Capítulo 7

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Miguel

            Um empurrão do meu dedo e a caneta rolava sobre a mesa, até parar ao chegar à minha outra mão. E, assim, eu voltava a empurrá-la, fazendo-a rolar de um lado para outro, repetindo o movimento que minha mente fazia tentando encontrar uma solução para o meu caso.

Aquela imagem entediante provavelmente não era a que qualquer pessoa esperasse encontrar na sala do CEO de um dos maiores escritórios de arquitetura do país, mas eu já fazia muito em estar ali fingindo ser produtivo, quando tudo o que eu conseguia fazer era buscar mentalmente alguma solução para a minha vida.

Janete me telefonaria a qualquer momento. Aquele era o dia do prazo final dado pelos advogados dos Albuquerque para que minha defesa respondesse se aceitava ou não fazer um acordo. Acordo este que apenas me permitiria ver minha filha durante duas horas a cada quinze dias, sob supervisão constante dos avós. E aquilo era simplesmente inconcebível para mim.

Queria levar Alice para a minha casa. Queria preparar um quarto para recebê-la, passear com ela, vê-la crescer, levá-la e buscá-la da escola. Queria vê-la brincar com Apolo, meu cachorro. Eu nunca tinha achado muita graça nesses vídeos que rodam a internet e que mostram cães e bebês brincando juntos, mas agora, sempre que via um, me perdia no desejo de ter isso em minha casa. Que droga, eu queria até mesmo aprender a trocar as fraldas dela, enquanto ela ainda as usava. Ela já estava com onze meses, e eu já tinha perdido tanto de sua vida. Não admitia perder mais absolutamente nada.

Por outro lado, recusar o acordo seria permitir que aqueles malditos vídeos fossem anexados ao processo e, com eles, talvez eu viesse a perder definitivamente qualquer chance de voltar a ver a minha filha.

O telefone em minha mesa tocou e eu o atendi sem empolgação alguma. Era a minha secretária.

— Senhor Marino, o representante da Falcão Construtora está na linha para conversar com o senhor.

— Manda ele ligar semana que vem — rebati, nada paciente. — Já falei, Patrícia, desmarque absolutamente tudo e despache qualquer um que ligue essa semana, eu estou apenas para os meus advogados. Ou para a Camila. Se uma mulher chamada Camila ligar, repasse imediatamente. Fora isso, não estou para mais ninguém.

— Mas, senhor...

Não deixei que ela concluísse e desliguei a ligação.

É, eu sei. Fugir das obrigações de minha função de CEO ia na mais extrema contramão do que Janete tanto insistia que eu deveria fazer, que era me tornar um homem exemplar. Mas a minha conduta durante a festa da empresa já havia cagado completamente com qualquer boa imagem que eu poderia construir, então, sinceramente, agora nada mais me importava.

O som da porta do meu elevador sendo aberta no outro extremo da sala chamou a minha atenção, fazendo com que eu desviasse os olhos da caneta para olhar para lá, apreensivo. Ninguém chegava ao meu andar a não ser que estivesse acompanhado por mim, ou caso tivesse o acesso liberado por minha secretária, passando antes pelo andar abaixo do meu, onde ficava a minha recepção. Para ir até a cobertura, o elevador exigia um código de segurança, que apenas eu e minha secretária tínhamos. E eu não tinha autorizado a ela que deixasse ninguém entrar.

Porém, quando vi quem era, fui tomado por uma imensa onda de alívio.

Ela poderia entrar.

Ela era, aliás, a pessoa que eu mais desejava encontrar naquele momento.

Porque apenas ela poderia me salvar da enrascada onde me enfiei.

Acordei Noiva do meu Chefe [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora