Capítulo 39

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Loren

  Aperto o copo de água em minhas mãos levemente, enchugo os últimos resquícios das lágrimas teimosas que cairam dos meus olhos sem minha permissão, olho para todas aquelas pessoas e pela primeira vez naquela tarde para Marcus, que estava sentado na cadeira de réu mais uma vez, e eu esperava que daquela vez fosse para sempre.

Ele estava de terno mas era possível ver que estava mais magro, com aparência abatida, os cabelos curtos quase raspados, alguns ematomas no rosto, imagino que de alguma briga na prisão ou outro preso que não goste dele tenha feito aquilo, seu olhar não tinha deboche, não havia sorriso ou qualquer resquício de alegria como era de costume, apenas o ódio cru.

- Obrigada por seu depoimento senhorita Immers, pode se levantar.

Balanço a cabeça devagar para o juiz e me levanto em seguida, eu podia sentir o olhar de Marcus em mim, mas não me deixei abalar, segui de cabeça erguida pelo tribunal até a cadeira onde estava sentada antes, Mason tentou me impedir de assistir ao julgamento, mas fiz questão de depor e assistir a tudo, eu precisava, para minha própria paz de espírito.

Marcus me fez muito mau para que eu conseguisse perdoar ou ter algum remorso por alguém que me fez tão mau, e não só a mim, muitas mulheres apareceram para denunciar agressões, estupros e chantagem, muitas delas sofreram os crimes enquanto estávamos casados, outras após a separação, mas nenhuma teve coragem de denunciar, pelo visto elas eram ameaçadas.

Mas depois de tudo o que passei resolvi não mais me esconder, a imprensa ficou louca, o filho de um político tão influente quanto o pai de Marcus envolvido em um escândalo tão grande, foi uma loucura, ainda era uma loucura, fui ameaçada, chamada de mentirosa por alguns fanáticos loucos, mas todo apoio e acolhimento que tive foi muito maior, eu me mantive forte, porque sei que minha força vai inspirar outras mulheres a denunciar qualquer tipo de abuso.

Após a sentença permaneci sentada, enquanto todos comemoravam, sem fiança, regime fechado, júri unânime, não tinha desculpa, não tinha perdão, não havia prova que tirasse a culpa daquele homem, mas ao mesmo tempo em que eu estava feliz me sentia triste.

Marcus tinha um pai rico e influente, poderia comprar testemunhas e virar o jogo a seu favor, mas para o azar dele eu também tinha um pai rico e influente, era como uma briga de titãs e para minha sorte o meu pai não largava o osso, eu queria que ele pagasse e ele iria, mas nem todas as mulheres tinham tanta sorte, nem todas podiam se defender permanecendo reféns de homens abusivos e isso me deixava triste, mas me dava mais forças pra continuar meu trabalho na ONG.

Mason estendeu a mão para mim e fez um carinho em meu rosto, seguimos de mãos dadas para fora do tribunal sendo atacados por uma chuva de repórteres e flashes, quando desci o primeiro degrau alguém atrás de nós gritou meu nome, imediatamente todos pararam e fizeram silêncio, olhei para trás e observei o pai de Marcus parados a alguns passos.

- Você está feliz? Meu filho vai passar o resto da vida na cadeia por sua culpa, você fez isso, ele era um menino feliz e tranquilo e você fez a cabeça dele, agora joga toda a culpa nele, isso não vai ficar assim.

- Senhor Malcross, acho melhor... - Seguro o braço de Mason, eu estava farta daquilo, de ser atacada como se tudo fosse minha culpa.

- Eu não tenho medo de você, estou farta disso, você não pode me intimidar, o único culpado do seu filho ser um monstro é você. - Dou um passo a frente - Você criou ele daquela forma, tudo o que ele fazia comigo era fruto do que ele viu a vida toda, você é um monstro egoísta e sádico, você matou a Charlotte e pra sua sorte não foi encontrado provas para te incriminar, você com certeza comprou toda uma cena de crime mas fique ciente de que eu nunca vou parar, você vai pagar pelo que fez, é antes de culpar qualquer pessoa, culpe a si mesmo.

- Sua garota insolente...

- Fale o que quiser, sei nem que o desespero está tomando conta de você, mas eu não me importo com as palavras de uma pessoa perversa e horrível como você, não me importo com o que você diz ou faz, agora... Se não quiser que eu grite aqui mesmo como você matou sua própria esposa e que mesmo sem provas e sem ir preso sua vida vire um inferno é melhor se afastar de mim e de quem eu amo. - Me viro, mas volto a olhar para ele - E saiba que sua hora vai chegar, mais cedo ou mais tarde, eu vou vinga-la não importa o quanto demore para que isso ocorra.

Me viro e novamente e seguro a mão de Mason para seguirmos nosso caminho, foi quase impossível passar pelo alvoroço de pessoas até chegar no carro, tivemos que contratar seguranças desde que o julgamento começou e mesmo eles tiveram dificuldade para conseguir tirar todas aquelas pessoas de cima para que pudéssemos entrar no carro.

- Você está bem? - Mason pergunta assim que fechamos a porta e balanço a cabeça - Você foi muito corajosa, enfrentou esses homens que te fizeram mau, estou muito orgulhoso, você é uma mulher muito forte.

- Tudo isso... Tem um desgaste emocional tão grande, mas estou cansada de ser fraca, já sofri demais por isso e também tem todas essas mulheres que me mandam cartas, e-mails e mensagens falando o quanto eu as inspiro a lutar, tem ideia de como me sinto bem com as mensagens de apoio e em saber que outras também estão denunciando seus agressores? É um longo caminho mas algum passo foi dado e me sinto orgulhosa delas.

- E eu de você. - Ele segura minha mão e beija o anel no anelar direito - Não vejo a hora de te chamar de senhora White.

- Falta pouco, acho que você aguenta mais uma semana. - Coloco a mão na barriga e faço uma falsa cara de desgosto - Isso se sua filha não me dizer engordar mais e o vestido acabar não entrando em mim.

- Não importa com qual vestido esteja, no final vai acabar sem ele.

- Você não cansa? - Sorrio e ele me olha de um jeito safado.

- De você nunca amor.

Loren - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora