Uma fina camada de pele seca corria ao longo dos meus lábios, um grito surdo estava preso na minha garganta, a única coisa que os meus olhos conseguiam absorver era pura escuridão, a ponta do meu nariz estava completamente queimada do frio. De mãos e pés amarrados, completamente indefesa, não conseguia mover-me, era uma luta injusta. O pouco que os meus sentidos conseguiram captar, foi baque surdo de uns longos saltos altos ecoarem na divisão. Senti uma unha afiada raspar na pele do meu rosto, cruzando o meu olho direito, percorrendo o ferimento profundo que ali se encontrava e arrancou a venda da minha cara.
- Lamento que tenhamos tido a oportunidade de nos reencontrar nestas circunstâncias, não era o que tinha em mente -
- Não parece que lamentes tanto assim - Tive a coragem de proferir num sussurro quase inaudível.
- Acredita que talvez até não lamente mesmo - A mulher arrancou a venda dos meus olhos e uma forte luz bateu diretamente na minha visão sensível.
- O que queres? - impaciente, joguei de forma arrogante tal pergunta.
- Epicuro uma vez disse "A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem", palavras sábias - a mulher, com uma paz estranha no tom de voz, dirigiu-se até uma larga bancada na qual estavam espalhados vários utensílios para métodos de tortura.
- O que pretendes fazer? Matar-me? - as minhas palavras tremeram.
Um arrepio de satisfação correu ao longo da espinha da fulana, ao aperceber-se que eu estava morta de medo. Com um sorriso macabro a cruzar o seu rosto, ela roda sobre os saltos altos, com um martelo e dois pregos nas mãos.
- Pior do que isso, Supergirl - a mulher, bruscamente, enfiou uma mordaça na minha boca.
- Lilian, mãos no ar - uma sujeita completamente coberta por um fato preta, salta de um portal. Com uma arma firmemente agarrada pelas mãos dela e com a pontaria certeira para a testa da tal Lilian.
- É sempre um prazer rever outra Danvers, como tens estado Alex? - Lilian, lentamente, larga o martelo no colocando em seguida as mãos no ar.
- Eu cá não tenho a mesma opinião, Luthor - a tal Alex respingou de volta, o campo de visão da mesma saltou de Lilian para mim, que ainda me encontrava acorrentada.
- Kara? C-Como? - Alex, rapidamente esqueceu-se de Lilian e correu na minha direção. Completamente confusa, aceitei a ajuda dela, desenrolou-me facilmente daquela armadilha e prendeu-me num abraço fogoso. Lágrimas gordas corriam pelo rosto de Alex enquanto olhava minuciosamente para Kara, parecia não acreditar nos próprios olhos.
- Eu acho que estás a confundir-me com alguém - a minha voz saiu arranhada, a minha garganta parecia rasgada. Os hematomas que marcavam a minha pele ganharam novamente vida com o aperto de Alex e começaram a doer.
- Não precisam ser tão agressivos - reclamou Lilian ao ser arrastada para o outro lado do portal, o que fez Alex desviar a atenção de mim.
Foi a oportunidade perfeita para escapar dos braços da Alex, porém, no mesmo segundo fui paralisada pela mesma.
- Larga-me, já te disse que estás a confundir-me com alguém. Tu e aquela louca que acabaste de prender - as palavras rojaram com brutidão para fora da minha boca e esquivei-me de Alex.
- Eu sou a tua irmã, Kara. Eu achava que estavas morta - Alex, sussurrou agora com uma calmaria estranha agarrada à voz e tentou agarrar-me para um abraço, porém, por reflexo vibrei o meu corpo de modo a que Alex trespassasse por mim.
- Eu não sou tua irmã - um sussurro sôfrego escorregou com dificuldade pelos meus lábios. O eco de um tiro gritou contra as quatro paredes do local sombrio. Levei a mão ao peito ao sentir uma dor aguda queimar ali, sangue pintava as minhas mãos e devido ao meu estado de fraqueza atual. Acabei por desmaiar.
