Ainda não é o fim

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- Kara, ainda bem que estás por cá, precisava da tua ajuda - Julian, entrou dentro do meu escritório com pressa, rompendo o silêncio na qual estava mergulhada pelas últimas horas. Algo estava errado e conseguia senti-lo.
- Julian, não podes entrar assim no meu escritório, sabes bem disso -
Julian desviou a atenção dos papéis da sua mão ao reparar nas minhas palavras ofegantes.
- Mau hábito, desculpa - Retrucará de volta, ignorando o meu estado, estava demasiado preocupado com a sua descoberta - Preciso de ajuda com algumas provas, aquele caso da máfia italiana não me parece ter sido apenas um pagamento de dividas, se fores ver o historial da vítima .... -
- Espera - murmurei, varrendo o escritório rapidamente com os olhos, com a sensação de que estávamos a ser observados. - Não fechaste aquela janela quando chegamos? - questionei, apontando para a janela em causa, pronta para ir fechar a mesma, quando de repente uma silhueta vestida com um fato similar ao meu para à minha frente.
- Kara, sou eu de novo, eu preciso que me ajudes e que me deixes ajudar-te - os dedos grossos da outra pessoa envolveram o tecido da mascara no seu pescoço arrancando essa para fora da sua cabeça e dando-me a liberdade de ver a sua verdadeira identidade.
- E quem serias tu? - questionei, reparando que encontrávamo-nos em super velocidade, pelo que Julian não estava ciente do que estava a acontecer neste momento.
Irritado, o individuo respira fundo antes de separar os lábios para falar - Nós já fizemos isto antes, eu já vim ter contigo, eu já arranquei-te essa porcaria da orelha, como é que não te lembras de nada? Não te lembras da tua irmã? Da tua esposa? De seres a Supergirl e eu o Flash, o Barry? O teu melhor amigo? Elas nem acreditam que sou eu, acham que faço parte de algum plano maléfico de Lex e não me deixam restaurar as coisas, então preciso que acredites em mim -
- Estás a falar do quê da minha orelha? - levantei a minha mão de encontro ao ouvido direito, na qual senti um cascarrão fresco - Não me lembro de nada disso - comento estranhando o quanto eu estava disposta a acreditar nele com tão pouca informação.
Desconsolado Barry deixa-se cair no chão, batendo fortemente com os joelhos no soalho de madeira.
Observando atentamente reparei nas manchas escuras que envolviam os olhos sem vida do indivíduo à minha frente, no corte que atravessava o seu rosto, nas mãos que agora envolviam a sua cabeça enquanto o mesmo tentava respirar fundo, parecia estar a beira um ataque de ansiedade.
- Não precisas de te lembrar, precisas apenas de acreditar em mim e se acreditares então a única coisa que temos que fazer é ir ao Starlabs e correr no acelerador de partículas para atingirmos a velocidade necessária de forma a que eu volte atrás do tempo e impeça o Lex de trocar a minha vida com a tua - murmou no silêncio mórbido, sem esperança na voz.
- E que tal se nos sentarmos e explicares melhor isso? Talvez eu chegue a acreditar o suficiente em ti para que eu te possa ajudar - não perdia nada em descobrir quem seria este indivíduo, que se encontra exposto a qualquer tipo de perigo apenas para provar a sua inocência.
- Kara, tempo é algo que não temos. Nunca sentiste que não pertencias aqui? Que esta vida não é tua? Que sentes falta de algo que nunca tiveste aqui? Nós não temos tempo porque por esta altura o teu capitão já anunciou a minha chegada, o que significa que em poucos segundos alguém vai atacar-nos, apenas tem um pouco de fé em mim -
Analisei Barry, desta vez mais detalhadamente, a honestidade gritava na sua voz, a máscara tremia nas suas mãos que a seguravam com toda a força que tinha no seu corpo, aparentava estar fraco e desnutrido, encarava-me com expectativa, contudo a expressão que pairava na sua face era contraditória, parecia neutra debaixo de toda aquela angústia. Ainda assim, decidi esticar a minha mão, oferecendo o meu voto de confiança.
Senti os olhos de Barry alcançarem a minha mão, encarou essa durante breves segundos e por um momento eu vi um vislumbre de culpa no seu olhar. Trocou os joelhos pelos seus pés, agora assentes e firmes no chão, recomposto escondeu a sua feição com a máscara vermelha - Espero que um dia me possas desculpar - citou momentos antes de eu sentir a sua mão escaldante atravessar o meu peito.
- Porquê? - segurei no seu braço, na tentativa falhada de tentar impedir o que estava prestes a acontecer. A minha pergunta escorregou sofrida e lentamente pelos meus lábios enquanto com cuidado Barry colocava-me no chão.
- Porque só vai poder existir uma de vocês, não posso deixar que aconteça-te a ti o mesmo que aconteceu ao Savitar - comentou como se fosse algo que eu deveria de compreender, como se fosse uma desculpa válida para a minha morte sem motivo.
- Irias achar que eu estou louco e não me ias ajudar, desculpa, desculpa... - sussurrou contra a pele da minha testa antes de pousar um beijo, humedecido pelas suas lágrimas, na minha pele - Vemo-nos numa outra vida - e um borrão vermelho foi a última coisa que apanhei antes do meu último suspiro.

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NOTAS

Quem vai sempre volta.
Espero que gostem deste capítulo. Qualquer dúvida é só perguntarem nos comentários que eu respondo.

Até à próxima.

Perdida entre terrasOnde histórias criam vida. Descubra agora