Morgana

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“Eu poderia começar dizendo que não havia juntado todas as peças completamente e que demorei pra acordar. Exatamente assim. Talvez um tempo considerável para alguém que estava  apaixonada então vamos supor que meu cérebro foi incendiado e tudo que eu sabia sobre amor virou fumaça e só posso culpar Kara Danvers por isto. Era eu, a garota do Starbucks e tudo que crescia teimosamente dentro de mim que em algum momento iria escorregar pra fora em uma declaração cafona por que... droga, era tão óbvio mesmo quando eu queria negar.”
 

Lena Luthor P.O.V:

 
- Vamos lá, tente isto então... Eu tive um casamento de merda, foram dois anos desperdiçados ao lado da pior decisão que já tomei e agora estou no meu melhor momento, finalmente livre do cativeiro de Ava Sharpe. – Com a boca cheia de queijo Sara brincava de testar o novo dispositivo que instalei em Morgana, o detector de mentiras.
 
- Existe uma probabilidade de 98,8% dessa informação ser falsa. – O pequeno robô de 30 centímetros agora tinha um sensor acoplado na parte frontal capaz de identificar pela voz se o locutor estava faltando com a verdade. Nada  novo nem muito elaborado, apenas um sutil acréscimo a minha invenção que tinha feito em algum momento de tédio.
 
- Oh, você é boa, realmente muito boa!- Ela limpou as mãos no próprio pijama (o meu pijama) deixando rastros de molho e aplaudiu. - Você gosta de mulheres? Digo robôs-garotas... Se foi Lena que a criou tenho certeza que tem uma tendência nata ao lesbianismo.
 
- Não tenho informações o suficiente para responder a essa pergunta. – O androide andava de um lado para outro na pequena mesa de centro como um vigilante. Ele estava muito bem nos laboratórios da L-Corp monitorando os projetos que eram desenvolvidos mas assim que Sara pôs os olhos nela pela manhã quase chorou e me chamou de monstro por deixar aquele pequeno autômato gentil e vibrante sozinha e então resolveu traze-la até o meu apartamento sem nem ao menos pedir a minha autorização. Não só Morgana como também uma prancheta rabiscada com dados inúteis, duas ampolas vazias e um mini ventilador roubado de algum funcionário distraído. Sara precisava de uma bronca por sucessivos  pequenos furtos.
 
- É assim que começa, você fica confusa e em negação por um tempo até ser sacudida de jeito e tudo aquilo que você tentava empurrar para o fundo vir repentinamente a tona. Não há saída, você vai cair do armário mais cedo ou mais tarde.- Sara afastou a caixa de pizza quase vazia de si enquanto procurava o controle remoto entre as almofadas do sofá em que estava para aumentar o volume. Ela realmente gostava de Animal Planet. - Ela pode se apaixonar por uma babá eletrônica Lena? Conheço uma que fariam seus circuitos queimarem, Morgana.
 
- Não. – Ri de como a imaginação de Sara a levava para lugares estranhos. - Nem pretendo fazer aperfeiçoamentos até chegar nesse ponto, seria uma cilada, ela é uma inteligência artificial e eu a invejo. Se apaixonar deveria ser uma escolha, deveríamos ter o este direito de decidir se querermos ter tal emoção ou não, e quando, e por quem... não sei, talvez uma pequena chave que liga e desliga, não sermos lançados no mundo tendo que lidar com essa carga extra, não é muito agradável. Os sentimentos apenas atrapalham e tornam tudo mais difícil, ser uma máquina tem essa vantagem, não sentir...  - Eu estava concentrada (ou nem tanto) tentando não ser encurralada e perder mais uma partida de xadrez para Lex que não notei o franzir de testa dele. Isto soou estranho, mas é só uma dessas coisas que dizemos por repetição certo? Eu não estava apaixonada. Não, não estava, isto é ridículo!??
 
- Xeque-Mate! – Ele anunciou e eu tinha perdido pela terceira vez seguida o que era inédito mas talvez meus pensamentos estivessem perdidos em caixas de papelão lotadas, armários pendendo pra frente e uma sala úmida a meia luz no Starbucks pra me importar e querer revanche.
 
Mentalmente ainda xingava Sara por ter interrompido aquele momento com Kara e não parava de voltar para sua boca a centímetros da minha. Ela tinha me mandado mensagem com o seu endereço e eu elaborei um plano entre uma partida e outra de casualmente aparecer na sua porta apenas vestida com um sobretudo e Ops, surpresa! Deixar cair no chão para atacá-la em seguida. Mas já eram onze da noite de um sábado e tínhamos um encontro no dia seguinte, parecia um ato desesperado, desconsiderei.
 
