Capítulo 4

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Era uma manhã fria e nebulosa de novembro, e os ponteiros dos relógios marcavam 5 horas. Pela janela do quarto, eu assistia o despertar de um novo dia, enquanto o céu se mesclava em tons de azul e alaranjado. Era minha combinação de cores preferida, embora eu gostasse mais da iluminação do pôr do sol.

Minha casa era incrível. Eu assistia o amanhecer pela janela do quarto e o entardecer pela janela do sótão. Às vezes eu dava uma de louco e ia flutuando até o telhado para contemplar as constelações quando o céu noturno estava limpo.

Era sexta-feira, vinte e cinco horas após o primeiro beijo que tive com Taehyung. Isso significava que eu tinha exatas quarenta e sete horas para dar um jeito de desfazer o feitiço antes que ele tentasse me beijar de novo.

Não tínhamos trocado nenhuma palavra desde o ocorrido naquela madrugada, que parecia ter acontecido anos atrás. Estava deitado na cama, encarando o teto, xingando mentalmente os dois intrusos que moravam na minha casa pelo barulho.

Era cinco da manhã, e eu só queria poder dormir por pelo menos sete horas antes de ir para a faculdade. Teria dado certo se Eunah e Taehyung não estivessem brigando aos gritos no andar debaixo.

Era a primeira vez que isso acontecia.

Estressado, levantei e escovei os dentes, abrindo o armário em seguida para procurar uma jaqueta grossa e uma calça de moletom porque estava muito frio. Me olhei no espelho e percebi que não tinha ficado tão ridículo como imaginei, então decidi que iria vestido daquela forma mesmo para a universidade. Coloquei um tênis vermelho, para combinar com a camisa xadrez do meu pijama, e balancei a cabeça igual um cachorro para ajeitar meu cabelo. Ou melhor, para bagunçá-lo ainda mais.

Peguei a mochila e desci, não voltaria no quarto antes de sair.

Não precisei aguçar minha audição para ouvir a briga. Quando alcancei a base da escada, vi os dois brigarem próximos ao sofá, ambos de braços cruzados. Taehyung parecia assustado e prestes a chorar, afinal, era o filho perfeito que nunca levava bronca.

Por um momento eu me senti bem com aquilo, mas depois, quando decidi prestar atenção nas falas de Eunah, meu corpo gelou, e eu senti que precisava fazer alguma coisa.

Até porque a culpa era minha.

— Ele não vai tirar as lentes se ele não quiser— disse, deixando minha mochila em uma das cadeiras e indo até eles. Me posicionei do lado de Taehyung e olhei friamente para Eunah.

— Ele já tem quase vinte e quatro anos, não acha que está na hora de parar de decidir o que o garoto faz com a aparência dele?— completei. Taehyung me olhou de canto, agradecendo por eu ter me intrometido.

Nós dois éramos os únicos que sabíamos o real problema daquilo.

Ele não podia tirar a lente, porque não era lente, e se Eunah continuasse insistindo no assunto, logo descobriria a verdade por trás da situação.

Se ela não gostava de roxo, e de como a cor tinha ficado nos olhos do filho, era problema dela.

Combinava com o meu cabelo, pensei.

De qualquer forma, eu não estava errado. Se Taehyung decidisse usar lente nos olhos, Eunah não tinha o direito de controlá-lo e o proibir de fazer isso.

Porra, ele não tinha dez anos.

— Não se meta, Jeon Jungkook. Ele é meu filho.

Passei um braço pelos ombros dele.

— Meu irmão— respondi, contrariando tudo o que já havia dito e feito com Taehyung desde que ele surgiu.

Ela franziu o cenho e me olhou de cima abaixo.

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