capítulo 8

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Sinto que meu coração irá sair pela boca, uma angústia me toma, eu rolo de um lado para o outro na cama, pela segunda vez isso me ocorre, há um buraco enorme entre ontem a noite e nesse exato momento. Minha cabeça está prestes a explodir, levo as mãos sobre o meu rosto  incomodado com o pouco de luz que invade minha janela, começo a massagear minha testa a fim de que essa dor terrível passe.

Tem alguma coisa errada comigo, o que aconteceu? O que eu fiz? São 11h05 da manhã e minha última lembrança foi está no metrô com Daniel. Passo a mão em meus cabelos e percebo uma certa quantidade de poeira e folhas, era como se eu estivesse dormido no chão onde haveria bastante plantação, as roupas de cama completamente encardidas e o mal cheiro em mim que percebi tomar conta do meu quarto.

-Será que eu cai em algum lugar? Bati a cabeça e não consigo me lembrar? Só pode ser isso...

Penso nisso e logo fico ofegante,  a respiração um pouco falha, tento segurar o pânico que cresce a cada segundo em mim, paro e penso em Daniel, em como é bom estar com ele. Lembro dele sorrindo e tentando me fazer sorrir, só de está perto dele por um instante esqueço todos os meus problemas, mesmo os que não consigo lembrar. Queria vê-lo todos os dias, quem sabe ele não poderia me salvar de toda essa loucura que é a minha vida.

Levanto da cama e ao passar pelo espelho me assusto com o meu estado, parece que um caminhão passou por cima de mim, me sinto assustada novamente mas não sei se tem algo que eu possa temer. Desço as escadas e percebo que ninguém está em casa além de mim, me aproximo da porta de entrada da casa e vejo que ela está aberta, o que acho muito estanho se levar em consideração que eu estava dormindo e poderia entrar alguém a qualquer momento com más intenções. Me pergunto se foi eu quem deixou a porta aberta quando cheguei ontem a noite faço idéia dei sei lá onde. Mas é inútil , nenhuma lembrança se quer me vem na mente. Penso se mais uma vez minha mãe me viu nesse estado, rezo pra que não, eu estaria bem encrencada e sem nenhuma explicação plausível.

Fecho a porta e subo as escadas, sinto uma tontura nós primeiros degraus, seria horrível cair daqui e quebrar algum membro de meu corpo, eu não estava no meu melhor momento para isso. Me agacho e tento subir me arrastando até chegar em meu quarto, subo em minha cama com uma dificuldade enorme  e mais uma vez apago, eu estava cansada demais para tentar entender toda essa loucura que estava acontecendo comigo.

Algumas horas depois...

Mais uma vez acordei me sentindo estranha, talvez culpada pela noite de ontem, Daniel tem sido gentil mas eu não posso fraquejar nesse momento, tenho que me manter afastada de qualquer sentimento que eu venha ter por ele por mas que isso me doa. Ando pela casa de um cômodo para um outro, uma sensação estranha dentro de mim cresce a cada momento, eu preciso descansar e esquecer todos esses problemas, mas não ter que pensar mas em Daniel tem me tirado o sono constantemente, algo dentro de mim não me deixa esquecê-lo.

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Manhã, 13 de fevereiro

Embarquei no metrô das 7h05, hoje é domingo e não estou indo trabalhar mas resolvi passar pelo meu percurso a fim de que eu possa tentar me lembrar daquela fatídica noite depois de ter me encontrado com Daniel no metrô. Quero ativar minha memória e passar por todo meu caminho rotineiro deve de ajudar em alguma coisa, talvez possa me fazer lembrar de algo que ainda não se encontra claramente na minha cabeça. Não me sinto com grandes esperanças mas é o que eu posso fazer nesse momento de extrema confusão em minha mente.

Algumas coisas podem cair no esquecimento, você pode se esquecer de uma conversa com um amigo, de uma reunião na escola ou no trabalho, ou simplesmente esquecer que deixou o arroz no fogo até perceber o cheiro de queimando impregnado em sua narina. Agora esquecer completamente tudo o que se fez na noite anterior é preocupante pois são horas perdidas que podem nunca mais voltar e isso pode custar muito de mim.

Certa vez ouvir dizer que apagões de memórias não é simplesmente esquecer o que havia acontecido mas sim de não ter qualquer lembrança que pudesse ser esquecida, o estudo diz que o seu cérebro entra em um estado onde não se produz mais memória a curto prazo. E enquanto você está lá perdido no seu apagão, você não se comporta como de costume, porque simplesmente você está reagindo a última coisa que pensa que aconteceu, porque uma vez que você não está produzindo lembranças pode na verdade não saber qual foi a última coisa que aconteceu.

Há alguns casos arquivados pela polícia do tipo, certa vez ouvir falar sobre um rapaz em Del Castilho que depois de uma festa pegou seu carro e completamente bêbado percorreu vários quilômetros na contramão até atingir em cheio um ônibus que levava 33 pessoas. O ônibus pegou fogo e todos morreram. O bêbado saiu ileso como sempre, ele não tinha a vaga lembrança de ter entrado no carro.

Um outro caso de uma mulher que ao sair do bar dirigiu até uma casa onde morou na infância, esfaqueou os moradores até a morte e depois tirou toda sua roupa, voltou pro carro e dirigiu até a sua casa e voltou a dormir. Na manhã seguinte ela acordou se sentindo muito mal sem saber o que havia acontecido na noite anterior, sem saber onde tinha ido parar as suas roupas e o porquê havia chegado em casa completamente nua. E foi só quando a polícia chegou para prendê-la que ela descobriu que havia assassinado 2 pessoas brutalmente enquanto dormia sem nenhuma razão aparentemente.

Enquanto o metrô acelera por sobre os trilhos eu fico refletindo em tudo o que poderia ter acontecido ontem a noite, ou na verdade tudo o que aconteceu que eu não consigo me lembrar.

A garota que deixei partir Onde histórias criam vida. Descubra agora