Capítulo 5

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Miguel

            Eu sabia bem que aquele meu pedido não era dos mais convencionais. Especialmente para mim, aliás.

Eu nunca na minha vida tinha me imaginado fazendo um pedido de noivado a uma mulher, e, ainda que o fizesse, não seria com alguém que eu mal conhecia e cujo contato mais íntimo tinha sido uma dancinha ridícula dentro de um elevador, além de alguns beijos e mãos bobas. Nada além disso.

Porém, ainda assim, eu imaginava que ela teria alguma reação. Qualquer reação.

Mas ela simplesmente não teve reação nenhuma. Apenas pareceu ter paralisado, olhando fixamente para mim. Ela sequer piscava.

— Você ouviu o que eu falei? — tentei.

Ela enfim piscou algumas vezes, como se processasse aquelas palavras. Até que, enfim, disse alguma coisa, apontando-me o dedo indicador, em fúria.

— Eu sabia! Toda essa história de tirar a promoção do Antônio e dar para mim, sabia que tinha uma chantagem em troca.

Mas o quê? Quem aquela mulher achava que eu era?

Bem... ela poderia estar achando que eu era como o meu pai. Era o tipo de 'troca' que ele costumava fazer com frequência com suas funcionárias: promoções e aumentos de salário em troca de favores sexuais.

Eu não era como o meu pai. Mas ela não era obrigada a saber disso. Portanto, tentei manter a calma para explicar:

— Não tem chantagem nenhuma. Nada vai alterar a minha decisão, o cargo é seu.

— E por que fez isso, então?

— Porque ele roubou o seu trabalho, oras. Eu apenas fiz o que era justo.

— E o senhor acreditou nisso tão fácil, só pelo pouco que você ouviu da minha discussão com ele?

— Não só por isso. Nós conversamos a respeito disso na sexta à noite, lembra? Logo depois que eu me juntei a você no bar.

Ela revirou os olhos, parecendo forçar a mente a se lembrar daquela conversa. E acho que deu certo, porque uma expressão de pavor se instalou em seu rosto.

— Eu por acaso não te chamei de...

— Bundão? É, você chamou, sim.

— Não é um modo muito educado e sensato de se referir ao seu patrão.

— Não éramos patrão e funcionária ali, mas duas pessoas bebendo e conversando. E, não esquente, apesar do insulto inicial, a gente logo se deu bem.

O rosto dela ficou completamente vermelho, me dando uma dica de que estava constrangida com a minha última frase.

Bem, de fato, não era a minha intenção. Eu realmente usei o 'nos demos bem' associado ao fato de que logo estávamos conversando com descontração, rindo juntos, e até mesmo dançando.

Essa última parte trouxe um constrangimento a mim também.

Pigarreei, retomando o assunto:

— Por que eu te faria uma chantagem para que se tornasse minha noiva?

— Porque eu lembro, também, de por que o senhor me comprou aquele anel ridículo. Eu estava bêbada e disse que apenas com um compromisso sério eu... Arg, isso não vem ao caso. Eu estava fora do meu juízo normal, agora essa analogia estúpida não vai funcionar.

— Está achando que eu quero... Não! Pelo amor de Deus, não estou usando o termo "ficarmos noivos" como analogia para te levar para a cama. Pode ficar sossegada, porque nada vai acontecer entre nós.

Acordei Noiva do meu Chefe [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora