Nerissa
Choro em silêncio no bando do carona do carro de Caleb e ele nos leva para jantar. Quando chegamos ao restaurante eu limpo as lágrimas e respiro fundo para Emma não me ver chorando. Descemos e Caleb tenta arranjar uma mesa mas o metre diz que para conseguir uma mesa devíamos ter feito uma reserva.
- Senhor, eu estou vendo uma mesa vaga! - Caleb insiste e eu tomo a frente porque não suporto segurar o choro por muito tempo.
- Sou Nerissa Romero. - digo e ele empalidece - Poderia dizer ao John que eu quero uma mesa? - digo.
- Não há necessidade de chamar o sr. Mclean, srta. Romero. - o metre diz sorrindo nervoso - eu vou arranjar a melhor mesa para vocês.
- Eu não preciso que puxe meu saco, Barow. - digo impaciente - Preciso que me arranje uma mesa e rápido.
- Sim, senhorita! - ele diz e se afasta as pressas.
Ele nos leva até uma mesa perto dos jardins internos e eu peço uma água com gás para me ajudar com o enjoo. Caleb sorri e brinca com Emma para ela não perceber que eu estou triste e por fim terminamos de jantar. Pagamos e ele nos leva para casa. Caleb e Emma conversam o caminho todo, mas tudo que eu faço é olhar as luzes coloridas da cidade e repetir para mim mesma que dessa vez será diferente, que eu vou cuidar da minha família custe o que custar.
Olho para frente e vejo um homem alto, moreno e sujo batendo e puxando os cabelo castanhos de um menininho sem dó nem piedade enquanto o menino faz de tudo para se livrar das mão dele. O homem acerta um soco na barriga do menino e eu vejo o pequeno se dobrar de dor e cair de joelhos com os braços em volta de si.
- Para o carro! - grito e Caleb freia no mesmo instante.
- O que houve? - ele pergunta mas já estou saindo do carro e correndo em direção ao menino.
- Ei! Pare! - grito e o homem me olha assustado - Pare de bater nele! - mando - Eu já chamei a polícia! - continuo gritando e o homem sai correndo.
Me agacho junto ao menino e vejo que ele está lutando para respirar. Seu couro cabeludo está sangrando um pouco e seu lábio está cortado. Ele me olha por um momento e desmaia nos meus braços.
- Está tudo bem. - lhe digo e me vejo naquele menino. Essa seria minha vida se James não tivesse me encontrado. - Vai ficar tudo bem. - falo e o pego no colo.
Me levanto, viro e volto para o carro onde Caleb me observa meio assustado meio admirado e entro com ele.
- Ele está bem? - Caleb me pergunta e eu espero que sim.
- Ele desmaiou. - digo apenas - Nos leve para casa. - mando e Caleb volta a dirigir.
Penso na mãe desse menino e em como ela deve estar agora. Será que ela está procurando por ele? Ou será que ela não dá a minima? Estará viva ou foi morta pelo marido como Emma Simons? Passo meus braços em volta do menino e sinto sua pele gelada. Deve ter ficado muito tempo na rua.
Eu não sou como elas. É verdade que eu fugi da responsabilidade de ser mãe quando Emma nasceu. É duro admitir mas é a verdade. Mas eu voltei atrás e prometi que não farei o mesmo com esse bebê e que cuidarei de Emma. E eu vou cumprir essa promessa. Aquela mulher não sabe nada sobre mim. Mas mesmo assim ouvir aquelas coisas... ainda está doendo.
Chegamos a minha casa e Caleb tira Emma da cadeirinha enquanto eu saio do carro com o menino no colo chamando pela minha mãe, que sai de dentro de casa correndo e fechando o robe branco pérola por cima da camisola.
- Mamãe, ele está machucado! - digo e ela pega o menino dos meus braços - Um homem estava batendo nele. Devemos chamar a polícia, não é? - pergunto me segurando para não voltar a chorar - Ele... ele vai ficar bem, não vai?
- Vai sim, filha! - ela diz se virando para voltar para dentro de casa - Vamos cuidar disso.
Ela entra em casa e eu desabo de joelhos no chão incapaz de conter o choro por mais um segundo que seja. Meu corpo todo treme e eu choro por tudo que aconteceu nas ultimas horas. Por não ter sido uma boa mãe para Emma, por ter essa falha apontada, pela mãe de Caleb me odiar... Meu corpo se sacode e eu me encolho no chão sentindo uma dor no peito, como se tivessem me dado um soco ali. Tudo que vim dizendo para mim mesma vai por água abaixo e eu sinto como se pudesse me desfazer a qualquer momento. Fecho meus olhos e peço a Deus por socorro.
