Chapter 35

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Chapter 35

Draco havia pegado, naquele dia, o carro emprestado de Blaise para levar Harry até sua casa antes de ir para o hospital. O frio já não castigava tanto, afinal estavam quase na primavera, porém ainda se agasalhavam bem.

Ele já tinha o dinheiro para comprar seu próprio carro, porém o deixava no banco, rendendo juros enquanto não via que era algo de extrema importância. Havia ido viver em uma república anos atrás justamente para economizar dinheiro, afinal seu pai lhe mandava o dinheiro para a despesa de uma casa grande somente para ele, então conseguia juntar bastante por mês.

— Você fica bonito dirigindo. — Harry elogiou, reparando no semblante sério e concentrado de seu namorado.

— Obrigado. — Draco disse, entrelaçando seus dedos nos de Harry. Ele andava com cuidado, em uma velocidade lenta, afinal Harry já havia sofrido um acidente de carro, não precisava de outro.

— Sei que é seu aniversário, Dray, mas eu posso te pedir algo? — Harry perguntou, vendo o carro ser estacionado em frente à sua casa.

— O que quiser, amor. — Draco disse, se virando para olhá-lo. Harry desprendeu seu cinto e mordeu o lábio inferior.

— Me ensina a dirigir? — Pediu empolgado, reparando na surpresa que invadiu o rosto de seu namorado.

— Acho que ainda é muito ce...

— De novo isso. — Harry expressou bufando, aparentando estar chateado.

— Isso o quê, Hazzi?

-- Nada. — Disse, soltando o ar de seus pulmões. — Nos falamos mais tarde.

— Não faça isso, Haz. — Draco disse rindo. — Sabe que odeio ficar curioso.

— É que você pode se chatear. — Harry disse, olhando para suas mãos.

— Me dirá depois? — Draco perguntou e Harry assentiu.

— Olhe, é a senhora Wilson. — Harry disse animado, olhando pelo retrovisor a vizinha da frente varrer sua calçada. — Vou lá dar um oi para ela.

— Eu te acompanho. — Draco disse, soltando o cinto.

— Não. Você está na sua hora.

— Mas pode vir algum carro e...

— Draco, quando você vai parar com isso? — Harry questionou irritado.

— Parar com o quê? — Draco indagou confuso.

— Com isso de me prender. — Explicou. — Eu sei que você me ama e sei que faz pelo meu bem, mas o médico, a psicóloga, a psiquiatra e todo o resto do mundo, inclusive a minha mãe, me indicou fazer coisas de pessoas da minha idade.

— Eu só queria te fazer companhia. — Disse, vendo Harry arquear uma sobrancelha. — Tudo bem, é só... Que você está progredindo muito rápido. Não sei até onde posso te deixar...

— Você não é a minha mãe para me deixar fazer algo ou não. — Harry disse irritado e Draco se espantou. Ele jamais havia visto seu namorado explodir daquele jeito. — Eu sei que é seu aniversário e eu não quero que seu dia seja ruim, então nos falamos mais tarde.

— Espere... — Draco pediu, segurando suavemente o pulso de Harry quando viu que o garoto iria abrir a porta. — Você está mesmo chateado comigo por querer te proteger? — Harry suspirou e demorou alguns segundos antes de lhe fitar.

— Você não me deixa nem atravessar a rua sozinho, como se eu fosse estúpido o suficiente para não olhar para os dois lados. — Harry disse. — Sobre termos relações, eu entendo, Dray, você ainda não acha que eu esteja preparado, apesar de eu claramente demonstrar que sim. — Continuou. — Você não me deixar fazer nada das pessoas da minha idade ou não deixa seus amigos falarem de determinados assuntos quando estou presente, mas eu andei pensando muito nisso.

— Andou?

— Sim, andei. — Harry disse. — Tenho certeza de que minha mãe poderia ter te dito: "Não quero você perto do meu filho, ele ainda tem a mente de uma criança". Mas ela não disse, Dray. Sabe por quê?

— Porque ela confia em mim? — Draco perguntou confuso.

