Mandona

Capítulo 25 - De novo?

Caleb

As vezes eu tenho vontade de matá-la. Só porque eu tomei dois cafés antes das 10 ela agora está fazendo greve de café e toda vez que eu o peço, ela simplesmente me ignora ou traz a porcaria de um chá de camomila. Eca! Se ela fizer isso de novo eu vou ameaçar demiti-la!

- Victória? - a chamo e ela me olha do sofá em que está revisando meus compromissos da tarde - Um café, por favor. - peço e ela me ignora outra vez - Eu vou demitir você se continuar com essa restrição maluca!

- Faça como quiser, Caleb. - ela diz dando de ombros sem tirar os olhos da agenda eletrônica - Mas você já tomou café demais. Isso faz mal e você pode ter um colapso nervoso. Você tomou dois cafés grandes e subornou um dos estagiários para contrabandear para você.

- Só mais um, Victoria, e eu juro que será o ultimo de hoje! - peço, mas ela nem dá bola e vem para perto de mim para mostrar alguma coisa na agenda.

- Assim que terminarmos de resolver os compromissos de hoje, que estão uma bagunça, eu até te acompanho até a cafeteria aqui perto. - ela diz e me mostra a confusão de compromissos marcados para o mesmo horário. 

Como foi que eu fiz isso?

Estamos muito bem concentrados no trabalho quando de repente a porta da minha sala é aberta por uma Nerissa rodeada de sacolas de compras de bebê e um grande sorriso no rosto. Mas ele morre em seus lábios pouco a pouco enquanto olha de Victória para mim.

Ah, não! Lá vamos nós de novo!

- Estou interrompendo alguma coisa? - ela pergunta me lançando um olhar glacial.

- Só estamos trabalhando, Nissa - Victória diz se afastando de mim - Não pira!

- Não pira. - Nerissa repete e solta as sacolas no chão como se não fossem nada - Tem razão, Victória. Não tenho porque pirar. E você não tem porque ficar tão perto de Caleb. - me levanto para por um fim nisso e ela solta um suspiro de repente - Quer saber? Eu não tenho mais nada o que fazer aqui. - ela diz e simplesmente vai embora como um furacão.

- Não vai atrás dela? - Victoria me pergunta e eu digo que não.

- Eu já conversei diversas vezes com ela sobre isso e não vou fazer isso de novo - respondo voltando a me sentar - Quando ela se acalmar e quiser conversar eu falo com ela. Enquanto ela estiver com suas criancices eu não vou fazer nada. Estou  me relacionando com uma mulher ou com uma criança mimada? Ela tem que crescer, Victoria. Quando ela faz essas ceninhas, ela está colocando em dúvida meu caráter. Meu Deus, você é minha cunhada, ela é sua prima! Você e Nick vão ter dois filhos e nós também vamos ter o nosso... Quer dizer, quem ela pensa que eu sou? - digo cansado e encosto a cabeça na superfície de madeira maciça da minha mesa - Ela tem que parar com isso. Esse foi um dos porquês de eu ter me afastado dela.

- Mas é complicado para ela também, Caleb. - Victoria argumenta - Nissa sempre se faz de durona, mas se machuca muito fácil, é muito indecisa e precisa que estejamos sempre falando o quão especial e preciosa ela é para nós. Eu acho que ela só se apaixonou duas vezes em toda a vida dela.

- É, eu sei que tanto você como ela são loucas pelo Ryan, ex de Leyla. - digo e volto a me recostar na cadeira.

- Não. - ela diz e ri de mim - Ryan foi um crush, alguém que achamos bonito e sexy, mas nunca faríamos nada. Estou falando de Kurtz e de você. Ela se apaixonou por Kurtz e acreditou mesmo que ele a amava, e no final ele era só um babaca que até pediu para ela abortar.

- Como você sabe disso? - pergunto e ela dá de ombros antes de responder.

- Leyla me contou tudo. - ela diz e passa as mãos sobre a barriga - Ela ficou muito machucada e eu só posso imaginar, mas talvez, só talvez, ela tenha pensado que não merecia ser amada. E quem sabe se ela não pensa que você pode deixá-la a qualquer momento também?

- Mas eu digo todos os dias que a amo...

- Velhos hábitos são difíceis de ser superados, Caleb. - ela diz e se afasta- Ainda acho que você devia ir atrás dela - fala e se abaixa junto as muitas sacolas jogadas no chão - Não seria hoje que ela descobriria o sexo do bebê de vocês? Mas mais importante: Eu acho melhor você ir atrás dela porque, se ela chega em casa e tio Jem a vê chorando por sua causa, esse bebê vai ser órfão de pai antes mesmo de nascer.

Dou uma risada fraca afrouxando o nó da gravata.

- Você está brincando, não é? - questiono e ela me olha toda inocente - Seu tio não me mataria, mataria?

- Acho melhor não pagar para ver. - ela diz e volta a examinar o conteúdo das compras de Nerissa - Esse é o meu melhor concelho para você.

Nerissa

Hoje é o nosso dia. O dia em que sabemos o sexo do nosso bebê e ele nem se empolgou, nem demonstrou a mais remota curiosidade sobre o resultado da ultrassom. E pior, me deixou vir embora sem sequer vir atrás de mim. Não se deu o trabalho de se preocupar com meus sentimentos.

As lágrimas em meus olhos me fazem ver tudo embaçado e até um pouco turvo. Acho melhor me sentar um pouco. Passam-se alguns poucos minutos em que eu enxugo furiosamente meu rosto e tento me acalmar observando o vai e vem dos carros, motos, bicicletas e pedestres nas ruas enquanto invento e reinvento histórias para cada uma dessas pessoas e isso me faz parar de pensar um pouco na minha própria vida.

E lá está ele do outro lado da rua me encarando fixamente fazendo meu sangue congelar nas minhas veias e meus olhos colarem nos deles. O medo me paralisa ainda mais após o pensamento de que ele muito provavelmente esteve me seguindo todo esse tempo e agora eu estou sozinha. O que eu faço?

Seus olhos estão praticamente negros pois suas pupilas estão dilatadas, seus cabelos estão húmidos e escorridos por seu rosto e ele continua com as mesmas roupas sujas e esfarrapadas de quando o vi pela ultima vez.  Ele se move devagar, quase como uma figura sinistra e está ficando difícil respirar. Eu estou indefesa, ele vai me pegar! Eu quero meu pai, tio Logan, Max, Tori e Layla. Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto mas estou paralisada de medo. Não consigo mover um músculo. Onde estão meus muros? Onde está minha mãe?

- Mamã...

Ele está tentando atravessar a rua, eu tenho que sair daqui!

- Nerissa? - ouço Caleb me chamar antes de sentir suas mãos nos meus ombros então me viro e o abraço escondendo meu rosto em seu peito enquanto meu corpo treme por completo - O que houve, meu amor?

- É ele, Caleb! - digo me agarrando a sua camisa como a um salva-vidas nesse mar de medo que ameaça me engolir - É ele de novo! - forço as palavras a sair - Athos está aqui! Ele está atrás de mim!

Caleb me pega no colo enquanto olha em volta pela rua e volta correndo comigo para a editora, mas por cima de seu ombro ainda consigo ver quando o mostro rasteja para as sombras de um beco próximo.

- Eu estou aqui, meu amor. - Caleb fala arfando enquanto corre - Ninguém vai te fazer nenhum mal nunca mais.