Quem és. Quem sou.

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Era um lindo e grande jardim, com relva verde muito macia. Aqui e ali, no meio da relva, surgiam bonitas flores, como estrelas, e havia doze pessegueiros que na primavera irrompiam em delicadas flores cor-de-rosa e pérola, e no Outono davam abundantes frutos. Estava deitada sobre a manta de relva observando o espaço que me rodeava com atenção. Era diferente do meu planeta, era mais sereno.
- Alex, olha só - apontei para o céu pintado com um azul vivo. Nesse mesmo nuvens corriam com o vento, sendo que uma dessas relembrou-me do meu brasão de família.
- O quê? - Alex seguiu o meu dedo esticado, apanhando a mesma imagem que eu. - É só uma nuvem, resmungou retornando a sua atenção para o seu telemóvel.
O meu sorriso morreu, juntamente com a minha mão que estava pendurada, deixando essa cair junto ao meu peito. - É parecido ao brasão da minha família - um murmúrio baixo voou com o vento e as minhas pálpebras deslizaram para baixo.
Despertei destilando adrenalina. Abri os olhos e escutei com atenção, a tremer; o meu coração batia com força. Tentei acalmar-me, mas era impossível. Precisava de apanhar ar.
Nada se mexia na obscuridade do quarto. A lua iluminava o suficiente para mostrar-me que não havia ninguém junto à cama, nem qualquer silhueta ameaçadora à porta. Também não se ouviam passos na sala nem na cozinha.
Todas as provas verificadas pelos meus olhos e ouvidos diziam-me que estava a alucinar, no entanto a sensação de estar a ser observada era tão forte que não podia ignorar. Sentia-me terrivelmente frustrada e aterrorizada.
Tinha tido aquela mesma sensação várias vezes nos últimos dias, e esta noite era ainda pior.
- Lena, desculpa acordar-te a esta hora - a luz do telemóvel iluminou um pouco o ambiente. Tinha o meu olhar colado no tecto e a minha atenção na voz reconfortante de Lena.
- Não tem problema, Kara. Está tudo bem? - com a voz embargada em sono, Lena tentou acordar um pouco.
- Na verdade não, ando a ter sonhos estranhos e tenho a sensação de que estou a ser observada a toda a hora - Protestei, assustada.
- Queres que vá ai ter? Talvez seja melhor ires para casa de Alex - Lena respondeu, notavelmente preocupada.
- Não, eu vou ai ter - respondi apressada.
Apesar de estar relativamente mais próxima de Alex, a proximidade que sentia com Lena era mais forte. Além de que, seria bizarro encontrar Alex após aquele sonho tão realista.
- Está bem... - proferiu com estranheza atada ao seu estado de adormecimento.
- Lena, eu preciso que me digas a tua morada antes de voltares a adormecer -
- Certo, vou-te enviar por mensagem - falou, desligando em seguida a chamada. Em poucos segundos recebi a mensagem com as indicações.
A buzina de um carro, rompeu o silêncio da noite, traumatizando-me o suficiente para começar a correr, ainda de pijama, até casa de Lena.
A sensação da perseguição corria comigo, ao invés da casa da Lena, decidi acelerar na direcção contrária. Caso estivesse a ser realmente perseguida, não iria levar o perigo atrás de mim até lá.
Uma comichão insuportável picava atrás da minha orelha direita. Cocei essa, distraindo-me, e tropecei numa pedra, o que resultou em raspar-me pelo alcatrão da estrada.
- Kara - uma voz regada em rouquidão bateu nos meus ouvidos. Levantei-me com dificuldade, estava toda esfolada. Os meus olhos saltaram para o local, da qual, a fala tinha saído.
- Quem és tu? - perguntei, encarando o homem mascarado num fato vermelho. Tinha o mesmo símbolo que o meu pintado no seu peito. Ao prestar mais atenção, reparei nos múltiplos rasgões que o fato tinha, a contar com aquele que traçava o seu rosto, cortando o seu olho.
- Eu sou o Flash da Terra 33 - caiu de joelhos na estrada, deixando-se ser derrotado pela exaustão. - Só consegui fugir da prisão de Lex ontem, eu preciso da tua ajuda. Não estou a conseguir voltar porque eu fui trocado por ti na minha terra -