— Também, mas sobretudo porque ela confia em mim. — Harry disse, se inclinando e dando um selinho em Draco antes de abrir a porta. — Eu preciso crescer, Draco, e juro que estou tentando. Todos estão tentando me ajudar nisso, mas a pessoa mais importante para mim, além da minha mãe, não está colaborando muito. — Falou seriamente. — Bom serviço. — Harry disse solenemente antes de fechar a porta e Draco sentiu o desejo de sair do carro e ir consertar as coisas, porém estava em sua hora, por isso ligou o carro.

[...]

— Já estou aqui. O que tinha para falar comigo? — Ele perguntou a Severus, sem aparente humor.

— É sobre a sua falta de um tempo atrás, alegando que seu namorado estava doente. — Ele disse seriamente e Draco bufou, ele não estava em um bom humor, havia sido superprotetor com Harry sem sequer perceber e, o pior de tudo, não havia reparado que isso magoava seu namorado. Que péssimo namorado ele era, pensava.

— Não sou obrigado a ter cem por cento de presença. — Draco disse secamente e o homem sorriu, fazendo Draco enrugar o rosto em completa confusão.

— Sabe por que eu impliquei tanto com você? — Ele perguntou e Draco negou. — Porque eu me via em você, criança: sempre dedicado, sem vida social, fazia horas extras, tirava as melhores notas.

— E por que isso é um problema? — Draco perguntou com rispidez.

— Porque eu perdi minha mulher e só fui descobrir nove horas depois, porque não quis atender o telefone, afinal eu estava estudando no meu horário de almoço. — Ele disse com amargura. — Ela estava viva e eu poderia ter dado um último adeus, mas coloquei o trabalho acima de tudo. — Draco o fitou surpreso.

— Está dizendo que... Só porque com você foi assim, comigo seria igual? Que me maltratou igual um nada por rancor de você mesmo? — Ele perguntou incrédulo, vendo ele assentir.

— Mas quando me ligou algumas semanas atrás e mencionou que faltaria por seu namorado... — Ele disse. — Vi que era diferente. Eu gostaria de me desculpar com você.

— Uau. — Draco disse, sentindo raiva e ao mesmo tempo dó. — Está tentando se redimir mesmo.

— Estou. — Ele disse, entregando uma folha enrolada com um laço vermelho. Draco pegou com certo receio, mas quando abriu não pôde crer no que lia.

— Eu não acredito. — Draco disse boquiaberto, sorrindo logo em seguida.

— Te fiz trabalhar quase o dobro, você está mais do que apto. — Ele disse sorrindo. Era uma das poucas vezes que Draco o havia visto sorrir. — Desde aquela ligação eu conversei com todos da universidade e do hospital, você se formaria em julho, hm? — Draco assentiu. — Bem, adiantei seu processo, parabéns, você é oficialmente um fisioterapeuta.

Draco nem sabia dizer quando foi que lágrimas haviam começado a descer de seus olhos, mas as podia sentir ali.

— Você pode ir na formatura em julho, junto com os seus colegas, se quiser. — Ele disse. — E bem-vindo à equipe do hospital. A partir de hoje você é assalariado.

— Muito... Obrigado. — Ele disse, vendo seu certificado com os olhos brilhando.

— Eu consegui isso semana passada, mas vi na sua ficha que hoje era seu aniversário, então esperei. — Ele disse suspirando. — Feliz aniversário. — Disse em um sorriso. — Era só isso. Ao trabalho, Malfoy.

— Severus... — Draco o chamou assim que ele virou as costas. — Você não poderia prever que sua esposa morreria. Você não tem culpa. — Ele assentiu e o olhou desconcertado.

— Obrigado, Malfoy, você realmente tem um bom coração. — Ele disse. — Um dia talvez eu acredite nisso que você disse. — Ele disse sorrindo tristemente, se virando e saindo dali.

Draco naquele momento era um turbilhão de sensações. Se sentia mal por ele, feliz demais por si, com raiva de si mesmo por ter magoado Harry e finalmente, arrasado por querer compartilhar algo tão grande com alguém que provavelmente não o queria ver naquele momento.

Em Um Piscar de Olhos | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora