Madhouse (Nosh)

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Sinopse: Josh, um dançarino profissional, passou a achar que possuía alguma doença psicológica ao começar a alucinar com um rosto em específico. Ele resolve então procurar alguma ajuda e se surpreende quando o rosto que ele sempre alucina é na verdade de seu terapeuta.

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Eu não sei em que momento da minha isso começou a acontecer, não sei se foi quando eu comecei a ficar famoso e a perseguição da mídia afetou em algo, não sei se sempre foi assim e eu só notei agora, mas eu tenho alucinações. Eu sempre “vejo” a mesma pessoa específica, o mesmo rosto me atormenta em sonhos e até quando estou acordado.

É um cara, aproximadamente da minha idade, moreno, alguns cachos na franja, olhos verdes, uns dois centímetros mais alto que eu, com um sorriso encantador. Será que eu vejo espíritos ou tô louco? Qual das duas opções e menos assustadora? O mais estranho disso tudo, é que essa “pessoa” não me traz sentimentos ruins não. Quando estou com ele, eu fico em paz. Não sei explicar.

Mas é bizarro, porque eu sei que não é real. Eu sei que não tem um cara no minha academia, que é extremamente gato e sorri reconfortante cada vez que me vê, eu sei que não tem um cara que senta no sofá da sala comigo e fica me observando. Eu moro sozinho, meu Deus!

E foi por esse motivo, que eu procurei ajuda psicológica. Hoje é a minha primeira consulta e eu estou nervoso, nunca fui em um terapeuta antes e eu não sei como isso funciona. Ele vai me mandar para um hospício? Se eu fosse ele, me internaria.

-Josh Beauchamp! -a secretária chama meu nome e eu levanto da cadeira da sala de espera, indicando que sou eu- Pode me acompanhar.

Ando ao lado dela até a sala do meu terapeuta, minhas mãos estão suando frio e eu nem sei porque. Ela abre a porta para mim e eu agradeço a ela com um sorriso, me virando de frente para o meu terapeuta. Bem, eu surtei. Quer dizer, até aqui ele me persegue? Fico quieto, crente que era minha alucinação novamente, só esperando meu terapeuta aparecer.

-Boa tarde! O senhor deve ser Josh Beauchamp!? -e então minha alucinação fala e eu fico mais assustado ainda. Ele nunca falou comigo antes.- O senhor está bem? -se aproxima e eu prendo a respiração. Ele nota e se afasta. -Pode se sentar. -indica a poltrona, a qual eu me sento, ainda tentando entender em que momento minha alucinação começou a falar e está fingindo ser meu terapeuta. -Conte-me sobre sua vida, Josh! -ele está sentado na poltrona frente a minha.

-Por favor, vai embora! Eu não posso parecer mais louco do que já sou. -falo baixinho, tentando tapar meus ouvidos. A feição dele diz que ele não entende nada. Eu também não estou entendendo nada, alucinação.

-Eu não estou aqui para julgar você, não vou achar que você é louco. Então só converse comigo. -ele sorri, daquele jeito que sempre sorri. Espera... Ele é real? Me ajeito na poltrona e me estico até tocar o braço dele, que se assusta e afasta assim que sente o toque. Ele é real! E tem o mesmo rosto da minha alucinação.

-Desculpe! -afasto a minha mão, colocando sobre meu colo e olhando para baixo. Se ele é meu terapeuta, teve péssima impressão de mim agora- É só que eu acho que estou ficando louco, mas eu não quero ser internado.

-Você não vai internado. -me garante. Olho novamente para ele, me certificando que é o rosto da minha alucinação ali. Mesmos olhos, mesmo cabelo, mesmo sorriso, mesmo formato do nariz, se duvidar, mesma altura.

-Eu venho tendo alucinações. -conto e ele começa a anotar alguma coisa- É sempre a mesma pessoa. Sempre o mesmo rosto.

-E como você se sente ao ver essa alucinação? -ele não demonstra nenhuma reação, tipo o rosto dele está imparcial.

-Eu não sinto medo, não sinto nada ruim. É como se fosse bom. -mordo o lábio e olho para baixo. É estranho falar sobre “alguem” para a pessoa que é igual a esse alguém. Levanto o meu olhar e ele está me olhando, com aqueles olhos verdes que eu conheço. -Só que eu sei que é coisa da minha cabeça.

-Certo... -ele se ajeita na poltrona, ainda me olhando- E como você tem certeza que é coisa da sua cabeça?

-Porque... Eu sei que moro sozinho, não estou totalmente louco. Eu sei que não tem ninguém assim na academia que trabalho. Nunca trabalhei com alguém assim. -omito a parte que a minha alucinação é igual a ele.

-Hum... -olha para a prancheta dele e depois de volta para mim- E como é essa pessoa? -puta merda!

-É um garoto...

-Você já viu o rosto dele antes? -nego com a cabeça.- Algo mais?

-Ahn... -engulo em seco e respiro fundo. Preciso contar isso- Ele é... -olho para ele- Igual a você. -e então eu vejo a primeira reação dele, de surpresa.

Ele não sabe o que falar, porque olha para o lado e abre a boca diversas vezes. É, eu também estou assim desde que entrei aqui. Me atiro para trás na poltrona, suspirando alto e olhando para o teto.

-Eu... Eu nunca vi um caso assim antes, preciso ser sincero. -ele fala meio baixo- Eu nem devia falar isso, mas nunca estudei isso.

Volto a olhar para ele, que também me olhava. A sala está um silêncio, nenhum de nós sabe o que falar e está até um clima constrangedor.

-Então foi por isso que você reagiu daquela forma quando entrou. -assinto- Isso pode ser um problema.

-Como assim? Você disse que eu não ia ser internado. -me desespero.

-Não! Você não vai ser internado. -respiro aliviado- É só que... Eu não posso atender você, se o rosto que você vê sempre é o meu.

-E o que eu faço?

-Talvez achar outro terapeuta, não sei. -ele dá de ombros. É, eu vou ter que fazer isso. Não posso continuar com uma pessoa com o rosto igual da pessoa da minha imaginação, como meu terapeuta.

(...)

Meus planos eram encontrar outra terapeuta e Noah, o que tem o rosto igual a minha alucinação, até me recomendou alguns. Só que, de alguma forma, eu parei de ter alucinações. Será que eu estou curado?

Enfim, eu estou vivendo a minha vida tranquila... Na verdade, eu sinto falta da minha alucinação, eu procuro ele em todos os lugares, queria vê-lo novamente. Mas isso deve ser até eu me acostumar, eu sei disso. Eu não sou louco por querer ser louco, não é?

-Senhor! -alguém me cutuca e eu paro para observar quem é. Eu me distrai e não percebi que já era a minha vez na fila da sorveteria. O que está acontecendo comigo? A atendente olhava para mim curiosa e eu fico perdido- O que o senhor deseja?

-E-eu... -olho para o balcão. -Quero um milkshake de chocolate! -peço e ela sorri, indo fazer. Olho em volta, procurando onde iria me sentar e me surpreendo quando o vejo no canto da sorveteria, mexendo em um notebook. É ele mesmo ou eu voltei a ter alucinações?

Eu preciso tirar a prova de que ele é real, mas como? Pago meu milkshake e caminho em direção a mesa dele, mas me sento na do lado. Ele parece muito concentrado e não me vê... Será que eu voltei a ter alucinações com ele? Por que eu estou feliz com isso se tudo que que queria antes era não ver ele?

Me remexo no banco e finjo uma tosse, dessa vez ele me ouve, porque olha para mim e eu vejo o reconhecimento passar pelos olhos dele. Ele é lindo! Como a minha imaginação era.

-Josh? -pergunta e eu tenho certeza que é o Noah. Puts, agi como um maluco que vergonha.- Está tudo bem?

-Oi Noah! -me sento na mesa dele, não me importando que ele não me convidou. Ele também não parece se importar, pois sorri e fecha o computador, prestando atenção em mim- Estou bem e você?

-Estou bem... Surpreso por encontrá-lo aqui. -concordo com a cabeça, olhando para baixo.- É perto de onde você trabalha? -assinto- Vou vir mais vezes aqui então.

Espera... Isso foi um flerte? Eu entendi direito? Ou é o meu cérebro me pregando peças? -Estava trabalhando?

-Mais ou menos. -responde e toma um gole do milkshake dele. A boca dele fazendo biquinho é linda e adorável. Posso beijar ele sem parecer maluco?- Continua me enxergando por aí? -fico vermelho.

-Não... Desde que eu fui no seu consultório, nunca mais alucinei.

-Você nunca me disse, mas como você me imaginava? -franzo o cenho, não entendendo- O que eu fazia?

-Ah, ficava parado como uma assombração e tinha vezes que eu sonhava... -me interrompo. Falar dos sonhos é mais vergonhoso ainda, já que nesses sonhos fazíamos algumas coisas.

-Sonhava? -eu e a minha mania de falar pelos cotovelos, me meto em cada enrascada.

Fico pensando em uma maneira de sair dessa enrascada, olhando para a mesa. Meu cérebro está gritando um alerta vermelho e eu tenho que pensar em uma desculpa. Sinto o dedo dele tocar meu mindinho que estava em cima da mesa, me fazendo sentir um arrepio dos pés a cabeça. Olho para o rosto dele, aquele rosto que eu imaginei por meses e agora está na minha frente, em forma de ser humano. É como se eu tivesse um homem perfeito nos meus sonhos e eu me apaixonasse por ele... E então eu encontro ele real. Eu sou apaixonado pela o homem que criei na minha mente e via tanto acordado, como dormindo. Ele é igual a esse homem e está flertando comigo, eu seria louco de tentar?

-Josh? -a mão dele segura toda a minha mão e eu suspiro.

-Quer sair comigo? -pergunto de uma vez. Ele fica surpreso e recolhe a mão, acho que entendi os sinais errados e ele não é como o homem que eu criei na minha mente- Eu...

-Eu quero! -sorri- Você não é mais meu paciente de qualquer forma. -dessa vez sou eu que sorrio- Ainda bem que foi você a convidar... Eu tinha medo de eu chamar você para sair e você negar porque não aguenta mais ver o meu rosto.

-Eu sinto falta de ver seu rosto sempre. -depois que que falo, fico com vontade de me bater. Josh Beauchamp, comece a pensar antes de falar!

-Bom saber!

(...)

Ok! Sem Pânico! Eu vou sair com um cara... Tudo certo! Não, não tá tudo certo. É o cara que eu tecnicamente sou apaixonado sem conhecer. Minha vida é estranha. Sem surtos... Eu tô surtando!

-Josh, é só respirar. -falo para meu reflexo- Ele vai ser como o homem que você sonhou e você vai realizar tudo aquilo que sonhou. -sorrio malicioso- Vou sair da seca, amém! -faço um sinal da cruz.

Saio de casa, entrando no carro e indo até a direção do endereço que ele me mandou por mensagem. Depois do nosso encontro na sorveteria, onde ficamos conversando por horas, ele me passou o número dele. Durante toda a semana, mantemos o contato online e ele era muito diferente do Noah psicólogo, muito divertido e vive contando piadas. Talvez eu esteja gostando do Noah real, mais do que o que eu imaginava.

Ao chegar na casa dele, buzino e saio da carro. Respiro nervoso e tento não surtar. E até que eu fico tranquilo, até ver ele sair de casa, lindo e me fazendo a desaprender a respirar. -Oi Josh! -deixa um beijo na minha bochecha, bem perto da minha boca.

-Oi! -volto a respirar, piscando os olhos rápido- Está muito bonito! -ele sorri e continua próximo de mim. Eu nunca imaginei o perfume dele, mas é bom, muito bom!

-Continue me elogiando dessa forma e talvez... -coloca a mão no meu peitoral- Talvez a gente realize algumas coisas que você sonhou comigo mais tarde.

-Como você sabe? -pergunto de olhos arregalados e ele ri.

-Bom, dava para ver no seu comportamento. -se afasta- Vamos? -assinto, abrindo a porta do carro para ele e entrando no meu lado.
Noah é psicólogo, então ele vai saber quando eu mentir ou sei lá... E isso deixa ele mais atraente ainda, a forma como ele me desvenda só me observando. Acho que tenho um fetiche por psicólogos.

-Onde vai me levar? -pergunta, se ajeitando no banco para me observar.

-Não posso contar. É segredo! -coloco o dedo na frente dos lábios e ele ri. A risada dele também é bonita. Tudo nele é bonito!- Sua risada...

-Estranha, eu sei.

-Não... Pelo contrário. Ela é linda!

-Ok, para esse carro! -não entendo, mas resolvo obedecer. Será que eu fiz algo errado? Eu não devia ser tão boiola e elogiar ele tanto.

-Me desculpa se... -ele tira o cinto e sinto tudo indo pelos ares. Meu encontro acabou em menos de vinte minutos.- Eu posso deixar você em casa e...

