- Pelo amor de Deus - murmurei, metendo na boca mais um cheeto. Mastiguei meticulosamente e engoli.
Estava perdida a lembrar-me dos acontecimentos de mais cedo. O meu olhar estava fixo no prédio à minha frente, enquanto uma música ténue corria na minha playlist, uma música deverás alegre que nada combinava com o meu estado de espírito.
Lambendo o laranja dos dedos, comecei a percorrer a playlist no meu telemóvel, numa procura indeterminável de um som que combinasse com as emoções que inundavam a minha mente e as que pisavam o meu coração.
Espiei as horas no meu relógio de pulso. Guardei o pacote de batatas fritas dentro da minha mala e adentrei no edifício.
Tive de fazer um enorme esforço para perceber as palavras grossas daquele indivíduo. O tremendo ruído de fundo da enorme delegacia tornava difícil a audição.
Era ridículo ter de conduzir aquele assunto daquela maneira esgotante e ineficiente, pensei. Eu tinha um extenso currículo na minha terra, ao ponto de as minhas entrevistas não passarem de uma simples troca de palavras e assinar o contrato, porém, neste caso estava complicado, visto eu ter antes um currículo cheio de bases jornalísticas.
- Nós estamos à procura de pessoas com experiência nesta área, Sra. Kara. Não de um jornalista - o odor a fumo velho erguia-se, forte, do fosso da boca que era a daquele homem.
- Sim, pois - sussurrei, obrigando as minhas mãos a soltarem os meus cotovelos e pousar essas sobre o meu colo. - Mas se reparar aí consta que já trabalhei anteriormente como cientista forense numa outra delegacia. Eu tenho o que é preciso para este lugar, apenas preciso de oportunidade para tal -
Tinha tirado uma hora da minha manhã para conseguir acrescentar aquilo no currículo sem notar-se grandes alterações, ainda assim parecia não ser o suficiente, já que ele aparentava estar de tudo menos convencido.
O másculo engravatado, ajeitou as mangas da sua camisa, enrolando essas para cima de forma elegante. - Fazemos assim, traga-me o diploma e uma carta de recomendação ainda esta tarde e o emprego é seu - murmurou coçando a barba loira rasa. Os seus olhos caminharam na minha direção, largando finalmente o meu currículo.
- Está bem - ajeitei os óculos. Um suspiro pesado rasgou uma fenda entre os meus lábios. Agora tinha de descobrir como é que iria desenrascar-me desta.
- Fica combinado para as dezassete horas - ouvi o ranger da cadeira, do entrevistador, romper contra o ruído do exterior, o que me fez dar a entender que também era suposto eu sair da sala.
- Foi um prazer, Sra. Kara - esticou-me a mão envolvida em creme, o que me fez espremê-la de mau agrado.
Acompanhou-me até à saída.
Remexi na minha mala à procura do meu telemóvel e quando esse encontrei, hesitei por um segundo, todavia, de momento era a minha única alternativa.
- Lena? - pronunciei o nome dela com uma subtileza amarga.
- Olá, Kara. Fico feliz que tenhas ligado, queria imenso desculpar-me por mais cedo - com transparência expôs o seu arrependimento.
- Certo, eu agora precisava era de um favor teu - murmurei ignorando sutilmente o pedido de desculpas dela.
- E o que seria? - interrogou com uma suspeita inquieta.
- Preciso que me faças uma carta de recomendação. Eu sei que és a CEO da L-Corp e eu precisava dessa carta para conseguir o emprego que eu quero –
- Como-o? - Lena tinha-se apresentado inicialmente para mim como uma prestadora de serviços para a D.E.O, notava-se a surpresa na voz dela com o facto de eu ter aquela informação nas minhas mãos.
- O meu trabalho implica investigação e não sou estúpida, não iria estar a deixar-me levar por vocês todos sem saber quem realmente são, então fiz as minhas pesquisas. Agora falando do que é importante, consegues ou não me fazer essa carta de recomendação? - impaciente, comecei a cuspir as palavras arrogantemente.
- Sim, passa no meu escritório quando puderes - finalmente, fez-se ouvir passado uns segundos de quietude. - Já agora, Kara. Da próxima basta só perguntares ao invés de cuscares a vida dos outros - a fala de Lena, carregada de desaprovação, terminou a chamada sem deixar-me contestar.
Após apanhar dois autocarros, consegui chegar ao destino pretendido. O edifico da L-Corp. Era grande, sem dúvida, monstruoso na verdade. Era um edifício de escritórios, com provavelmente uns trinta pisos. Estava inserido numa zona urbana, com uma elevada densidade de construções, da qual se destacava.
- Boa tarde, estou aqui para ver a Lena Luthor - com a voz baixa encarei a moça à minha frente. Relativamente jovem, com traços suaves, olhos intensos e castanhos, esses que foram jogados na minha direção.
- Kara! Meu Deus, já não te via há tanto tempo - a mesma rapariga saltou do balcão para fora e insistiu em puxar-me para um abraço tanto cordial como afável.
Já eu, levei um momento para aperceber-me da repentina mudança entre o profissionalismo e a atitude amigável dela. Considerei antes de retribuir o abraço, mas acabei por aceitar que a melhor opção seria realmente responder ao gesto.
- Olá, realmente já fazia um tempo. Estive de férias a viajar por aí - dois beijos foram achatados contra as maças do meu rosto, esses eu não dei de volta.
- Espero que tenham sido boas. Dá-me um segundo para avisar Lena que estás cá - apesar de apressada, os saltos dela batiam com leveza no chão. Ao desviar-se no corredor, perdi ela de vista e acabei por encostar-me na parede.
- Ela está pronta para receber-te. Sabes onde fica o escritório dela, podes ir sozinha - já de volta, a rapariga cujo não consegui apanhar o nome, ofereceu-me um sorriso cortês e retornou a sentar-se no seu devido lugar.
Assenti em concordância e segui o caminho que ela anteriormente tinha feito.
A Kara Danvers tinha-se dado bem em namorar uma milionária.
Empurrei as grandes e exageradas portas do escritório de Lena e irrompi esse sem anunciar a minha entrada.
- Está aqui o que pediste - Lena, sem prestar atenção na minha existência, apenas deslizou um envelope para a ponta da sua secretária.
- Obrigada - apanhei o envelope e enfiei esse na minha mala desastradamente. Apesar de ter uma raiva profunda quanto a algumas atitudes de Lena, ela era deslumbrante e isso por vezes afetava-me, tal como agora quando apanhei aqueles olhos verdes a fitarem-me com veemência.
- Já almoçaste? - largou a caneta delicadamente em cima da secretária enquanto encarava-me.
Neguei com a cabeça, sendo obrigada a alinhar os óculos em seguida. Por um momento questionei-me em que ponto da minha vida é que apareceu a minha falta de vista, todavia, não consegui lembrar-me.
- Então vamos - arrastou a sua cadeira para trás e agarrou no seu casaco, envolvendo-se nesse com elegância.#####
NOTASA Kara é confusa e a Lena está confusa, no que será que isto tudo vai dar?
Até à próxima.
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Perdida entre terras
FanfictionKara vivia perdida no seu mundo, de cabeça na lua e pés assentes na terra, corria o mais rápido que podia à procura de se salvar de si mesma. Não teve propriamente das vidas mais fáceis, a sua mãe morreu à frente dos seus olhos e o pai dela acusado...