Rolinho de canela

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- Queria desculpar-me pelo que aconteceu, tens razão, não te estou a respeitar. Tu és outra pessoa e uma que eu gostaria de conhecer-te, Kara - Lena apagou os vestígios de sujidade da sua boca com o guardanapo.
- Não tem problema - sussurrei coçando a parte de trás da minha orelha, parecia ter um cascarrão, mas não o iria arrancar agora.
- Então e como é que as coisas eram por lá? - questionou com interesse. Manteve a postura erecta, coisa que a mim já me custava visto passar demasiadas horas sentada numa posição incorreta.
- Nada de mais. Não tenho família, sou cientista forense, trabalho numa delegacia e levo com um capitão que tenta sempre pisar-me os pés sem motivo aparente. Vivo num apartamento relativamente perto da praia, dá para sentir o cheiro do mar mesmo estando tão longe, foi um dos motivos que me levou a comprá-lo. Tenho poucos amigos, o Julian pode-se considerar como um, só não sei se ele acha o mesmo em relação a mim, e também há o Winn apesar que infelizmente só consigo estar com ele quando ele vai à cidade - encostei o copo de vinho branco nos meus lábios e traguei um pequeno golo. Não tinha intenções de dar grandes detalhes acerca de mim, não valia esse esforço, já que não iria haver tempo para sequer conseguir construir uma amizade com Lena. Estou esperançosa de sair daqui o mais rápido possível, antes que o impensável aconteça.
- Só isso? Não há mais nada? - a sobrancelha esquerda de Lena saltou.
- Pode-se dizer que sim - pousei os meus talheres na mesa, atirando a minha atenção para Lena. - O que é que gostarias de saber mais? –
- Como é que te tornaste na SuperFlash? - questionou com diligência.
- Pequena história, nada demais. O acelerador de partículas explodiu causando alguns danos e criando meta-humanos como eu, simultaneamente à explosão fui atingida por um raio - comentei com desdém.
- Adorei os detalhes - murmurou em ironia, enquanto puxava o copo de vinho para si.
- Que engraçada - revirei os olhos e um sorriso de canto ocupou-se da minha boca.
- Ironia é um dos meus grandes fortes - Lena piscou o olho esquerdo para mim.
Terminamos o almoço e pagamento do mesmo foi uma pequena guerra da qual sai derrotada. Lena conseguia ser bem persuasiva, um aspeto que não me agrada de todo já que gosto de manter as coisas controladas.
- Eu agora ainda tenho de arranjar um diploma de alguma forma, ele não vai aceitar apenas a carta de recomendação - os meus pensamentos voaram, enquanto caminhava juntamente com Lena para o seu carro.
- Eu posso ajudar-te com isso. Se é realmente esse o emprego que queres, pretendo fazer os possíveis para ajudar-te a conquistá-lo - Lena entrou no carro. Apercebi-me por um momento que a maioria das nossas conversas se passavam dentro daquele automóvel.
- Se conseguisses seria uma grande ajuda - ofereci-lhe um sorriso discreto e coloquei o cinto de segurança.
- Óbvio, vamos à L-Corp para pudermos fazer isso - Lena arrancou o carro em direção ao local indicado.
Pelo caminho, reparei numa pastelaria, da qual, a fragrância invadiu o carro através da pequena fenda aberta na janela. O cheiro apanhou-me de surpresa, era reconfortante e nostalgia.
- Lena, podes parar naquela pastelaria? - perguntei a morrer por dentro para entrar naquele estabelecimento.
Um riso fugiu de Lena ao reparar no brilho que refletia nos meus olhos enquanto encarava a pastelaria.
- Claro, eles têm as melhores tortas da cidade, conheci esse lugar com outra pessoa gulosa também - Lena comentou com ânimo e brincadeira a beijar a sua fala.
- Então estás à espera do quê para parar o carro? - resmunguei, em tom de diversão e Lena não hesitou em estacionar o carro o mais próximo possível da pastelaria.
- Oh Meu Deus, cheiram tão bem - disse, com a cara colada no vidreiro, comia os bolos com os olhos.
- Eles são realmente bons, mas devias mesmo era de experimentar a torta de maça com canela - Lena aconselhou e de tão concertada que estava nos bolos, apenas assenti com a cabeça em concordância.
- Queria mesmo era aquele rolinho de canela e também um cappuccino com xarope de caramelo e baunilha, sem natas, sou alérgica - olhei de relance para Lena, em simpatia. Esta parecia estar a morrer por dentro.
Lena ficou sem fôlego perante a recordação de Kara a perder-se por aquele rolinho de canela. De sobrancelhas franzidas, Lena dirigiu-me um olhar rápido. Uma onda de desconforto apoderou-se dela, com os olhos cheios de culpa, apercebi-me o que se estava a passar.
- Foi ela que te trouxe aqui, não é? - perguntei, de forma cáustica, aproximando-me de Lena. Ergui os meus olhos até encontrar os cristalinos dela e apanhei a mão dela num gesto de conforto.
- Sim - após isso, apenas silêncio veio. Lena recuou, cruzando os braços sobre a camisa perfeitamente engomada. - Vamos comer, desculpa –
- Não tem problema - respondi, tensa. Com os dedos agitados, guardei as mãos nos bolsos. Isto tinha acabado de se tornar envergonhante.

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NOTAS

Agora que a Kara se tornou um pouco mais aberta, a Lena fechou-se xD 

Até à próxima.

Perdida entre terrasOnde histórias criam vida. Descubra agora