EXTRA - ERIC

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Então, esse capítulo é na verdade uma cena curta do Eric e da Alexia conversando sobre ela ter HIV. É narrada pelo Eric e, apesar de não ter muita coisa, é legal e alguns de vcs disseram que gostariam de ler isso então tá aqui 💖

Domingo teremos capítulo às 20h normalmente 💖

Não me lembro de ter havido uma época que não soubesse ter HIV

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Não me lembro de ter havido uma época que não soubesse ter HIV. Provavelmente durante os primeiros anos da minha vida e na época do orfanato eu não sabia... Mas, tirando esses anos dos quais mal me lembro, sempre soube. Nunca foi algo que eu tivesse problema em falar sobre. E era esse o problema.

Lembro de quando era pequeno e saía falando pras crianças com que brincava que tinha AIDS, sei lá, pra mim era uma informação engraçada de compartilhar... As crianças não sabiam o que era isso claro, eu também não entendia muito, então só dizia que era um negócio que podia me fazer ficar doente fácil se eu não tomasse remédio.

Bom, o problema é que crianças falam. E os pais às vezes escutam.

Depois dos pais proibirem os filhos de brincarem comigo, minha mãe achou melhor procurar outra creche pra me colocar e baixou uma nova regra: "não conte pra ninguém que tem HIV." Eu segui essa regra sem entender direito... Pra mim, era só um negócio no meu sangue, era o que o médico explicava também. Não tinha como eu saber todos os tabus que giravam em torno do assunto quando pequeno.

Diego foi sempre muito carinhoso comigo... Quando eu fui adotado, Diego tinha uns treze anos. Minha mãe tem um vídeo de quando me trouxeram pra casa, no vídeo ele segurava minha mão e saía chamando as pessoas na rua pra falar "oi, esse é meu irmão." Eu achava fofo... Mas, depois que ele morreu, nunca mais consegui assisti-lo. Nunca mais consegui assistir nenhum dos vídeos caseiros que minha mãe tinha da gente.

Aos onze, Diego decidiu que eu já tinha idade o bastante para entender que o problema não se resumia ao vírus. Ele foi explicando, explicando, e tudo ia fazendo sentido. Às crianças que se afastavam, as enfermeiras que pareciam ter medo de encostar em mim... Ele falava e eu chorava enquanto tudo começava a fazer sentido.

Enfim, uma vez que aprendi a lição, fiquei mais cuidadoso com quem falava sobre isso. Mas cuidado não impediu que eu fosse exposto na internet pra todo mundo ver, com endereço e número de celular. Sempre que lembrava disso, sentia um gosto ruim na boca e um medo inexplicável.

Então, de cauteloso fui pra desconfiado. Aprendi que não dá pra confiar em praticamente ninguém, na maioria das vezes, mesmo aqueles que confiava provavam que não eram muito diferentes de quem havia me exposto quando criança. Mathias foi uma exceção, Simone e Francisco também, Alexia também. Mas só. Era como se minha vida toda estivesse apanhando pra aprender de uma vez que devia esconder isso.

Mas, nunca aprendia.

Estalei os dedos da mão, tentei me focar no caminho que o ônibus fazia. Tinha deixado algumas coisas para arrumar em casa, mas nada que eu não pudesse ajeitar antes que minha mãe e a Lavínia chegassem... Era estranho que elas já estivessem morando juntas, admito, mas... Mulheres. O importante era que Lavi era legal e que minha mãe estava feliz. Não feliz de verdade, só feliz.

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