Sinto os braços de Emma e Caleb ao meu redor. Emma está chorando e eu a abraço sentindo o peso no meu peito ficar mais leve, ao menos um pouco mais leve.
- Me desculpe, Emma! - digo e as lágrimas ameaçam me sufocar - Me perdoe por ter te deixado e ter ficado tão longe de você por tanto tempo. Eu sinto muito! Eu te amo, muito mesmo! E eu vou te dar um lar de verdade! Eu vou ser uma mãe melhor, filha! Eu te prometo isso!
Emma segura meu rosto entre suas mãozinhas e encosta sua testa na minha.
- Não chore, mamãe! - ela pede chorando também - Não chora!
Sinto Caleb beijar meu cabelo e afagar minhas costas em apoio silencioso a nós duas e eu tento parar de chorar para entrarmos em casa.
- O que está acontecendo? - ouço a voz do meu pai e em seguida ele está do nosso lado - O que houve? - ele pergunta preocupado.
- Foi uma mulher malvada que fez a mamãe chorar, vovô! - Emma responde e me abraça mais forte. - ela falou um monte de coisas sobre a mamãe, gritou com tia Tori e com papai.
Caleb e eu ficamos imoveis ao ouvir ela falar e olhamos um para o outro sabendo que vem uma briga ainda maior agora. Meus pais não vão deixar isso passar. Olhamos para meu pai e ele está vermelho de raiva, suas veias estão saltadas e sua mandíbula está cerrada.
- Entrem. - ele diz e sua voz está mortalmente fria e afiada como uma lâmina.
Ele pega Emma no colo e nós o seguimos para dentro de casa. Ele para no hall de entrada, coloca Emma no chão após sussurrar algo para ela e se vira para nós.
_ O que aconteceu? - ele diz e antes que eu abra a boca ele avisa - E não mintam!
- Foi a minha mãe, sr. Romero. - Caleb diz e conta tudo que aconteceu durante o jantar - E eu sinto muito por tudo que ela falou. Eu não concordo com nada disso. Eu amo sua filha e acredito nela. Nerissa tem muita força e ela realmente quer essa criança. Assim como eu.
- Não importa o quanto você sente, rapaz. - meu pai diz - Ninguém maltrata minha família! Sua mãe não é exceção. Quero conversar com seus pais. - ele continua e vejo que ainda está bem bravo.
Meu pai tem dois tipos de fúria. A fúria explosiva que faz ele parecer maluco e a fúria fria que deixa ele parecendo muito calmo e ameaçador. Essa ultima assusta muito a todos. E eu meio que adquiri esse traço da personalidade dela com o tempo. Nesse momento ele está com o segundo tipo de fúria.
- Somos uma família muito orgulhosa e uma ofensa dessas não vai passar desapercebido. - ele fala e coça a barba antes de continuar - O menino acordou. - ele diz mudando de assunto - Está na sala com sua mãe.
Mamãe está cuidando dos ferimentos do menino que já está acordado e olha para nós assustado sentado no sofá e eu me aproximo deles junto com Caleb.
- Oi! - digo e sorrio para ele - Você está bem? - pergunto e ele assente - Como é seu nome?
- Ben. - ele responde baixinho e faz uma careta quando mamãe passa o algodão sobre a bochecha arranhada dele. - Benjamin Moore.
- Ben, quem era aquele homem que estava te batendo? - pergunto e o vejo estremecer seja pela dor ou pela lembrança, eu não sei dizer.
- Era o meu pai. - ele diz e seus olhos enchem de lágrimas. - Ele estava bravo porque eu gastei o dinheiro que um moço me deu com um pão.
- Você mora com ele? - pergunto e ele assente e seca as lágrimas com as costas da mão - Onde sua mãe está?
- Ela foi embora. - ele responde e sorri - Ela disse que vem me buscar logo logo. - fala e eu vejo que seu sorriso é forçado pois não chega a seus olhos.
Ela foi embora e deixou ele para trás. A diferença entre ela e eu é que eu deixei Emma com meus pais que cuidaram bem dela e não para passar fome com um homem violento. Mas de novo eu vejo meu reflexo nele. Eu seria assim se James não tivesse me encontrado.
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Mandona
ChickLitNerissa nem sempre foi uma Romero. Ela entrou para a família após um acontecimento trágico que marcou a sua vida em luz e trevas. Mandona, sarcástica e impulsiva, Nerissa guarda segredos de todos. Segredos esses que a atormentam e a dilaceram por de...