Apesar de aturdida, também estava surpreendida, mas logo ambos essas sensações foram comidas pela da raiva - Olha, se és tu quem me tem andando a perseguir nas últimas semanas, podes esquecer que eu vou-te ajudar, ainda mais para tirares o meu lugar na minha terra! -
- Kara, quem te está a perseguir é o Lex! Ele sabe que estás aqui e desta vez ele vai matar-te mal tenha a oportunidade - o Flash exclamou com puro sofrimento a regar a sua voz.
Levantou-se com uma dificuldade extrema, soltando pequenos gemidos de dor. - Desculpa por isto, mas vai doer - murmurou correndo velozmente até mim, com a pouco força que lhe restava, e enfiou os seus dentes na minha pele, atrás da minha orelha direita, arrancando essa sem piedade.
Um grito de agonia rasgou as minhas cordas vocais, ao sentir em câmara lenta a minha pele ser extraída. Com toda a força que tinha espetei um soco no Flash, levando esse a bater contra a parede de um prédio causando um enorme buraco na mesma.
Os meus olhos começaram a arder com fervor, pareciam estar a queimar por dentro. Tapei os mesmos com as mãos enquanto gemia em puro afligimento. - O que é que tu fizeste? - berrei, tão alto que as ondas sonoras do meu grito ecoaram contra os prédios e os carros, destruindo esses pela frente.
O Flash, completamente desgastado, caminhou em pequenos passos na minha direção. - Eu só te trouxe de volta, Supergirl, isso é o que tu és e esta é a tua vida, eu só quero a minha de volta - murmurou caindo ao meu lado. Tens que te lembrar daquilo que ele te fez esquecer -
O vento arrancava uma dor forte à minha orelha, no local onde eu tinha rasgado. O tempo que me restava era incerto.
Os meus olhos saltaram para o local onde o a luz noturna da lua brilhava sobre uma pele macia. Um estremecimento apoderou-se das minhas mãos e eu obriguei-me a ficar imóvel. Era Lena.
- Kara, Kara, foca-te em mim - sussurrou enquanto me afagava nos seus braços. 
- Eu não consigo, parece que estou a rebentar - ofeguei, com vontade de bater com a minha própria cabeça no chão à medida que imagens de memórias jorravam os meus pensamentos. 
Lena, segurou o meu rosto nas suas mãos forçando-me a encara-la. Sem pedir autorização, juntou as nossas bocas num delicado beijo. Por um segundo, deixei-me respirar contra o beijo, mas logo o mesmo quebrei quando imagens de Kripton atacaram-me com violência. O sentimento de ver o meu mundo a explodir novamente como se fosse a primeira vez - Eu não consigo - senti o ar faltar quando a sensação de estar presa naquela cápsula de transporte durante dez anos veio-me à memória. A angústia da solidão pela qual passei, os meus primeiros anos na Terra onde tudo era alto demais. Lena enfiou o meu rosto contra o seu pescoço, enquanto lágrimas descontroladas fugiam dos meus olhos.
Passos apressados foram-se tornando mais pesados à medida que outrem se aproximada - Kara! - era Alex, a minha irmã.
- Alex, ela não está bem, alguma coisa de estranho está a acontecer - Lena, apesar de tentar esconder que estava completamente aterroziada de medo pelo estado de Kara, tentou manter-se estável.
- Não há nada de errado, eu só lhe devolvi as memórias dela - O Flash fez-se ouvir a uma distância de um metro, de joelhos, desfeito no chão. Arrancou a mascara da sua cara com cuidado para evitar o contacto com os rasgões profundos espalhados pela sua pele - Eu sou o Flash original da Terra 33, o Lex enfiou-me num loop infinito em que eu repetia constantemente o último dia em que eu fui o Barry Allen da Terra 33, eu só me apercebi disso passado as primeiras trezentas vezes, eu não conseguia escapar - explicou, observando Lena e Alex - Essa é a Kara Danvers, Supergil, Jornalista, que pertence a esta terra. Eu só quero a minha vida de volta -

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NOTAS

Não me matem kkkk Eu talvez faça só mais um capítulo para além do epilogo só para trazer um pouco mais de drama à nossa vida xD

Até à próxima.

Perdida entre terrasOnde histórias criam vida. Descubra agora