A única coisa que eu não tinha planejado para o início da semana era explodir mais uma pilha de livros de fantasia do meu irmão bastardo.
Não que eu me importasse com a raiva dele, mas porque eu sabia que teria que inventar uma boa desculpa para o desaparecimento dos mesmos, já que, claramente, a culpa seria jogada em mim.
Ele não teria como saber que os livros foram explodidos, mas eu tinha noção de que a primeira coisa que viria em sua mente quando percebesse o sumiço seria agarrar minha camisa pelo colarinho e tentar me ameaçar a contar onde eu os havia escondido.
De qualquer forma, a única coisa que sobrou foram os destroços das páginas e algumas folhas soltas. Tive que me levantar rapidamente e juntar todo o papel nas minhas mãos, fazendo uma bolinha com o material. Antes de pensar em arremessar na lixeira e ser descoberto, fechei os olhos e me concentrei no calor do meu corpo, permitindo que toda a energia quente que corria nas minhas veias se deslocasse para a palma das minhas mãos, transformando todo o papel em chamas baixas e fortes, que se decomporam em cinzas poucos segundos depois. Pude sentir a cor dos meus olhos voltar ao normal gradativamente, enquanto minha pele e meu lábio estavam gelados pela perda de temperatura corporal.
Antes que me culpem ou me chamem de péssimo quase-irmão, já é bom eu explicar que nada disso foi proposital. As vezes eu gostava de ler alguma coisa que não fosse mangás ou grimórios de bruxas antigas e antiquadas, e já que uma parte da biblioteca de casa era destinada apenas para os livros de fantasia e mitologia do filho da minha madrasta, eu não precisava gastar dinheiro comprando alguns para mim.
A biblioteca de casa, na verdade, não era nada mais nada menos que algumas prateleiras no sótão. Eu passava mais tempo lá em cima do que no meu próprio quarto, pois meu pai considerava um local mais apropriado para eu aprender a controlar os poderes que foram passados para mim quando minha mãe faleceu, 11 anos antes. A porta do sótão não tinha tranca, mas convenhamos que eu não precisava de um cadeado para manter uma porta fechada. Bastava um olhar e pronto, ninguém mais abria.
O lugar era bonito. Um pouco antigo comparado ao restante da casa, mas bonito. O piso, as paredes e as prateleiras eram constituídos de um mesmo material, madeira negra. A janela lateral era comprida e espelhada, de forma que quem estivesse do lado de fora não conseguiria ver o que se passava lá dentro, e quem estivesse lá dentro teria uma incrível vista do pôr do sol de Seoul, da ponte do rio Han e, o mais incrível, das estrelas e da iluminação noturna. Ficar naquele cômodo durante a noite era uma das coisas que eu mais apreciava em casa, e tudo ficava ainda mais belo e mágico quando eu decidia tentar algum feitiço com pedras preciosas, fazendo com que uma fumaça colorida pairasse no ar. O que mais ocorria era em tons de verde e azul, uma vez que a maior disponibilidade de pedras que eu tinha variavam nessas cores, mas o que eu gostava mesmo era da fumaça roxa. Os feitiços roxos eram os mais antigos, e também os mais belos e difíceis.
Pelo o que lia em livros, a primeira vez que a magia foi testemunhada aos olhos humanos foi há um bom tempo, quando a língua hebraica era pouco usada e conhecida na região asiática. Os grimórios mais antigos eram os escritos em hebraico original, sem chance de tradução. Eu tinha todos eles, mas mal sabia folheá-los.
Muitos acreditam que o Homem aprendeu a manusear fogo raspando duas pedras, mas isso é apenas o que é contado nos livros de história. A primeira chama de verdade foi realmente formada a partir de uma pedra arroxeada pelas mãos de uma bruxa, mil anos antes do nascimento de Cristo. Seu nome era hebraico, e hoje seria pronunciado mais ou menos como Alexandrina, por isso a nossa pedra mais preciosa tinha o nome de Alexandrita.
Obviamente, as Alexandritas não eram tão raras assim de se encontrar, mas seu uso era praticamente impossível para bruxos iniciantes como eu.
Nunca soube quantas famílias bruxas ainda haviam na Terra, considerando o fato de que os poderes sempre foram passados sucessivamente para o primeiro filho ou filha dos herdeiros. Minha mãe costumava dizer que, inicialmente, haviam milhares de famílias abençoadas com diferentes tipos de poderes, um mais excêntrico que outro, mas, conforme os anos foram passando, e as sociedades antigas descobriam essas "anomalias", muitas dessas bênçãos eram queimadas rente às fogueiras.
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Oxygen ➟ taekook
Короткий рассказ• Short Fic • Após levar um fora do melhor amigo, Jeon Jungkook ignora os conselhos do pai e vai atrás do livro de feitiços de sua família, procurando encontrar a tão proibida receita de poções do amor. Devido à sua inexperiência, ele acaba ativand...