EXTRA - ALEXIA

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O grupo de apoio ao que Eric se referiu se reunia numa ONG de prevenção e apoio aos portadores de HIV

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O grupo de apoio ao que Eric se referiu se reunia numa ONG de prevenção e apoio aos portadores de HIV. Havia vários grafites nas paredes, cartazes sobre prevenção, sobre mitos e verdades, entre outros. Eric me guiou pelos corredores, parecendo levemente ansioso enquanto andava.

— Tudo bem? – perguntei hesitante, ajeitei uma mecha do meu cabelo para trás do ombro. Tinha prendido parte num rabo de cavalo alto e deixado a outra parte solta, a fim de dar a ideia de mais volume.

Eric cortara o cabelo, as mechas loiro-escuras não caiam mais sobre a testa e os olhos claros pareciam cinzentos sob a luz do corredor. Ele usava uma camiseta verde de mangas pretas e uma bermuda jeans surrada. Apertava as mãos repetidamente de um jeito que me fez lembrar o Mathias. Era estranho, mas conseguia perceber alguns pequenos hábitos que os dois tinham em comum. O jeito sempre ansioso com que apertavam as mãos, como pareciam ficar tensos facilmente e como eram o tipo de pessoa que de bons abraços.

Os dias vinham sendo difíceis desde o diagnóstico. Eram pequenos medos demais de repente. Medo de ajudar na cozinha, me cortar, derramar sangue em algo e infectar minha família toda por exemplo. Medo de não me adaptar aos remédios porque de verdade, era estranho... Eu não conseguia me lembrar nem de tomar o anticoncepcional e tipo, ok, o médico receitou isso só pra resolver meu problema com espinhas, então poderia esquecer o anticoncepcional, mas não poderia esquecer o antirretroviral. Ícaro assumiu o cuidado de me lembrar, mas isso não era uma responsabilidade que eu queria que ele tivesse! Se não conseguia ser capaz de me lembrar sozinha o que eu podia esperar pro futuro?

Respirei fundo, meu coração disparado com esse pensamento.

Eric vinha sendo um apoio importante no meio dessa confusão toda. Me acompanhou até o infectologista, mas não entrou comigo. "Manter a autonomia é uma parte importante no processo de lidar com isso", disse, mas só explicou depois: HIV é o tipo de coisa que quando você contrai, pensa que não vai ter mais toda independência e autonomia de antes. Então, coisas simples como essa, ajudavam a entender que nada mudava. Eu achava graça que ele tomasse cuidado até com isso.

De verdade, nunca pensei em Eric Cardoso como cuidadoso. Ele tinha esse jeito bruto fora as babaquices que falava e o quanto eu queria matá-lo quando chamava meu irmão de mudo. Mas, tirando isso... Bom, ele era carinhoso, preocupado e sabia usar bem as palavras.

— Tudo bem sim. – sorriu. — É que... – pareceu sem graça e deu de ombros.

— Eric? – arqueei a sobrancelha.

— É bobeira minha na real. – ele fez careta. — É aniversário do meu irmão hoje. Ele morreu então, quando chega esse dia eu fico meio... Enfim, depois daqui vou comprar umas flores pra colocar no altar que temos pra ele. E velas novas também. Aromáticas, claro. Afinal, é um negócio... Tipo, não temos religião lá em casa, é só que... É só...

— Entendi.

— Desculpa, fico nervoso no dia de hoje. Sinto falta dele. – abaixou a voz na última parte, como se sentisse de vergonha em admitir isso.

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