Tenho as piores ideias quando estou com tesão mas ainda bem que elas se mantem só na minha mente.
 
- Eu desisto... – Apenas dei de ombros e me levantei da mesinha tentando sair do escrutínio do olhar de Lex mas ele me conhecia bem demais para deixar passar algo despercebido.
 
- Quem era a garota de Starbucks? – Merda.
 
Ele me seguiu até o sofá onde uma Sara espaçosa e parcialmente acordada quase ocupava todo o móvel nos fazendo sentar no tapete de frente para a televisão.
 
- Hmm... o quê? – Peguei uma fatia de pizza. talvez eu pudesse me esgueirar do assunto fingindo alheamento ou ganhar tempo. Vinha fazendo isto desde que saímos do Starbucks e inevitáveis perguntas sobre o cardigan de Kara ou sobre meu repentino reaparecimento dos fundos da loja com um óculos, que nem era meu, totalmente embaçado surgiram.
 
- Certo, você quer tornar isto mais difícil então... – Ele bruscamente tirou o pedaço de massa altamente calórica das minhas mãos e comeu antes de mim fazendo um barulho alto e nojento.
 
- Hey! Pelo menos feche a boca durante a mastigação, estou vendo tudo daqui! – Abri uma latinha de refrigerante e antes de ser roubado por Lex estapeei de leve sua mão.
 
- Vocês está saindo com aquela garota?
 
- O quê? Não... é claro que não. – Quase me afoguei com um gole de coca-cola tossindo pela pergunta inesperada.
 
- Morgana, ela está dizendo a verdade?
 
- Existe uma probabilidade de 98,8% dessa informação ser verdade. – Ele estava mesmo usando minha própria criação contra mim? Que belo vilãozinho Lex Luthor podia ser!
 
- Está satisfeito? E antes que surjam mais perguntas ela só é uma atendente com quem costumo trocar algumas palavras, nada de- Meu celular tocou fazendo Sarah despertar aturdida soltando um “Onde estou?”. Era Kara,  ignora-la levantaria mais suspeitas mas atende-la faria com que Lex me colocasse contra a parede... Dane-se por que estou com medo de falar sobre ela para os outros?  – Alô, Kara?
 
- Oi Lena... Err, eu... me desculpe estar ligando, é só que... – Ela hesitou e eu até podia visualiza-la coçando a nuca nervosamente. Eu encarei Lex que tinha aquela expressão de quem tomaria o aparelho das minhas mãos e a interrogaria antes de me levantar e ir para a sacada para ter mais privacidade.
 
- O que foi? – Me certifiquei de fechar a porta de vidro para não dar brecha para os dois bisbilhoteiros.
 
- Temos um encontro amanhã!
 
- Temos um encontro amanhã...
 
- Eu tenho que ficar repetindo isto em voz alta para acreditar que está acontecendo e acho que estou... hmm, meio apavorada...
 
- Ah, tudo bem, Kara, é só um encontro. Você já deve ter tido outros, certo? Saímos juntas e conversamos para nos conhecer melhor, é assim que funciona...
 
- É claro que já tive outros encontros, conheço a dinâmica.
 
- Então, o que é?
 
- Eu não sei, que tal por que você é Lena Luthor e não faço a ideia do esperar disto tudo? E eu não tenho nem um traje elegante para a ocasião... – Não pude deixar de rir daquela tolice e contatar como meu peito pulava ridiculamente quando ela mostrava nervosismo. Kara me fazia sentir coisas novas que eu tentava me convencer que não queria continuar sentindo mas que não podia parar. – Não ria, eu estou realmente sofrendo.
 
- Oh, desculpa é só que... – Voltei meus olhos para o céu procurando algum ponto luminoso entre as nuvens para me fixar. A chuva havia momentaneamente cessado aquela noite. –Não pense tanto nisto, irá acertar com qualquer coisa que vestir, não é como se eu fosse  te levar a uma baile de gala... - Bem, não ainda.– Não há nada de excepcional em sair com um Luthor, esqueça tudo que envolva meu sobrenome, não quero que  isto te leve a concluir coisas sobre mim que nem ao menos devem condizer com quem realmente sou. Esqueça tudo, somos só duas mulheres que vamos tentar nos... divertir.
 
- Estou tensa, o que você quer dizer com nos divertir? Devo usar uma camiseta do National Braves e me preparar para enormes baldes de asinhas de frango e muita cerveja enquanto assisto uma partida de Beisebol com você ? Sabe, eu sei que você é uma apaixonada por eles, vi um vídeo seu e de Lex no youtube. Cara, cada vez que o câmera se voltava para arquibancada a transmissão censurava o que você dizia. Eu não sabia que você tinha a boca tão suja. - Sua voz ficou repentinamente abafada e ouvi um barulho como se algo estivesse sendo destampado. – Oh espere, estou me desafiando a encarar uma porção de gosma escura
 
- Huh? Não, não irei te levar a uma partida do NBS nunca nem foi considerado. – Certo, não ainda. – E... gosma escura? – O toc toc frenético as minhas costas me fez desviar a atenção do céu carregado e encarar duas caretas medonhas grudados no vidro da sacada espionando. Lex e Sara com o nariz achatado baforando ar quente e desenhando coraçõezinhos na condensação. Tão maduros, seria uma longa noite.
 
- Sim, é como mágica! Apesar de parecer que você está com toxina de polvo paralisando seu rosto... Dez minutos e todos seus poros desaparecem. Indicação de uma ex, ela tinha a pele perfeita  era como tocar uma seda muito cara e não conseguir parar... Talvez algo sobre isso tenha contribuído pra Imra ser uma super modelo... além de todo o resto.
 
- Super modelo? Você... Você namorou uma super modelo? - Certo, aquela informação fez um nó instantâneo se formar na minha garganta e tive que afastar o celular pra Kara não me ouvir pigarrear.
 
- É, quer dizer, ela ainda não era uma quando namorávamos. No início achava um máximo mas a agenda dela foi ficando lotada demais com os eventuais compromissos e viagens que surgiam e mal nos víamos então ela foi morar em nova york e... só acabou. Já faz algum tempo, ela foi minha primeira namorada, a primeira garota que beijei, meu primeiro tudo mas... É isto, ela foi alguém importante que eu amei muito, até onde podia amar alguém. - Havia aquela tristeza perceptível em sua voz, uma que dificilmente conseguíamos disfarçar por terem deixado estragos irreparáveis e eu só queria envolve-la em um abraço e dizer que a sua ex era só uma vadia deslumbrada que não a merecia e...
 
Pare com isso, Lena!
 
- Mas ah,  que estou fazendo? Falando da minha ex as vésperas do nosso encontro, duh, isto chega a ser ilegal mas o meu repertório é muito maior que este e não sou nenhuma obcecada, já está superado... então você teve uma revelação muita pessoal sobre mim, é uma troca justa que agora me diga para onde pretende me levar amanhã... - Recuperando a animação, ela apenas mudou de assunto rapidamente. Existia uma transparência aterradora em Kara Danvers e eu me sentia tão impotente por ser exatamente o oposto e me deixar encantar a cada nova descoberta sobre sua personalidade. Inferno.
 
- Admiro sua obstinação, Kara, mas não vou ceder e não importa que artimanha você use para tentar arrancar informações, não vai conseguir. – Tive um gemido descontente como resposta. Ela não sabe que um Luthor é irresoluto? - Vamos lá, só faltam algumas horas, não é vida ou morte.
 
- Eu realmente mataria por isto, Srta. Luthor.
 
- Não seja dramática, Srta. Danvers. – Devolvi aquele formalismo idiota não conseguindo sair da visão de Lex e Sara que naquele momento faziam um teatrinho ridículo como se fossem um casal para me desconcertar. Lex de joelhos beijando a mão de Sara e ela, que de algum jeito havia roubado um porta guardanapos do Starbucks, estava lambendo exageradamente as bordas para depois equilibra-lo na careca dele. Nojento.
 
 
 
 
 
 
 
 
- Ah, Deus. Você é sempre assim, impositiva e difícil de se dobrar? – Bufou decepcionada. -Então eu entrego os pontos e desisto. Só me resta passar a noite concentrando meus esforços nas pontas dos meus dedos fazendo movimentos circulares... –-Antes que aquilo sugerisse outra coisa e me chocasse, ela se engasgou e começou a gaguejar. – Ah... hmm, sabe as instruções no rótulo, err... massagear o rosto com a gosma escura... ponta dos dedos e movimentos circulares... para uma melhor absorção. Eu não quis dizer que..
 
Não pude conter uma risada incontrolável que explodiu ruidosamente e precisei de alguns segundo pra recuperar o fôlego.
 
- Oh, certo, claro. Não pensei que fosse outra coisa. Boa noite Kara e tente não cansar demais os seus dedos. Vou precisar deles amanhã.
 
- O que você quer dizer com.. Ugh, entendido! Bo-boa noite Lena. Nos- nos vemos amanhã.

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