Capítulo 6

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Camila

Se existia uma certeza em minha vida era a de que gatos eram melhores do que gente.

Era por isso que Tapioca era a minha companhia favorita no mundo. Ele não me fazia perguntas, não me julgava, era fiel, carinhoso, sincero...

E jamais me faria uma proposta de mentir em um tribunal em troca de dinheiro.

Mas, ao menos em minha casa, eu não poderia fazer reclamações nesse nível. Quando minha avó retornou da livraria no dia anterior e me encontrou em casa, e eu disse a ela que tinha pedido demissão, ela logo se mostrou preocupada, mas percebeu e entendeu que eu não queria conversar a respeito e, por isso, não me forçou a nada.

Minha avó me conhecia bem e sabia que, quando triste, eu era adepta ao silêncio e à solidão. Foi assim durante toda a minha vida, desde coisas mais banais, como notas baixas em provas na escola ou ser esnobada por algum garoto que eu gostasse, até coisas mais sérias.

Eu tinha levado mais de um mês para conseguir desabafar com ela a respeito da morte dos meus pais. Antes disso, passava a maior parte do tempo no meu quarto, sozinha e em silêncio.

Mesmo agora, já uma mulher adulta de vinte e cinco anos, minha primeira reação ainda era a de me recolher. Por isso, ela não me fez mais perguntas, levou o jantar para mim no quarto e, antes de dormir, foi até lá me dar um beijo e dizer que me amava.

Agora, no entanto, já pela manhã, eu sabia que não poderia ficar mais tempo recolhida na tristeza. Eu precisava me levantar daquela cama e correr atrás do prejuízo de ter ficado desempregada. Uma proposta não iria simplesmente bater na minha porta ou cair de mão beijada no meu colo.

— Tirando uma certa proposta de meio milhão de reais... — resmunguei.

Tapioca dormia ao meu lado, mas acordou com a minha voz, olhando-me com curiosidade.

Eu nem tentaria explicar a ele. Tudo aquilo era confuso demais até para que eu mesma entendesse.

Ouvi batidas na porta, arrancando-me dos meus pensamentos. Olhei para lá no momento em que ela se abriu e o rosto de minha avó surgiu.

— Posso entrar, querida?

Assenti e me sentei, aguardando até que minha avó se aproximasse, depositando um beijo na minha testa.

— Ainda não foi para a livraria? — perguntei.

— Estou indo para lá agora. Vim te perguntar se você não quer me acompanhar.

— Vou lá mais tarde. Agora preciso levantar da cama e atualizar o meu currículo para começar a distribuir por aí.

— Vai querer conversar agora sobre o que aconteceu?

Querer eu não queria. Mas precisava. Porém, contei apenas o que julguei relevante.

— Um idiota levou o crédito pelo meu trabalho e foi promovido no meu lugar. Eu fiquei com vergonha de te contar isso no final de semana.

— Ô, meu amor, vergonha de quê? Vergonha devia ter esse mau caráter que fez isso com você.

— É que... a senhora estava tão orgulhosa de mim.

— E sigo com o mesmo orgulho, nada nunca será capaz de mudar isso, querida. Então, foi por isso que você se demitiu?

Era também por isso, não era? Então, não seria uma mentira, no final das contas.

Acordei Noiva do meu Chefe [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora