Capítulo 29 - Hide

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Assim que o sr. engravatado se vai junto com seu amigo com a câmera, eu conto as notas que ele me deixou e percebo que o que ele me deu vai dar para comprar roupas novas para meus irmãos e comida decente por alguns dias em vez de revirar latas de lixo para comer coisas de qualidade duvidosa. Se esse cara se mostrar confiável mesmo pode ser nossa porta para uma vida melhor. Mais segura.

Inspiro o ar frio com forte cheiro de lixo e urina e balanço minha cabeça para clarear as ideias. Me aproximo de Keiko e a pego no colo. Ela está muito magra e, como os outros, está faminta. O sr. Caleb disse que procuraria um hotel para dormirmos então ela também poderá tomar um banho decente. Acho que vou comprar alguns produtos para higiene pessoal também. Hiroki se aproxima, ele é o segundo mais velho e se parece muito comigo só que não se preocupa tanto com o que acontece a sua volta, ele com certeza teria concordado logo de cara com o que me foi proposto. Mas somos crianças num mundo muito cruel. Não podemos confiar livremente, não podemos ter esse luxo. Eu tenho que me certificar de que eles não irão se machucar com tudo isso, que não estarão em perigo.

- Hiroki, pegue Shizuka e vamos sair daqui - falo e ele me obedece de imediato - Vamos comer alguma coisa.

- Vamos comer onde, irmão? - Keiko me pergunta me encarando com seus lindos olhinhos - Vamos procurar no distrito comercial ou vamos procurar no residencial?

- Não, maninha. Hoje vamos a uma lanchonete comer panquecas, torradas, bacon, ovos, suco e tudo mais! - falo e seus olhinhos brilham de empolgação - Hoje vamos ter um bom dia! - lhe prometo e ela sorri contente.

Lembro que tenho que me encontrar com Caleb daqui a uma hora para pegar o celular e a chave do quarto e apresso meus irmãos até a lanchonete mais próxima para que nenhum deles desmaie de fome. Assim que entramos o cheiro de comida fresca e o calor inundam nossos sentidos ao mesmo tempo que as garçonetes e o cozinheiro nos olham com repulsa e isso me enfurece um pouco. Não somos pobres por escolha, não temos culpa de viver nessa situação! Mas também entendo o comportamento deles. É comum que garotos da minha idade entrem aqui com alguma arma na mão e os assalte ou que roubem comida. Graças a Deus que nunca fui um deles. Sempre preferi passar fome a roubar ou machucar alguém.

Levo meus irmãos para a mesa mais longe das portas e do caixa e peço o cardápio. Faço o pedido e pago logo em seguida para que eles relaxem um pouco e não nos expulsem daqui. Uma garota loira com um casaco escuro entra e se senta junto ao balcão. Acho que já a vi antes. Ela pede um café puro e espera batucando os dedos na superfície amadeirada com cheiro de desinfetante. Como que sentindo meu olhar ela se vira e me encara por um momento com seus olhos azuis quase cinzentos antes de desviar o olhar para os meus irmãos. Assisto hipnotizado enquanto ela recebe seu café, paga e fala alguma coisa com a empregada que responde alegremente. Então ela se levanta e sai sem olhar para trás. Poucos minutos depois a garçonete que nos atendeu traz consigo nosso pedido e eu logo me distraio com a comida. Não tinha ideia de que estava com tanta fome até começar a comer.

- Olá - Ouço de repente e levanto a cabeça para dar de cara com a garota do café de agora a pouco - Desculpe estar incomodando vocês, mas eu trouxe algumas roupas para vocês e falei com a Lírio. Vocês podem usar o banheiro dos funcionários para tomar um banho e trocar de roupa.

- Por que acha que precisamos da sua ajuda? - questiono antes de conseguir me conter. Ela só queria ajudar e eu sou rude por natureza. Que merda!

- Porque eu também já morei na rua. - Ela responde sem se deixar abalar- Aqui estão as roupas e produtos de limpeza pessoal. Faça como quiser.

MandonaOnde histórias criam vida. Descubra agora