Capítulo 18 - La Simon

31 9 1
                                    

Nerissa 

Depois de muita conversa e adulação eu consegui fazer meu pai desistir de ir atrás da família de Caleb. Chamamos a polícia e o serviço social e eles cuidaram do Ben. Mas eu prometi a ele que iria sempre visitá-lo para ver se estava tudo bem com ele. Depois disso eu mergulhei de cabeça no projeto de caridade da empresa. Encontrei professores de artes, esportes e de cursos profissionalizantes para trabalhar dando aulas na fundação. o ultimo grande obstáculo era o local da sede pois, infelizmente, a agenda de Sheyla continuava lotada e ela não teve tempo de ir visitar o asilo comigo e com Ryan.

No final da tarde de sábado ela me ligou dizendo que estava disponível e nos acompanhou até lá. O asilo é um lugar bem bonito, com jardins grandes cheio de árvores frutíferas e flores. Meu coração martelava na dentro do meu peito pela expectativa de finalmente conseguir o lugar. Sheyla fala com as enfermeiras e assume a responsabilidade por nossa visita. Seguimos a enfermeira Susan, uma senhora mal humorada de cabelos tingidos de loiro, por um longo corredor até um pátio onde vários idosos conversam e jogam cartas, xadrez e outros jogos. Ela nos leva até um senhor de cabelos muito brancos que está escrevendo sob a sombra de um velho carvalho.

- Senho La Simon? - a enfermeira chama sua atenção e ele levanta o rosto para olhá-la - Essas pessoas querem falar com o senhor sobre o velho galpão.

Me aproximo dele e vejo que seus olhos são azuis como os meus e isso desperta um sentimento estranho dentro de mim. Um sentimento de melancolia, expectativa e tristeza. Ele olha para mim e sorri formando várias outras rugas nos cantos dos olhos. Seu sorriso me é familiar e ele está genuinamente feliz em me ver.

- Emma! - ele diz colocando o caderno e a caneta e se levanta, seus olhos se enchendo de lágrimas. Ele está vestindo calças de linho azul acinzentado e uma camisa branca de botões e ele é bem alto - Mas faz tanto tempo! - ele diz e franze a testa confuso - Como pode estar igual a ultima vez? - ele pergunta e estende as mãos para mim.

- Meu nome é Nerissa, sr. La Simon. - digo e aceito suas mãos me sentindo estranha.

Seu rosto se ilumina e ele aperta minhas mãos com um grande sorriso.

- Ah, claro! - ele diz e ri consigo mesmo - Como você cresceu! E como está sua mãe? - ele pergunta e eu sinto minha garganta ficar apertada.

- Hum... Eu acho que está um pouco confuso, sr. La Simon. - Sheyla diz e eu continuo o encarando me sentindo perdida com suas palavras - A srta. Nerissa e o senhor não se conhecem.

- É claro que eu conheço minha bisneta! - ele fala irritado com o que ela falou e a olha com raiva - Ela é Nerissa Simons, filha da minha neta Emma Simons. - ele diz apontando para mim e encarando Sheyla - Eu não estou senil! Eu fui colocado aqui pela minha nora sabe Deus porque! - ele diz a ela e volta a me olhar com carinho - Mas Emma sempre veio me visitar com a filha, uma beau petit que passava um bom tempo tocando meu rosto e que tinha um lindo sorriso. - ele fala e abre os braços para mim - Ah, eu senti tanta saudade, minha menina! - fala e me abraça.

Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e inspiro seu perfume familiar. E simples assim eu encontrei meu bisavô. Ele esteve aqui a minha espera e eu não sabia. Passei tanto tempo acreditando que não tinha mais nenhum integrante da família Simons vivo... E eu tenho tantas, tantas perguntas!

- Hum... Vamos deixá-los a sós por um tempo. - Sheyla diz e Ryan concorda com ela - Quando precisar de nós é só chamar, Nerissa. - ela diz e os dois se afastam.

- Quem sãos esses dois? - ele me pergunta desconfiado.

- São meus amigos. - respondo e respiro fundo antes de começar com as perguntas - Por que seu sobrenome é diferente do da minha mãe?

- Nosso sobrenome mudou quando viemos para este país. - ele diz e me convida a sentar com ele - Eu não pude registrar meu filho como Samuel La Simon. Tive que colocar como Simons mesmo. Mas onde está sua mãe? Por que pararam de vir me visitar de repente? - ele pergunta e ele também tem muitas perguntas.

- A minha mãe morreu quando eu tinha 4 anos, sr. La Simon. - respondo e ele me encara chocado - E eu fui adotada pela família Romero e nós não sabíamos do senhor. Bom, eu não lembrava. Sinto muito.

Uma lágrima lhe escapa e eu vejo a raiva se misturar a tristeza em seus olhos. Ele torce a boca em resmungos em frances e se levanta.

- Foi aquele desgraçado, não foi? - ele pergunta irritado e começa a andar de um lado para outro - Eu avisei a ela que ele não era um homem. Ele não passava de um  ver paresseux! E ele acabou matando a minha neta! Eu pedi a ela para não ficar com ele! Mas ela não me ouviu! Ela não ouvia ninguém quando se tratava dele e acabou sendo morta por ele! - ele diz e se vira para mim - Diga, menina, foi ele que a matou não foi? - me pergunta e eu assinto - Dieu sacré! Ma fille ... Il a tué ma fille! Dieu ... Pourquoi ma fille? - ele diz chorando e eu o abraço.

- Eu sinto muito, vovô! - digo chorando também - Eu sinto muito! Eu... Ela morreu por minha culpa! - digo e essa verdade me rasga por dentro - Ela tentou me proteger e... Eu sinto muito!

- Não! De maneira alguma! - ele diz e faz carinho no meu cabelo - Não foi culpa sua. Foi culpa de Athos!

Depois que nos acalmamos um pouco de longe vejo que Sheyla está impaciente. Ela tem que voltar para a clinica.

- Vovô, eu vir te buscar depois. - digo e ele assente - Mas tenho que falar com meus pais sobre isso primeiro. - falo e ele assente uma vez e aguarda em silencio - Eu vim aqui para lhe fazer uma proposta pelo galpão no centro da cidade. Eu preciso dele para abrir uma fundação para ajudar crianças carentes. - digo e ele sorri.

- E quer comprá-lo. - ele diz e eu assinto - Pode ficar com ele. Eu não posso fazer nada por aquele lugar mesmo.

- E o que era aquele lugar? - pergunto e ele me olha triste por um momento.

- Era um aglomerado de lojas. - ele diz e suspira - Eu alugava para alguns comerciantes mas a crise veio e os comerciantes fecharam as lojas. Eu tentei demolir para fazer outra coisa mas... acabei falindo e o lugar ficou abandonado. - ele diz e suspira - Isso foi quando a minha Lucile morreu.

- Minha bisavó? - pergunto e ele confirma abrindo um sorriso nostálgico - E como ela era?

- Lucile era... magnifique! - ele diz com um ar apaixonado - Era o amor da minha vida e também minha maior amiga. Tinhamos nossos problemas, é claro! Ela era incrivelmente teimosa, mas eu  não conseguia ficar bravo com ela por mais de 5 minutos.

- Nerissa? - Sheyla me chama e a enfermeira está com ela - O horário de visitas acabou. Temos que ir.

Me despeço dele com um abraço e a promessa de voltar por ele e vou embora com Sheyla e Ryan.

- E então? - ele começa curioso - Temos um lugar para a sede?

- Ele concordou em me vender o galpão sim. - respondo do meu topor de emoções.

- Ótimo! - ele diz animado - Então vou falar com James e Logan hoje mesmo para formular um valor para a proposta. - ele pensa alto e Sheyla lhe dá uma cotovelada - Ei! Essa doeu!

- Fica quieto! - ela sussurra e em seguida se vira para mim - Está tudo bem? Ele parece que ele te confundiu com alguém.

- Ele é meu bisavô. - falo e ela me encara confusa - EU fui adotada pelos Romero quando tinha 4 anos. O nome da minha mãe biológica era Emma Simons. Foi em homenagem a ela que o nome da minha filha é Emma.

- Então... Meus parabéns! - ela diz e me abraça - Fico realmente muito feliz por você, Nerissa!

- Obrigado, Sheyla. Vocês podem ir. EU tenho que cuidar de uma coisa antes de ir para casa.  - agradeço e chegamos até a recepção - E podem me chamar de Nissa, Sheyla e Ryan. - falo e me dirijo até a balconista - Eu quero saber sobre a situação do senhor La Simon. Sou a bisneta dele. - digo sentindo o conforto de saber que não sou a ultima da família Simons.


MandonaOnde histórias criam vida. Descubra agora