Chapter 3

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Chapter 3

Algumas horas antes, tudo que Draco era capaz de pensar era em sua cama; no sossego do seu quarto, mas como seguir pensando nisso quando se descobre que sua voz estimula o cérebro de uma pessoa que está em coma há longos e torturantes quatorze anos?

— E então, doutor, como isso funciona? — Draco perguntou. Era por volta das quatro da manhã quando o doutor conseguiu arrumar tudo para o novo tratamento de reanimação cerebral com ultrassom.

— É uma técnica não invasiva que usa pulsações de baixa intensidade para agitar os neurônios. As ondas sonoras serão direcionadas para o tálamo, que é a parte do cérebro responsável por funções como regulação de consciência, sono e estado de alerta e, se der tudo certo, essas ondas despertarão o paciente.

— Eu só preciso... falar? — Draco perguntou repuxando o canto da boca. O doutor sugeriu fazerem isso pela tarde do dia seguinte, mas Draco disse que teria que estar no hospital em seus horários de prática. Lily, com medo de perder a oportunidade, pediu ao médico que fizesse o quanto anos e que dinheiro não seria o problema.

— Apenas converse com ele, já sabemos que ele te ouve. Só vou levar Lily para assinar alguns papéis. Se importa de esperar? — Draco negou.

— De jeito nenhum. — Ele respondeu, bocejando no momento seguinte. Estava, de fato, morto de cansaço, contudo, também se via ansioso.

— Certo. Com licença. — Ele pediu, saindo com Lily. Draco suspirou e caminhou até a cama de Harry novamente.

— Olá de novo, Hazzi. — Draco disse, analisando com atenção cada detalhe do garoto. Suas sobrancelhas eram grossas e, apesar do aparelho que mantinha sobre o rosto para ajudá-lo a respirar melhor, Draco conseguia ver sua boca delicada e o nariz fino. Ele parecia estar dormindo; Draco se atreveu a tocar a mão de Harry com cuidado. A pele estava um pouco fria e Draco resolveu fazer algo em relação a isso. — Está com frio?

Perguntou por perguntar, afinal, o doutor já havia falado que pacientes nesse estado não sentiam nem calor e tampouco frio. Começou uma carícia lenta e gentil de sobe e desce na pele do menino, no intuito de aquecer a região.

— Seu médico me contou um segredo. — Draco disse rindo. —  Ele disse que você gosta da minha voz. — Draco deu um pulo quando sentiu o dedo anelar de Harry se mover. — Oh, meu Deus! Isso foi um sim? — O dedo voltou a se mover e Draco abriu a boca em completo espanto.

Lily precisava saber disso, era a única cosa que Draco pensava.

— Certo, vamos tentar de novo. — Draco disse sorrindo. — Eu comprei alguns caramelos no caminho para cá esta manhã. Você gosta de caramelos? — O dedo voltou a tremer e Draco sorriu ainda mais empolgado. — Você está indo muito bem. — Draco disse animado. — Você sabe onde está?

Draco esperou e alguns segundos depois, quando ele já pensava que não obteria resposta alguma, o dedo voltou a mexer, porém dessa vez duas vezes.

— Duas vezes seria um não? — O dedo voltou a mexer uma vez e Draco sorriu. — Bem, estou ficando realmente bom em entender você. — Ele disse em um suspiro. — Eu não sei por que justo a minha voz te atrai, mas estou feliz por isto. É bom se sentir útil às vezes. Meu chefe mão me dá sinais de que eu seja bom em algo, então obrigado por isso, Harry. — A mão de Harry apertou a de Draco, fazendo Draco se surpreender. — Wow, você realmente gosta que eu diga seu nome, hm? — O dedo se moveu uma vez e logo em seguida a porta foi aberta.

— Demoramos? — O homem perguntou.

— Doutor, essa máquina é realmente boa. Ele já consegue mover a mão. — O homem franziu o cenho em confusão.

— A máquina não está ligada, Draco. Você tem certeza que ele se moveu?

— Sim, várias vezes. Veja... Harry, você poderia mostrar ao médico o mesmo que me mostrou? — O dedo anelar voltou a se mexer e Draco sorriu. — Viu?

— Isso é incrível, mas pode ser apenas reflexos. Eu quero muito que isso dê certo, Lily, mas não quero que crie expectativas demais ao ponto de se machucar caso ele não acorde ou tenha sequelas.

— Não se preocupe, eu sei. — A mulher disse tristemente, porém firme.

— Hey, Hazzi... Sua mãe está linda agora. Ela está com saudades. Gostaria de abraçá-la? — O dedo, mais uma vez, se moveu uma vez e Lily sorriu, sendo inevitável segurar as lágrimas.

— Draco, apenas continue. Vou ligar a máquina. — O médico disse seriamente, caminhando até o aparelho e o ligando. Draco encarou intensamente Harry, pensando em algo que ele gostaria de escutar, porém não conseguiu não conseguiu pensar em nada, então decidiu dizer algo que gostaria de dizer.

— Eu gostaria de poder a sua voz, Harry. — Ele disse. Lá fora tudo estaria um caos, afinal aquilo era um hospital, no entanto, ali dentro o silêncio era preenchido apenas pelos sons emitidos pelas cordas vocais de Draco. — Você gosta de ouvir eu dizer o seu nome, mas acho que ele deve soar mias bonito na sua própria voz. Poderia me ajudar com isso?

Um suspiro foi escutado, porém não fora de Draco, senão de Harry. O garoto parecia estar realmente tentando.

— Não se preocupe, eu sei que está dando o seu melhor. — Draco disse, desviando seus olhos para a mão delicada e imóvel de Harry. — Vou voltar a segurar sua mão, eu posso? — O dedo voltou a se mexer e Draco sorriu, esbarrando delicadamente sua mão sobre a de Harry. — Quando o doutor te examinou eu reparei que seus olhos são verdes. Eu trocaria todos os meus caramelos por voltar a vê-los, são lindos! — Disse um tanto envergonhado por estar revelando seus pensamentos em voz alta.

Lily sorriu, não um sorriso simples, pelo contrário, era um sorriso que enfeitava de orelha a orelha. Draco era doce; mesmo sem entender quais razões levaram seu filho a se aferrar à voz daquele moço, de qualquer forma estava contente por isso.

Harry começou a se remexer inquieto na cama, fazendo Lily começar a chorar e Draco se assustar. O médico retirou o aparelho que o ajudava a respirar, afinal, ele havia percebido que havia sido por aquela razão que Harry se mexera. O aparelho o incomodava.

— Harry? Pode me ouvir? — O doutor perguntou em expectativa.

— Harry? — Draco chamou e, assim como ele pediu, os olhos vagarosamente começaram a se abrir. Draco simplesmente paralisou; o garoto abriu os olhos bem em sua direção, como se o tivesse feito unicamente para vê-lo. A intensidade das orbes verdes era intimidadora, mas em momento algum Draco desviou os olhos.

— Olá de novo. — Draco proferiu, deixando que um sorriso dominasse sua expressão. Os verdes piscaram pela primeira vez e o médico lhe olhou em expectativa.

— Os seus olhos também são lindos. — A voz saiu baixa, tímida e acompanhada de um pequeno sorriso. Era mesmo real, ele havia acordado.

Em Um Piscar de Olhos | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora