Capítulo 3

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Miguel

            Já era a terceira vez que aquele vídeo se repetia no monitor preso por um suporte à parede da sala de reuniões do escritório. Geralmente, minhas reuniões ali com Janete – ou Doutora Janete, como a chamavam as pessoas que certamente não a conheciam desde os cinco anos de idade, como eu – eram acompanhadas por outros advogados, mas dessa vez, por ser um sábado, éramos apenas nós dois.

Mas eu sabia que a decisão dela de não ter chamado ninguém não tinha sido pelo respeito ao dia de descanso de sua equipe. Tinha mais a ver com poder chamar a minha atenção de forma incisiva sem ter ninguém por perto para testemunhar.

O vídeo feito aparentemente pela câmera de um celular mostrava eu, acompanhado pela moça ruiva, gargalhando um ao lado do outro no bar. Até que eu a segurava pela mão e íamos juntos em direção ao elevador. Dali, a imagem cortava para outra, aparentemente da câmera de segurança do elevador. Quando a porta se fechou, veio o momento de maior constrangimento quando eu me virei de costas e comecei a rebolar, enquanto a mulher parecia cantar e fazia também uma dancinha bêbada e ridícula ao mesmo tempo em que dava tapinhas na minha bunda.

— Isso vai acabar com você em qualquer tribunal... — Também já era a terceira vez que Janete repetia aquilo enquanto movia a cabeça negativamente, mostrando-se tomada pelo sentimento de vergonha alheia.

Quando a porta do elevador voltou a se abrir, a imagem novamente foi cortada para a de outra câmera de segurança no corredor. Nós seguimos até a porta de um dos quartos e começamos nos beijar.

E a nos agarrar. E a nos esfregar. E eu realmente não fazia ideia de como a gente não tinha consumado aquilo ali mesmo. Porém, eu consegui abrir a porta e nós entramos juntos no quarto.

A imagem voltou a ser cortada, dando lugar a outra feita pela mesma câmera, mas já com o horário da manhã daquele mesmo dia. A mulher ruiva abria a porta e saía do quarto, com a maior expressão perdida que o rosto de alguém poderia exibir.

Acho que nunca na minha vida tinha visto aquela reação em uma mulher que tinha ido para a cama comigo.

Não que, àquela altura, isso fosse realmente uma questão importante. Meu ego estava um pouco ferido, confesso, mas era o de menos diante de todos os problemas que aquela noitada poderia me ocasionar.

O vídeo chegou ao fim e eu agradeci mentalmente por Janete não decidir exibi-lo mais uma vez. Ao invés disso, ela contou o que eu já imaginava escutar:

— O advogado dos Albuquerque me enviou esse vídeo às sete e meia da manhã, junto a uma mensagem bem clara e direta: ou você desiste da ação, ou esse vídeo será anexado ao processo como uma prova contra você. Eles estão dispostos a fazer um acordo caso você decida pela desistência.

— Eu não quero acordo algum com eles.

— Ou você aceita o acordo, ou você perde. E de uma forma bem constrangedora, vale a pena ressaltar.

— Repito que não aceito fazer acordo algum com aqueles filhos da puta. — A parte boa de sermos apenas Janete e eu ali, era que eu não precisava controlar o linguajar.

A parte ruim é que ela também não.

— Pensasse sobre isso antes de fazer uma merda desse tamanho. — Ela se levantou, começando a caminhar ao redor da enorme mesa retangular de mogno. — O que nós conversamos, Miguel? Qual foi o nosso acordo? Você iria assumir o comando do escritório de arquitetura da sua família, iria comparecer à empresa de segunda à sexta feira, mostrando ser um gestor interessado e responsável, iria parar com as festinhas, as baladas, a bebedeira e, principalmente: com as mulheres.

Acordei Noiva do meu Chefe [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora