Um pedido absurdo (prólogo)

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       Era por volta das oito da noite. Ventava muito. Enquanto as luzes artificiais dos postes clareavam as pistas, o céu estrelado e a lua gorda iluminavam o prédio de quarenta andares, de uma das maiores empresas realizadoras de casamentos do país, localizado no centro da cidade de Nova Évora. No terraço, Adriana tentava ultrapassar o muro de proteção enquanto Olívia a segurava.

"Não acredito que estou fazendo isso.", a segunda resmungava.

"Obrigada, Olí, você é demais!", disse a amiga, sem tirar os olhos do resto estreito de chão que ainda sobrava. Com uma luneta, observava o movimento dos astros.

"O que fazemos agora?", Olívia olhou para cima, enquanto suas mãos seguravam o muro como se ele fosse desmoronar.

"Passe para o lado de cá."

"Eu não vou pular o muro, tenho uma família.", o vento bagunçava seu cabelo loiro bem cuidado. Tentava pôr as mechas fujonas para atrás da orelha, mas o sopro forte do céu desfazia tudo.

"Olí, essa é a nossa chance. Vamos, antes que ela apareça!"

Olívia, então, achando-se completamente estúpida por haver aceitado a ideia da amiga de estar ali, mas cogitando a possibilidade de concluir o plano, pisou em um dos dois banquinhos de madeira que as duas haviam encontrado na empresa e passou a perna sobre o muro, com dificuldades, por estar de saia.

"A gente tem mesmo que subir nisso?", questionou, já sabendo a resposta.

"Pare de ser cagona, Olívia.", Adriana olhou no relógio. "Em dois minutos ela vai passar."

"Isso é ridículo. Como que eu arriscando a minha vida vou conseguir ter uma nova?", murmurava enquanto tentava se equilibrar sobre a marquise.

"Se ficar resmungando não vai acontecer", ressaltou a outra. "Além do mais, estar sem nenhum tipo de proteção ao nosso redor nos ajuda na concentração. Olhe para baixo. Não parece que estamos voando?"

Olívia se arriscou e seguiu o conselho. Conseguia ver os carros passando pela avenida rapidamente. Sentiu um medo percorrer todo o seu corpo.

"Ok, agora olhe para cima", pediu a amiga. "Ela já está chegando!", ao se virar para Olívia, Adriana colocou sem perceber um dos pés mais à frente e se desequilibrou, conseguindo se agarrar no muro.

"Adriana, chega, é perigoso!", Olívia se virou com dificuldades e já se preparava para voltar para o lado seguro do terraço.

"Olí, ela está vindo, vira para a frente!", Adriana voltou com a concentração para o céu. "5, 4, 3, 2... "

Com a contagem regressiva, Olívia conseguiu, ainda de costas, olhar para cima. Conseguiu avistar uma estrela cadente e se sentiu um tanto decepcionada quando percebeu que as duas arriscavam a própria vida para ver algo tão... simples.

"Feche os olhos Olí! Faça um pedido!", gritou Adriana, de olhos fechados.

Sem muito tempo restante, Olívia, agarrada ao muro, de costas para a avenida, apertou bem os olhos. Sabia já exatamente o que pediria. Embora não estivesse acreditando muito que poderia funcionar, ela não tinha nada a perder. Se nada acontecesse, seguiria a vida normalmente. Se acontecesse, seria a melhor coisa que poderia lhe passar. Sentiu uma animação inesperada. Será que funciona mesmo?

"Pode abrir o olho! Fez o pedido?", perguntou a amiga, extasiada!

"Eu não entendi", pisou no banquinho que já havia preparado para voltar ao terraço. "Viemos para ver isso?"

"Você está amarguíssima, amiga.", rebateu Adriana.

"Você me faz fazer cada coisa."

"Vai funcionar, você vai ver."

"Vai sim", respondeu irônica enquanto ajudava Adriana a voltar também.

"O que vamos fazer agora? Quer tomar um bom champanhe?", sugeriu a amiga, ainda animada.

"Só quero saber o que você pediu.", disse Olívia, pegando um banquinho enquanto a Adriana segurou o outro.

"Só saberá quando acontecer,", virou-se para Olívia "Você também tem que me prometer que vai me contar quando acontecer o seu, hein."

"Está bem.", a loira revirou os olhos.

Após a arriscada aventura, as duas foram para a casa de Adriana e tomaram algumas taças de Moet Chandom Brut Imperial Jeroboam. As horas foram passando e Olívia considerou já ser muito tarde para voltar para casa sozinha. Avisou à família, dormiu no quarto de hóspedes, seguiu com a vida. E, da mesma maneira que o dia anterior tinha ficado para trás, o assunto dos pedidos também ficou. E não mais falaram sobre ele.

Além de mim (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora