Pesadelos e Amigos

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Naquela noite, sonhei com Diego

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Naquela noite, sonhei com Diego.

Achava estranho quando isso acontecia, afinal, nem o conheci. Não sabia muito sobre ele, sabia que era um garoto inteligente, que sempre foi muito amado e que isso tornava tudo tão mais trágico. Sabia sua aparência pela quantidade infinita de fotos que já tinha visto:

Cachos que beiravam ao crespo, longos, volumosos e revoltosos. Nariz achatado e olhos escuros. Pele negra clara e em todas as fotos que eu vi, estava sempre com o mesmo sorriso confiante que fazia parecer que o mundo inteiro iria parar um instante apenas para olhá-lo.

No sonho, Diego estava saindo de uma festa na casa da amiga, estava bêbado e irritado como eu sabia que estava naquela noite. Andava cambaleando e eu tentava chamá-lo, mas ele não escutava e seguia andando e tropeçando.

Gritei pedindo para que não atravessasse a rua, mas ele não ouviu, apenas andou enquanto os carros vinham. Uma vez do outro lado, se virou pra mim e riu. A risada dele parecia com a do Eric.

Os olhos de Diego se arregalaram e ele gritou algo, mas sua voz foi levada pelo vento da noite fria. Ouvi uma buzina e percebi que estava no meio da rua.

Acordei no mesmo instante em que o carro me atropelava.

Estremeci me livrando das cobertas.

Não era com frequência que eu sonhava com Diego. Acho que só cheguei a sonhar com ele umas duas vezes, ambas tinham sido há muito tempo, mas o sonho sempre era o mesmo.

Me sentei na cama e fechei os olhos, massageei minhas mãos sentindo meus dedos doerem, fazia tempo que eles vinham doendo, meu pulso também.

Lembrei do momento que Eric me contou sobre o Diego:

Foi na primeira vez que estávamos fazendo uma prova juntos, ainda com 12 anos. Eu roia as unhas analisando a questão de biologia e ele bufou com a mesa grudada na minha.

— É a C, eu já disse. - falou parecendo incrivelmente entediado.

— Acho que não...

— É a C. E mesmo se não for, uma questão a menos não vai fazer a gente reprovar.

— Mas, não tem como saber se as outras tão mesmo certas...

— Ah, pelo amor de Deus! - ele arrancou a caneta da minha mão, puxou a prova e marcou a alternativa C. — Eu tenho mais motivos para me preocupar em repetir do que você, então se eu digo que é a C, é porque é a C!

Quis reclamar, mas fiquei com medo. Naquela época eu tinha muito medo do Eric embora ele nunca tivesse me feito nada.

Concordei com a cabeça e peguei a prova para entregar a professora. Ela comentou algo em voz alta sobre a repetência do Eric e ele revirou os olhos enquanto eu voltava a sentar ao seu lado, desconfortável.

— Eu odeio quando ela me lembra disso. - murmurou. — Como se ela não soubesse o porquê de eu ter repetido. Vadia.

Com doze anos, fiquei assustado por ele ter xingado a professora daquela forma e olhei com medo e curiosidade, mas seus olhos estavam perdidos na lousa.

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