Capítulo 9 - Kim Taehyung (exatamente 17 dias depois)

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Raios.

Quando eu era pequeno, costumava olhar para cima, pela janela do carro, e imaginar qual seria a distância entre o céu e a Terra, se é que houvesse uma. Muitas vezes eu olhava para as nuvens e imaginava quanto espaço ainda existia além delas, o quão longe iria aquela imensidão azul, onde ficava o fim dela, se houvesse mesmo um fim.

O homem nunca foi capaz de tocar o céu, o que chega a ser cômico, pois todos enxergam a bendita imensidão azul todos os dias, que varia entre todos os tons de cores possíveis devido a ocorrências aleatórias da natureza.

Até mesmo as nuvens, um avião pode passar por entre elas, mas nunca vai se chocar com uma como se chocaria com algo feito de matéria sólida, embora todos nós sabemos que existe matéria nas nuvens.

Fascinante, não?

Mas existe um fenômeno capaz de conectar o céu e a Terra. Um fenômeno rápido como a luz e poderoso como um feiticeiro. Um fenômeno que, além disso, comprova a existência de substâncias nas nuvens.

Os raios.

Eletricidade pura.

Uma descarga elétrica capaz de pulverizar um pequeno ser vivo em questão de segundos, mas extremamente bonita aos olhos das pessoas.

Aquele monstro que todo mundo idolatra. Todos fogem dele, mas, na primeira oportunidade, estão fotografando-o.

São os raios.

Um desses atingiu a minha mãe, bem no peito, algumas noites passadas. E, pela primeira vez, eu vi um desses conectando dois corpos, e não o céu e a Terra, mas ligando a palma da mão de Jungkook e o tórax da mulher que eu chamava de mãe.

O impacto com a energia descarregada lhe causou problemas permanentes no coração devido a uma fibrilação ventricular, segundo os médicos.

A carga de um raio é mortal, e às vezes eu me pegava pensando no tamanho da força necessária para o corpo de um ser humano suportar essa quantidade de energia dentro de si.

Jeon Jungkook era surpreendente.

Passei a temer qualquer tipo de raio, embora achava-os fascinantes. Ficava obcecado quando os via de longe, e, quando tinha a oportunidade, observava bem de pertinho.

O garoto que estava quase dormindo ao meu lado tinha um desses tatuado no braço, mas era escuro, preto, como se estivesse descarregado. Era o oposto de eletricidade, então eu não tinha medo.

Jungkook murmurava algumas coisas sem sentido sobre constelações de estrelas, coisa que aprendeu na faculdade, e eu admirava cada detalhe do desenho na sua pele enquanto fingia prestar atenção no que ele falava.

Seu braço estava jogado por cima de mim, e eu o segurava como se estivesse segurando um livro para ler, com a mesma curiosidade de quem está lendo um romance policial pela primeira vez e descobre junto com os outros leitores cada detalhe da investigação.

Estava frio, e a brisa gélida da madrugada entrava no quarto pelas frestas da janela.

Passei meu braço por cima da cabeça dele e deixei que ele deitasse no meu peito, me abraçando pela cintura.

Como se uma onda de eletricidade tivesse percorrido o corpo dele, vi seus pequenos pelinhos se arrepiarem em volta da tatuagem.

— Você deveria se vestir, Kook, está frio.

Ele murmurou um aham contra a minha pele e fingiu se esforçar para levantar.

Segurei seu corpo e o puxei para cima, junto comigo. Depois estiquei o braço para buscar nossas roupas, que estavam caídas no chão próximas da cama.

Oxygen  ➟ taekook Onde histórias criam vida. Descubra agora