Quando finalmente despertei, arrependi-me de ter acordado. Não tinha sido tudo apenas um pesadelo, mas sim a minha nova triste realidade.
Encostado à parede oeste, estava um relógio. Os ponteiros viajavam num tique-taque lento, pesado, monótono. Quando o ponteiro dos minutos completava a volta do mostrador, e a hora estava para soar, esperava que algo acontecesse, mas apenas mais um minuto passava. Já tinha contado três horas, trinta e dois minutos e quarenta e quatro segundos desde que acordei.
Parei os seus pés ao reparar no meu reflexo no vidro. Eu não tinha este rosto há uns anos, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Passei a língua ao longo dos meus lábios numa tentativa de limpar os vestígios de sangue seco a eles agarrados, mas só queimei ainda mais as feridas. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
- Bem-vinda de volta, SuperGirl - uma voz feminina vibrou ao longo do espaço apanhando a minha atenção.
A silhueta perante mim era intrigante. Ela não era feia; a pele aparentava ser suave como seda e brilhante como o sol, com os seus traços definidos, o nariz perfeitamente desenhado, não muito baixa nem muito magra e a sua aparência de bondade passiva, de indolência de corpo, de ideia e de sentidos.
Quando finalmente recuperei a minha linha de pensamento, apercebi-me que tinha sido tratada novamente por SuperGirl e fiz questão de rapidamente corrigir tal coisa.
- Queres dizer SuperFlash - deixei escapar num sussurro embrenhado em cansaço.
- O quê? - a sobrancelha direita da rapariga saltou juntamente com a pergunta.
- Ouviste ela bem, não é a SuperGirl. É uma versão alternativa de Kara, pertence à Terra 33, a Lilian enganou-se ao achar que era outra Super - Alex não hesitou em explicar à rapariga a troca de identidades, o que eu agradeci em silêncio.
- Lamento esta confusão toda, SuperFlash. Apenas trouxemos-te para aqui de forma a ajudar-te a recuperar do acidente. A Lilian acabou por escapar e acertou-te com uma bala no pulmão direito. De momento estamos sem possibilidade de levar-te à tua Terra, enquanto a Lilian estava na tua Terra, os capangas dela estavam nesta e assaltaram o DEO roubando a nossa tecnologia de transporte entre o multiverso. Já te arranjei um local para descansares e passares a noite, entretanto terás de ficar por cá - Alex vomitou tudo de uma só vez.
Acompanhar toda aquela informação foi complicado para mim. O meu corpo escorregou pelo vidro até encontrar o chão na qual deixei-me ficar.
- Lena, por favor, depois mostra à SuperFlash onde ela vai passar hoje a noite - Alex imediatamente abandonou o espaço.
Era doloroso deparar-se com uma cópia idêntica à da sua irmã supostamente assassinada.
A lembrança daquele assassinato não só era desagradável, como Alex ainda recordava a chacina várias vezes ao dia. As imagens daquele vídeo ficaram gravadas na sua memória, Lex fez questão disso. Era horrível pensar como alguém podia fazer a coisa tão bem feita, com tanta habilidade, que ninguém descobriria nem lhe impediria de retornar a repetir com outra pessoa. Alex era uma das poucas pessoas que tinha assistido à história do desaparecimento da SuperGirl, contudo, apesar das provas o confirmarem, nunca aceitou completamente a morte da irmã por nunca ter encontrado o corpo da mesma. Sempre acusou Lex Luthor daquele feito, só que não tinha como jogar as culpas nele já que as provas paravam num beco sem saída.#####
NOTASOlá! Sim, elas finalmente encontraram-se.
Tenho pena da Alex, achava que tinha encontrado a irmã mas apenas encontrou uma cópia da Kara de outra Terra. Ou assim é o que nós achamos.
Até à próxima.
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Perdida entre terras
FanficKara vivia perdida no seu mundo, de cabeça na lua e pés assentes na terra, corria o mais rápido que podia à procura de se salvar de si mesma. Não teve propriamente das vidas mais fáceis, a sua mãe morreu à frente dos seus olhos e o pai dela acusado...