-Você fala demais. -ele puxa meu rosto em direção ao dele e me beija. Eu não esperava por isso, não mesmo. Eu fico tão surpreso, que demoro a tomar a iniciativa de aprofundar, mas quando finalmente acontece, me sinto no céu.

Eu tô beijando o homem que eu imaginei... Não, melhor ainda. Eu tô beijando o homem que eu sempre quis beijar e não sabia que existia. Nossas bocas parecem encaixar e eu fico pensando se tudo isso não foi destino. Eu começar a imaginar ele e depois procurar um terapeuta, por achar que estava louco, quando na verdade, era sempre ele.

Ou será que isso é mais um sonho?

Me afasto do beijo e olho para os olhos dele. Ele me observa com atenção e eu sinto que ele me conhece por inteiro. -Eu estou sonhando novamente? Você é real? -Noah não responde, só me puxa para me beijar novamente, apertando a minha cintura no meio do beijo e mordendo meu lábio. Eu senti isso, é real!

-Você não está louco, Josh! -ele fala, ainda de olhos fechados, como se estivesse aproveitando o sabor dos meu lábios- Você nunca esteve louco. Eu não sei explicar o que aconteceu, mas talvez... Era para ser assim? -abre os olhos e brinca com os meus lábios, deixando alguns selinhos- Quando você apareceu no meu consultório, eu senti uma coisa diferente. Lembro que eu pensei “Droga! Ele é tão bonito e é meu paciente”, logo me repreendendo por ter pensado nisso e ter ido contra a minha ética.

Sorrio, prestando atenção na “declaração” dele.

-Você parecia assustado e eu sentia vontade de proteger você, eu me senti afetado. Eu não podia me sentir daquela forma. -sobe as mãos até a minha nuca, fazendo um carinho naquela região- Você falou que tinha alucinações comigo e por um momento eu fiquei feliz que você já me conhecia. Será que na verdade, estamos os dois loucos? Em conjunto?

-Se for pra termos isso aqui... -desenho todos os traços do rosto dele, o rosto que eu tanto conheço, com as pontas dos meus dedos. Ele é real e é meu. Não ainda, mas vai ser.- Eu aceito ser louco com você.

-Eu estou apaixonado por você, Josh! -me surpreendo- É cedo? É! Mas é verdade e eu acho que você se sente da mesma forma.

-Assim não tem graça. Como eu vou me declarar se você já sabe tudo que eu penso por ser psicólogo? -ele ri e deixa um beijinho na minha boca.- Sim, Noah, eu também estou apaixonado por você. Sempre fui, desde que você era alucinação. O você real, é mil vezes melhor. Então, aceita embarcar nessa loucura comigo?

-Aceito!

(...)

E foi assim que eu me apaixonei duas vezes. Uma pela minha alucinação, outra pelo meu terapeuta, que eram a mesma pessoa. Eu não sou louco, nem ele é louco. Acho que é destino... Almas gêmeas? Pode ser!

-Eu vou enlouquecer! -Noah, meu namorado e terapeuta nas horas vagas, fala. Estamos na minha casa, quase dele já que ele dorme aqui quase sempre, e ele está tentando achar um tema para a tese do mestrado dele. Não entendo muito desse mundo, já que sou um simples dançarino, mas estou dando apoio.- É sério, Bae! Eu vou desistir... Não consigo pensar em nada.

-Ei, amor! Você não batalhou tanto para desistir no final. -ele faz um biquinho fofo com os lábios. Totalmente diferente do terapeuta sério que eu “conheci” aquela vez. Beijo o biquinho dele porque não resisto a esse homem.

-Talvez eu faça como todo mundo e fale sobre psicanálise. -puxa o notebook para o colo, deitando a cabeça no meu ombro e encarando a página do Word em branco.

Nunca mais eu tive alucinações com ele. Até porque eu tenho ele real e vivo comigo sempre, posso beijar ele quando eu quiser, posso conversar com ele quando eu quiser, posso abraçar ele quando eu quiser, posso ver ele quando eu quiser.

-É isso! -a ideia vem na minha mente. Se eu estivesse em um desenho, uma lâmpada teria acendido em cima da minha cabeça- Você pode escrever sobre a gente. É um caso curioso e não existem trabalhos iguais.

Noah olha para mim e sorri largo, me beijando com paixão. -É por isso que eu te amo! Você tem as melhores ideias do mundo! -fala após o beijo que me tirou o ar.

Se eu for louco, não me importo. Eu estou com a pessoa que amo.

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