Capítulo 28 - Façamos um Acordo

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Nerissa


Pego meu celular e faço uma chamada em vídeo para Sheyla e em poucos segundos ela me atende.

- Eu estou no telefone! - ela grita com alguém e em seguida ouço Ryan dizendo que ela vai pagar na mesma moeda - Se você fizesse a sua parte nada disso teria acontecido. Eu fiz a minha. - rebate antes de voltar a atenção para mim - Oi, Nerissa.

- Sheyla, por favor, fale a esses dois que eu não estou inválida e tão pouco sou prisioneira na minha própria casa. - digo e ela me encara impassiva - Eu só quero ir lá no prédio que será a sede para tirar umas fotos antes da reforma para fazer um antes e depois e...

- Está me ligando por que acha que eu vou me condoer de você e te apoiar a sair? Vá sair para relaxar, hum? Não? Ir a praia, fazenda ou a um parque? - ela me interrompe e ajeita o óculos vermelho no rosto - Porra de ver um lugar cheio de pessoas perigosas onde a desgraça do doador de esperma tá rondando por lá? Você pensa? Realmente tem cérebro? Ou tá impossibilitada de entender o simples? Cadê teu pai, teu irmão, teu marido qualquer funcionário da casa ai? Mande qualquer um eles irem atrás de problema, menos você! Até eu vou no seu lugar. Mais pelo amor de Deus, por tudo que é mais sagrado RELAXA ESSE BUNDA EM CASA! Vai curti sua gravidez com a sua filha e para de pensar em problema! - ela grita, Ryan resmunga algo e ela manda ele calar a boca - Outra coisa! Eu quero só ficar sabendo um tanto assim - ela diz e faz uma medida pequena com o indicador e o polegar - que você aprontou, Nerissa, que eu colo você na cama para só sair quando parir! E não duvide de mim! Seu pai pode crescer pra cima de mim, o seu marido pamonha também e até o seu irmão que se acha o gostoso, mas eu dou um jeito de você se aquietar. Pode colocar sua vida em risco a vontade, pós parir o bebê. Enquanto isso vocês são minhas responsabilidades e vão ficar em casa! - e então desliga na minha cara.

Me viro e meu pai e Caleb estão na porta do meu quarto ouvindo toda conversa e rindo de mim.

- Bom, fomos esculachados, mas ela ao menos nos apoiou. - Caleb diz e meu pai concorda.

- Estou começando a gostar dessa dra. Hopkins. - meu pai acrescenta.

- Ah, que bonito! Os dois se uniram contra mim! - reclamo e me deito do lado de Emma - Mamãezinha, você está do meu lado, né? Iria gostar de ir num passeio com a mamãe?

- Não. Eu vou cuidar do jardim com a vovó hoje. - ela me responde, desce da cama e vai embora saltitando.

Olho para minha barriga pensando no garotinho ali dentro.

- Acho melhor você ser mais fiel a mim, Dylan.


Caleb


Dou um beijo em Nerissa antes de sair e prometo tirar várias fotos para ela. Ligo para Ryan e combino com ele para nos encontrarmos lá no galpão em que em breve será a fundação Esperanza. E eu vou aproveitar para investigar as redondezas em busca de alguma pista sobre Athos Tilman e um jeito de afastar ele das nossas vidas para sempre. Assim que chego Ryan já está a minha espera com alguns papeis e uma câmera enorme pendurada no pescoço. Deixo que ele tire as fotos do local e começo a andar para dar uma olhada na vizinhança. Se eu encontrar alguém que aparente morar aqui a algum tempo e se eu tiver a sorte dessa pessoa conhecer Athos, vai ser um progresso enorme.

- Com licença, senhor - ouço alguém dizer. Ao me virar constato que é um garoto de uns 14 anos de idade usando um agasalho marrom velho e com alguns buracos sutis nas mangas. Parece um tanto quanto aborrecido comigo por algum motivo. Encaro seus olhos escuros que me encaram em um misto de raiva contida e desconfiança.

- Pois não?

- Eu gostaria de saber o que será feito nesse prédio. - ele diz após escolher bem as palavras para usar comigo.

- Você morava aqui? - pergunto e ele assente - Qual é o seu nome?

- Hidetaka, mas todos me chamam de Hide. 

- Hide, aqui será uma fundação para ajudar crianças e adolescentes moradores de rua ou em situação de risco. - respondo, mas ele parece não entender - Vai ser um lugar para ajudar pessoas como você. Terá um espaço para dormir, sala de aula, oficinas de arte, pratica de esporte... - olho bem para ele e vejo que se parece muito com as outras três crianças que estão perambulando pela rua pedindo alguns trocados as pessoas que passam apressadamente. - São seus irmão? - pergunto e o olhar que ele me lança beira a hostilidade - Não precisa se preocupar. Não vou fazer mal algum a vocês. Hide, vocês conhecem bem as redondezas e quem anda com frequência por aqui?

- Pode-se dizer que sim. - Ele concorda e eu tenho uma ideia de como nos ajudar mutuamente.

- Eu queria que ficasse de olho em uma pessoa para mim. - começo e respiro fundo antes de continuar - Você já viu um homem que atende pelo nome de Athos? Ele deve ter uns 47 ou 48 anos, tem olhos claros...

- Cabelos loiros e é muito magro e maluco? - ele me pergunta e eu assinto - É, eu conheço o velho Athos.

- Ótimo! Então que tal fazermos um trato? - proponho e sua desconfiança é cada vez mais evidente - Você vai ficar de olho nele para mim e em troca eu vou alugar uma casa, dar comida, roupas novas e até ajudar você e seus irmãos a estudar. Voltar para a escola. Eu vou tomar conta de vocês sem interferir tanto na vida de vocês. O que acha?

- Acho que parece bom demais para ser verdade. - Ele me diz cruzando as os braços longos a frente do corpo - O que você quer de verdade?

- Athos é uma pessoa que está fazendo muito mal a minha família e eu preciso ficar de olho nele e pensar em uma forma de mantê-lo longe da minha noiva. - respondo com sinceridade - Ela é filha biológica dele e já sofreu demais por isso. Sempre que ela o vê fica muito assustada e parece que ele está perseguindo ela. E ela está grávida então isso não é nada bom.

- Se ele é perigoso para vocês, por que não seria perigoso para mim? - Hide pergunta.

- Porque você não precisa confrontá-lo - me apresso a responder - É só ficar de olho nele e me mandar uma mensagem quando o ver me dizendo o que ele está fazendo e onde está.

- E você pretende me recompensar só por isso? - Hide questiona pouco convencido.

Respiro fundo, estou no limite da minha paciência. Esse moleque vai aceitar ou não?

- Se não quiser o trabalho é só dizer que eu te deixo em paz. - falo irritado, dou um passo para trás e ele sorri.

- Tudo bem. Mas eu tenho uma contra proposta - começa com um sorriso malandro - Eu vou fazer uma semana de teste e você vai me pagar em dinheiro pelas informações. O que acha?

Esse menino deve ter visto algo muito ruim para desconfiar tanto das pessoas. Não tenho escolha além de aceitar para que ele passe a confiar em mim. Mas mesmo assim me sinto desconfortável em saber que eles não tem um lugar seguro para dormir nem comida boa para eles comerem.

- Posso ao menos pagar um lugar para vocês dormirem em segurança? - pergunto e ele me encara com aqueles olhinhos apertados e escuros - Pode ser só um hotel barato se você achar melhor. Só não quero que vocês durmam na rua.

O menino solta um longo suspiro e aceita com um aceno de cabeça. Olho para os irmãos dele e vejo que a menininha está faminta e muito pálida.

- Para que não saia de mãos abanando logo de início - começo e tiro algumas notas para que eles comam alguma coisa - Fique com isso e leve seus irmãos para comer, por favor.

- Obrigado. - Ele diz aceitando e coça a nuca - Em retribuição eu vou te contar uma coisa. Athos anda muito agitado ultimamente. Ele tem falado algo sobre terem mentido para ele sobre uma tal de Emma.

MandonaOnde histórias criam vida. Descubra agora