna vulnerável ao mundo lá fora e as vezes aqui parece ser meu esconderijo ideal.

A garota que deixei partir Onde histórias criam vida. Descubra agora